segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Principais divindades da mitologia japonesa

Izanagi e Izanami

Um casal, que gera todos os outros kamis do mundo, mas quando chega a vez dos kamis do fogo, eles se tornam tão ardentes que matam Izanami. Ela, prometendo retornar, diz que vai para o Submundo e que lá ele não poderia ir, tendo de esperar. Izanagi espera, mas depois de muito tempo resolve quebrar a promessa e vai atrás de Izanami. Chegando no Submundo, vê ela dando luz a vários demônios, enquanto é comida por larvas. Ela, percebendo a audácia de seu marido, manda os demônios o perseguirem. Fugindo dos demônios, Izanagi pega o seu pente de ossos que usa para prender o cabelo e o quebra, jogando seus pedaços no chão. Os demônios, famintos, devoram os brotos de bambu que surgiram do pente. Izanagi foge dos demônios, e rolando uma pedra enorme, os prende no Submundo. Izanagi fica furioso por Izanami lhe trair, que usa os poderes do sol e destroi todos os demonios.

 Amaterasu e Susano

Susanowo, descontente com o império dos oceanos, faz grandes patifarias à irmã, a ponto de a fazer fugir para uma caverna, deixando o mundo na escuridão. Todos os outros kami, reunidos, concebem então um plano para a fazer sair. Com grande alarido, gritos e risos, despertam a curiosidade da deusa solar, que a leva a entreabrir a entrada da caverna. Atraída por um espelho colocado à sua frente, acaba por sair, sendo então fechada a caverna, para a impedir de que entrasse novamente. Garantida de novo a luz, Susano é condenado a pagar uma multa e a ser desterrado dos céus. Mais tarde, ele arrepende-se e acaba por presentear a irmã com um esplêndido sabre encontrado no corpo de um dragão.
Susano querendo ir ao Ne no Kuni, onde Izanami está, chora e grita causando um grande estrago no universo. Susano sobe então ao Takaamahara com seu dragão kuronaya,Takaamahara é governado por Amaterasu e foi chamar a mesma para ir buscar a mãe. Amaterasu pensando que Susano quer o Takaamahara para si, pega seu arco e flecha e vai ao encontro de Susano.
Susano propõe um uquei para provar que suas intenções são boas. Amaterasu concorda. Primeiro, Amaterasu pega a espada de Susano e a mastiga. Da fumaça expirada por Amaterasu nascem três deusas, as Munakata Sanjojin. Então, Susano pega um colar de jóias de Amaterasu e a mastiga. Da fumaça expirada por Susano, nascem cinco deuses, todos homens.
Amaterasu diz que os deuses que nasceram por último (homens) foram feitos a partir de um objeto seu, portanto são filhos dela. Amaterasu afirma também que as deusas que nasceram antes são filhas de Susano. Todos os deuses dominavam cada um elemento da criação e da destruição, as deusas mulheres uma dominava o ar,outra a luz e a outra a natureza,dos deuses pois o criou usando seu poder e seu rancor mas suas filhas imploram que ele não o destrua então Amaterasu pede que seus filhos purifiquem o dragão, Susano faz o mesmo. Então o dragão é purificado e deixa de ser kuronaya para se tornar shironaya . Susano prova que seu coração é puro porque suas filhas são gentis deusas. Assim, Amaterasu perdoa Susano.

 Izumo

Susanowo desce a Izumo nas proximidades de um rio hoje conhecido como Hiikawa. Lá, Susanowo percebe hashis sendo carregados pela correnteza e decide subir o rio. Susanowo encontra o casal de idosos Ashinajichi e Natejichi chorando. O casal tinha oito filhas, porém o monstro Yamata no Orochi vinha uma vez por ano e comia uma de suas filhas. Sua última filha, Kushinadahime estava prestes a ser devorada. O casal então promete a mão de sua filha se Susanowo exterminasse o monstro. Susanowo mata Yamata no Orochi, se casa com Kushinadahime e constrói um castelo para morar com ela.
Um dos descendentes de Susanowo, Ookuninushi, se casa com Suserihime, filha de Susanowo. Ookuninushi e Sukunahikona desenvolvem o Ashihara no Nakatsu Kuni criando as regras da agricultura, medicina e magia.

 Tsukuyomi

Tsukuyomi ou Tsukyiomi, também conhecido como Tsukuyomi-no-kami, é o deus da lua no Shintoímo e na mitologia japonesa. O nome Tsukuyoi é uma combinação das palavras japonesas lua/mês(tsuki) e "ler;contar"(yomu). Outra interpretação de seu nome é a combinação de "Noite iluminada pela Lua" (Tsukiyo) e um verbo significando "Olhando para"(miru). Ainda outra interpretação diz q o kanji para "arco"(弓, yumi) foi corrompido com o canji para "yomi". "Yomi" Também pode se referir ao mundo subterrâneo, apesar desta interpretação não ser bem aceita.
Tsukuyomi foi a segunda das "Três nobres crianças" nascidas quando Izanagi, o Deus que criou a primeira terra, Onogoro-shima, estava se purificando dos pecados enquanto se banhava depois de escapar do mundo subterrâneo e das correntes de sua enrraivecida esposa, Izanami. Tsukuyomi nasceu quando Izanagi o lavou de seu olho direito. De qualquer forma, em uma história alternativa, Tsukuyomi nasceu de um espelho feito de cobre branco na mão direita de Izanagi.
Depois de subir a escada celestial, Tsukuyomi viveu no "paraiso", também conhecido como Takamagahara, com sua irmã Amaterassu, a Deusa do Sol.

Fonte: Wikipédia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Jardim Japonês

Um espaço livre do estresse, onde é possível sentir a paz, meditar e contemplar o espetáculo proporcionado pela natureza. Assim é o jardim japonês, cuja origem data do século XIV, seu surgimento está relacionado à necessidade de criar espaços especiais onde os monges zen-budistas, saídos da China para o Japão, pudessem fazer suas orações e meditações.

O jardim japonês possui um ar espiritual onde reina a harmonia e, quem entra nesta atmosfera tem a nítida impressão de estar num templo de meditação. A espiritualidade está por toda parte, seus elementos indispensáveis representam a vida, proporcionando sensações de paz e tranqüilidade.

Os jardins fornecem o equilíbrio para a mente dos japoneses que procuram a paz e a tranqüilidade, geralmente são formados por contrastes como liso e áspero, horizontal e vertical, isso porque acreditam que estes contrastes estimulam a mente a encontrar seu próprio caminho a perfeição.

Os aspectos visuais como a textura e as cores, em um jardim oriental são menos importantes do que os elementos filosóficos, religiosos e simbólicos. Estes elementos incluem a água, as pedras, as plantas e variados acessórios. Vejamos a seguir a composição básica de um jardim japonês:

Lanterna de pedra (TORO) – Seu significado é a iluminação da mente de quem percorre o jardim, induzindo-nos à concentração. Os pontos de luz são estrategicamente distribuídos para não ofuscarem a visão. Todas as lanternas têm os mesmos elementos básicos: telhado grande, um compartimento aberto e três ou quatro pernas, a simplicidade fica por conta da textura rústica da pedra.

Dizem que, originalmente, elas eram usadas para iluminar as entradas dos templos para os cerimoniais do chá feito às escondidas de noite.

Lago com carpas (KOI) – A água representa a vida, enquanto que as carpas são símbolo de fertilidade e prosperidade. Seu colorido adiciona movimento ao jardim, ou seja, são a representação das flores vivas – as flores não são utilizadas nos jardins japoneses, pois se transformam rapidamente. A carpa é considerado o peixe “rei do rio” e é respeitado pela sua habilidade para nadar rio acima e pela sua determinação em superar obstáculos.
Fonte (TSUKUBAI) – Quando o elemento água não existe no jardim japonês, sua representação é feita por desenhos em pedriscos ou ainda por uma espécie de cuba com água (tsukubai), originário das cerimônias do chá, que representa o ritual simbólico de lavar as mãos para purificar-se antes da meditação no jardim.

Cascata com pedras – O centro do jardim. Além de oxigenar a água, a cascata significa a continuidade da vida. E, como a vida, ela segue um ciclo representado pela intensidade da água, ou seja, desde as ondas até um simples murmúrio de água correndo é a simbologia da mudança que ocorre em nossas vidas. O fluxo da água simboliza o nascimento, o crescimento e a morte.

As posições das pedras, geralmente em números ímpares, são uma analogia da formação do homem e a sociedade: a princípio estamos sós, depois em grupo (como pai, mãe e descendentes). A pedra colocada em posição vertical representa o pai, e na horizontal a mãe. As outras pedras simbolizam os descendentes, sendo estas distribuídas em torno do lago.

Caminho ou trilha (TOBI ISHI), Ponte (TAIKO BASHI) – Uma ponte ou um caminho dentro do jardim, representa a evolução para um nível superior em termos de engrandecimento, amadurecimento e auto-conhecimento, enquanto a flexibilidade do bambu, conduz a capacidade de adaptação e mudança.

Bambu – O bambu participa freqüentemente da idéia taoísta segundo a qual se deve ceder a situações ou condições externas, para melhor triunfarmos na vida. Seus galhos são amarrados de forma que a planta cresça se curvando para o lago, como em reverência e respeito àquele que aprecia o jardim. É a imagem do bambu, que resiste a verga sob o rancor da tempestade, para em seguida voltar e erguer-se e aparecer novamente em todo seu esplendor. A eles são amarrados também sinos do vento e os macacos de cerâmica que trazem o som da natureza e a felicidade.

Plantas e arbustos – Os arbustos com formatos (topiaria) garantem um efeito de escultura ao jardim e, para a cultura japonesa o paisagismo é uma das formas mais elevadas de arte, pois consegue expressar a essência da natureza em um limitado espaço.
Como cada elemento do jardim japonês tem seu significado, as flores não são usadas – vide item sobre as carpas – chegaram até mesmo a ser consideradas sinais de frivolidade devido a sua rápida transformação. Enquanto isso, as árvores e arbustos representam o silêncio e a eternidade. As mais utilizadas são a sakura (flor de cerejeira), o momiji (acer) e a sazanka (camélias).

A flor de cerejeira tem um significado especial: é conhecida como a flor da felicidade. A sua floração é comemorada no Hanami, nos meses de março e abril. É o momento de sair da introspecção do inverno e se abrir para o mundo, florescer o espírito e festejar.

Ao contrário do festejo e da alegria que o Hanami proporciona - o florescimento do sakura - a visão da queda das folhas do momiji, acer vermelho, revela um aspecto melancólico e reflexivo da personalidade japonesa. Para eles apreciar as cores da queda é tão importante quanto as do florescimento.

Tais princípios, aqui relacionados, nos ajudam a compreender melhor os aspectos de um jardim japonês. Obviamente não querem dizer uma só coisa, pois podem ter significados correlativos ao mesmo tempo. Um princípio está ligado a outro, o sentido se faz através do conjunto: assimetria, maturidade, simplicidade, naturalidade, sugestivo, transcendência do convencional e serenidade, estas são as bases que norteiam os projetos dos jardins japoneses, não esquecendo, é claro, do eterno e espírito.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Feng Shui - harmonização de ambientes

O conceito do Feng Shui (do chinês vento e água) é milenar e tem por objetivo harmonizar a energia vital das pessoas e dos ambientes. Para isso, a decoração de casas, escritórios e vários outros lugares pode ser feita de maneira a favorecer a circulação do ch’i, ou seja, da energia vital. Por isso o nome Feng Shui: a energia que flui como o vento e corre como a água.
De acordo com os preceitos do Feng Shui, a posição da mobília e as cores usadas nas paredes e nos objetos podem contribuir para dar novos ares a sua casa, diminuindo, por exemplo, os níveis de estresse da sua família. Para tanto, é necessário prestar atenção para realizar mudanças visando ao equilíbrio de cada ambiente de seu imóvel. “É necessário considerar o aspecto ou a área da vida na qual a pessoa está com mais dificuldades, este deve ser o ponto de partida para a análise segundo o Feng Shui”, explica a consultora Tina Simão. “A intenção é curar, melhorar aquilo que está mais visível ou mais difícil primeiro”.
Escolas
Como auxílio nessa tarefa, os chineses criaram uma espécie de mapa chamado Ba-guá (veja ao lado), em formato octogonal, no qual cada uma das oito casas corresponde às áreas do Trabalho, dos Relacionamentos, da Espiritualidade, do Sucesso, dos Amigos, da Prosperidade, da Criatividade e da Família; o centro corresponde ao yin/yang e também à saúde da casa e dos moradores. “Trata-se de um mapa usado na Escola de Feng Shui do Chapéu Negro, a mais conhecida e divulgada, também chamada de Escola Intuitiva”, esclarece Tina. O mapa é utilizado como uma espécie de bússola, que norteia os limites da casa de acordo com as oito áreas abordadas.
Segundo Tina Simão, decorar uma casa seguindo os preceitos do Feng Shui pode refletir bons resultados não só em termos estéticos, como também na harmonia do ambiente e no bem-estar de seus moradores. “A harmonização das áreas mais afetadas e, mais tarde, de todo o ambiente resulta na mudança de energia geral, na saúde dos moradores e no aumento da prosperidade e das oportunidades de trabalho e negócios”, revela Tina Simão. Pode-se usar o Feng Shui para buscar uma melhora específica pela decoração e a harmonização dos ambientes.
Opções econômicas

Na cozinha, o verde das plantas associa-se ao
uso da madeira na mesa e no chão
Entretanto, em tempos de dinheiro curto, é preciso ser ponderado na hora de abrir a carteira. A consultora explica que é possível trabalhar com conceitos do Feng Shui em casa, mesmo não dispondo de muito dinheiro para gastar e, o melhor, de forma simples. “Não há necessidade de fazer grandes compras ou jogar todos os móveis fora; na maioria das vezes, a mudança de posição de objetos, plantas e móveis de lugar já proporciona a harmonização”, ensina. A escritora e consultora de Feng Shui Helen Spalter também dá dicas para a organização de ambientes: “Casa limpa é mente limpa. É preciso livrar-se de objetos quebrados, elementos não mais utilizados, cuidar de vazamentos, entupimentos e infiltrações, problemas que geram perdas financeiras”.
Outro ponto fundamental a ser analisado no momento da decoração são as cores. De acordo com o Feng Shui, as cores frias são boas para quartos e locais de relaxamento e oração; as cores quentes são reservadas para os ambientes mais sociais. “Para os quartos de dormir, as melhores cores são o verde e o azul, podendo-se colocar algum detalhe vermelho no quarto do casal para incentivar o romance. Em salas de visitas e de jantar, é preferível o uso de cores quentes, como o amarelo, o laranja e o vermelho. Escritórios ou áreas de estudo pedem a cor amarela, que ativa a mente”, exemplifica Tina Simão.
Os elementos de decoração caseira estão, de alguma forma, ligados aos cinco elementos destacados pelo Feng Shui: a madeira, o metal, a água, a terra e o fogo. “O ideal é a busca de proporção na utilização dos cinco elementos”, pondera Helen Spalter. “A madeira está relacionada à cor verde, às plantas e aos elementos cilíndricos; o metal, aos objetos ovalados, à cor branca, ao aço e ao inox; a água, ao vidro, ao espelho, às fontes de água e ao preto; a terra, aos elementos quadrados e à cor amarela; e o fogo, às velas, ao triângulo e à cor vermelha”, finaliza.

Serviço:
Tina Simão
, consultora especialista em Feng Shui, Reiki, Cromoterapia e Aromaterapia - Tel.: (11) 4238-8619
Helen Spalter, escritora e consultora de Feng Shui – Tel.: (11) 5055-0249

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Saquê


O que há de tão especial na bebida alcoólica obtida com a fermentação do arroz, que comparativamente ganha de longe até mesmo do vinho, no quesito tradição? Essa e outras perguntas já devem ter passado na cabeça de muita gente quando se ouve falar na milenar bebida japonesa: o saquê.
Famosa por estrelar diversos filmes ao lado celebridades de Holywood, como no recente “ O Último Samurai”, a bebida um dia já foi considerada alimento. Em meados do século V a.C., no período Nara, os produtores não conheciam técnicas apuradas de fermentação, e o saquê era feito com pouco álcool e água, em uma combinação que mais lembrava uma porção de mingau do que outra coisa... Nessa época, “comia-se” o saquê de hachi, direto de uma tigela. Na verdade, tudo era o resultado de uma receita com pormenores um tanto repulsivos: mascava-se o arroz para fermentá-lo com a saliva e depois cuspia-se em tachos para só então iniciar o preparo da bebida. Esse método era chamado de “Kuchikami no sake”, ou saquê mastigado na boca. Já na província de Hokkaido e em áreas rurais de Okinawa, os fãs da bebida encontraram outras maneiras de “purificar” esse processo, determinando que apenas as jovens mulheres virgens poderiam mastigar o arroz, pois elas eram consideradas representantes dos deuses aqui na terra. Logo não demorou, e a bebida produzida por elas foi batizada de “bijinshu”, saquê de mulher bonita. E por incrível que pareça, essa prática sobreviveu até poucos séculos, mesmo após a adoção de técnicas mais modernas de fermentação.
Diz a lenda que a fermentação da bebida foi descoberta por acaso: “Certo dia, um cidadão desleixado esqueceu de tampar um tacho de arroz que cozinhará e o arroz acabou mofando. E como ele era realmente desleixado, também o esqueceu de jogar fora e só depois de alguns dias “notou” que havia ocorrido uma fermentação e o arroz então, transformara-se em uma deliciosa bebida, na verdade mais pastosa do que líquida. A total falta de cuidado do cidadão, acabou se transformando então, em um método e os produtores descobriram que o fungo que mofara o arroz era o responsável pela transformação do amido em glicose e fermento. Logo, o fungo ganhou nome “kamutachi” e não demorou muito para que os produtores divulgassem que a bebida era “produzida pelos deuses”.
Até o século passado, o saquê ainda era produzido artesanalmente, onde o arroz era primeiro lavado e depois colocado em tinas (vasos gigantes) para cozinhar. E após esta etapa de fermentação, a pasta resultante era ralada e só então, misturada manualmente até chegar ao produto final. No entanto, atualmente os grandes fabricantes japoneses ainda utilizam métodos que lembram esse antigo processo. E hoje, o saquê é feito em grande escala industrial e não há mais vestígios do romantismo do passado. Pelas leis do país, a produção caseira da bebida é proibida.
E como os tempos mudam, o “kamutachi” também mudou de nome e hoje é conhecido como “koji”. E é ele quem determina o aroma e o gosto do saquê, uma difícil tarefa para os “tojis”, pois eles que escolhem o fungo que garantirá um sabor ainda mais especial à bebida. O que permanece inabalável, no entanto, é a popularidade do ritual.
Beber saquê é um ritual no país, e existem várias razões pelas quais a bebida é apreciada, que vão muito além do paladar, sede ou disposição para encher a cara. Segundo a tradição, bebe-se saquê para eliminar as preocupações e prolongar a vida, e isto por si só, vale qualquer dose a mais. Pega até mal chamar de bêbado quem toma saquê de forma exagerada e sai cambaleando de madrugada pelas ruas das cidades japonesas. Inebriado talvez fosse a designação correta, uma vez que os efeitos da bebida transformam seus apreciadores em cantores, galanteadores e seresteiros ao luar nas noites nipônicas.
No Japão, costumam-se dizer que o saquê é o melhor companheiro na solidão. Só não se pode toma-lo em qualquer copo ou em qualquer ocasião. Bebe-se em grandes comemorações como no Ano Novo e nas cerimônias xintoístas de casamento, em encontros românticos e também na falta de um pretexto feliz ou dor de cotovelo.
Na maioria das ocasiões, o saquê é servido quente em uma temperatura que varia entre 40º e 55º C. Mas ele também pode ser tomado gelado ou misturado a outras bebidas e sucos, originando coquetéis muito interessantes. A maneira mais tradicional de servi-lo é em xícaras quadradas de madeira, chamadas “masu”, que conferem à bebida um suave sabor amadeirado. Nesse caso, sempre é servido frio com temperatura variando entre 20º e 40º C, uma vez que o saquê quente absorveria o gosto da madeira. Em muitos lugares, sugerem-se ainda que coloquem uma pitada de sal no canto do masu, um certo estilo adotado pelos jovens.
Rituais à parte, os efeitos “inebriantes” do saquê vão muito além das histórias fantásticas da antiguidade. O saquê é a bebida com mais alta porcentagem de álcool entre os fermentados do mundo. Sem ser diluído, chega a marca de 20% de teor alcoólico, enquanto uma cerveja não passa de 5% e o vinho de 12%. Mesmo assim, com menos álcool, ambos estão ganhando a queda-de-braço com o saquê no mercado japonês. Em 1872, quando a bebida era um dos principais produtos da economia do país, havia 30 mil fabricantes, hoje o numero não chega a 10% do total. São cerca de 2.300 produtores que fabricam anualmente, pouco menos que um bilhão de litros de saquê. O que não quer dizer que a bebida está em declínio, pelo contrário, alguns tipos de saquê atingem cifras absurdas, ganhando o status de bebida, como o saquê produzido na província de Hyogo, considerado o melhor do país. Uma simples garrafa pode custar até 300 mil ienes. E mesmo que a cerveja e o vinho continuem roubando espaço do saquê no Japão, uma coisa é certa: ele está na lista dos principais persongens da história do país e os japoneses não o deixaram de beber, pelo menos em comemoração a isso. E como beber saquê no Japão, é um ritual milenar e os excessos são jusificados por milhares de anos de história, o modo mais simples de se desculpar por qualquer estrago provocado em uma noite de bebedeira no Japão, é dizendo “Eu estava bebendo saquê...”. e o perdão é praticamente certo, seja qual for o dano causado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Lamen


  Lamen Depoimento de um brasileiro que vive no Japão.


Quando se fala em lamen, já vem aquela imagem de macarrão instantâneo para os brasileiros. O lamen é na verdade chinês, mas muito apreciado aqui no Japão, tanto que uma das coisas que mais tem no mercado é o macarrão instantâneo, com uma seção separada só para isso. Todos os tamanhos, tipos e preços. Tem uns com legumes, ovo e até carne. Mas o Lamen de verdade aqui do Japão é muito gostoso. O restaurante de lamen se cham Lamen-ya e serve vários tipos de lamen. Em alguns deles o macarrão é caseiro e pode até se sentar no chão para comer naquelas mesas baixas, bem ao estilo Japonês. Os caldos mais comuns são os de Missô, Shoyu e Tonkotsu Soup que é uma sopa de carne de porco muito gostosa. Pode vir acompanhada de vários tipos de carne de porco e vegetais estranhos. E por incrível que pareça, fiquei com vontade de comer o tal do lamen por causa de um anime muito famoso aqui no Japão de nome Naruto. Ele curte um lamen e em diversos capítulos bate um lamen no final das missões. Mas isso já é um outro assunto.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

O segredo da longevidade dos japoneses - video

 Reportagem do Globo Reporter 5 de dezembro de 2009
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Yakusa - A máfia Japonesa


Yakuza (em japonês: ヤクザ ou やくざ), também conhecidos como gokudō (極道) são os membros das tradicionais organizações de crime organizado existentes no Japão. A polícia japonesa os chama de bōryokudan (暴力団, literalmente "grupo de violência"), enquanto os próprio yakuza se chamam de "ninkyō dantai" (任侠団体 ou 仁侠団体, "organizações cavalheirescas").
Os Yakuza surgiram como associações criminosas e obedeciam a regras rígidas específicas. Com o tempo, passaram a influenciar diversos segmentos da sociedade e política japonesa. Foi no início do século XVII que nasceram, nos grandes centros urbanos de Osaka e Edo (atual Tóquio), sob a égide dos chefes de quadrilhas. Os Yakuza agrupam diversas categorias: primeiro foram os jogadores profissionais e os ambulantes. A esses uniram-se os samurais que, a partir de 1603, com o fim das guerras feudais e o reinado da "Paz Tokugawa" por 250 anos, viram-se sem mestres, ameaçados de banimento.
Na hierarquia social Yakuza, abaixo dos samurais, dos artesãos e dos comerciantes vêm os hinin (não-humanos) e os eta (maculados). Os "hinin" são carcereiros, carrascos e pessoas ligadas à espetáculos. Os "eta" estão vinculadas à profissão de abate de animais (no xintoísmo e no budismo consiste mácula todo trabalho ligado à morte e ao sangue).
Os Yakuza criaram um estatuto e um código baseado nas relações de fidelidade entre o padrinho (oyabun) e seu protegido (kobun): a cerimônia de consagração consiste na troca do copo de saquê e representa a entrada no clã e os laços de sangue.

Sociedade

A Yakuza era uma sociedade exclusivamente masculina. Eles acreditavam que as mulheres foram feitas para serem mães e para cuidarem de seus maridos, não devendo se meter nos negócios dos homens. Um outro motivo pelo qual as mulheres não eram aceitas na yakuza é que não se deve falar sobre o grupo a ninguém de fora, e eles acreditavam que as mulheres não seriam fortes o suficiente para se manterem caladas caso fossem interrogadas pela polícia ou por algum inimigo. Isso ocorria até a década de 1990, atualmente já existem mulheres que atuam na Yakuza e ocupam alto escalão no grupo, mas para entrarem no grupo, dependendo de qual função, elas devem passar por diversos testes. Nos dias atuais recrutam também jovens e estudantes, para infiltração na chamada "dominação da área" . pois eles não usam tatuagens, mas são obrigadas a aprender artes marciais e a manejar armas, como espada, nunchaku, e armas de fogo, entre centenas de outras.
A esposa do líder. Quando o chefe morre e não há ninguém que possa substituí-lo imediatamente, é a esposa quem assume temporariamente o comando do grupo.

Família

Os clãs são organizados à semelhança de uma família, possuindo talvez a mais rígida das hierarquias do mundo dos crimes. O oyabun (pai) é o chefe, wakashu são seus filhos e kyodai são seus irmãos. Todos devem total obediência e lealdade ao oyabun, e em troca ele oferece proteção a todos de seu clã. Os membros não devem temer a morte pelo oyabun, e devem concordar com tudo o que ele diz.
Há dois tipos de yakuza: aqueles que pertencem a um clã e os autônomos. Por não pertencerem a clã algum, os autônomos têm dificuldades para agir, pois os grupos não permitem que eles atuem em seus territórios. Os clãs costumam usá-los como bode espiatório ou pagá-los para realizar um serviço sujo no qual não queiram envolver o seu clã. Se o autônomo for ambicioso e capacitado, pode começar um grupo do zero, mas geralmente, quando não é assassinado, torna-se membro de algum clã jbá existente.

Principais famílias

Nome Descrição Símbolo
Yamaguchi-gumi a Familia Untem (六代目山口組) Criada em 1915 é a maior família da Yakuza, tem mais de 40 mil membros e é dividida em 750 clãs. Seu Oyabun (líder) é o Kenichi Shinoda. Yamabishi.svg
Sumiyoshi-rengo (住吉会, as vezes chamado de Sumiyoshi-kai (住吉会) É a segunda maior família da Yakuza, com mais de dez mil membros divididos em 177 clãs. Seu Oyabun atual é o Shigeo Nishiguchi , Osomuya Tanaka. É inimiga de morte da Yamaguchi-gumi Sumiyoshi-kai.svg
Inagawa-kaï e famila Seiju(稲川会) É a terceira maior família da Yakuza, tem mais de 7 mil membros e é dividida em 177 clãs. Seu Oyabun atual é o Kakuji Inagawa. Foi a primeira Yakuza a operar fora e dentro do Japão Inagawa-kai.svg
Towa Yuai Jigyo Kumiai (東亜友愛事業組合), as vezes chamada de Towa-kai (東亜会) É a quarta maior família da Yakuza, tem mais de mil membros e é dividida em 6 clãs. Seu Oyabun atual é o Satoru Nomura. Foi a primeira Yakuza japonesa a ser criada na Korea. Toua Yuai Jigyo Kumiai.svg

Obrigações

Entre as obrigações dos membros estão:
  • Não esconder dinheiro da gangue;
  • Não se envolver pessoalmente com narcóticos;
  • Não procurar a lei ou a polícia;
  • Não violar a mulher de outro membro;
  • Não desobedecer às ordens de um superior;
  • Não deixar rastros após o crime.
  • Não matar ninguém da gangue sem a permição de um superior

Liderança

O chefe dos filhos chama-se wakagashira, e dos irmãos shateigashira. O wakagashira é o segundo em autoridade, vindo logo após o oyabun e servindo também como um intermediário para supervisionar se as ordens estão sendo cumpridas. O shateigashira é o terceiro em autoridade.
Cada filho pode formar sua própria gangue e assim por diante, resultando em diversas subfamílias. Cada um obedece o líder de sua gangue, mas é sempre o oyabun que dá a palavra final.
Uma família típica tem de 20 a 200 membros, o que pode assegurar ao clã todo um número bem superior a 1000 homens. As familias em que possuem membros yakuza são geralmente de raiz com nome Shibatsu, Yakasa, Shiatsuta, Tashiro, Tonaco, Shematse, Tokesho entre outras diversas com membros na cultura japonesa.
Quando um indivíduo entra na sociedade dos yakuza, muitos clãs não permitem que ele saia do seu grupo, duvidando de que possa vazar alguma informação.

fonte: Wikipedia

Gueixas


O mundo das gueixas é um dos mais comentados e curiosamente, um dos menos conhecidos do mundo. Por toda parte já se ouviu falar sobre o assunto. Mas ninguém sabe exatamente o que fazem essas mulheres. Lindas e anônimas, com rosto coberto pela espessa maquiagem branca, elas estão entre os símbolos mais marcantes do Japão. De reputação duvidosa, muitos ainda teimam em classificá-las como garotas de programa. Enigmáticas, são donas de um estilo de vida que já inspirou livros.  Toda a fama desse universo se deve exatamente ao fato das gueixas serem inacessíveis para a maioria dos mortais. É um universo tão exclusivo que a maior parte dos japoneses nunca teve nem terá a oportunidade de conferir de perto. O privilégio é exclusivo de ricos empresários, políticos poderosos e renomados artistas. E só. Ninguém mais entra nesse restrito clube. Nem mesmo o dinheiro pode comprar o acesso. Se não a apresentação de alguém que já faça parte deste mundo, é impossível chegar até ele. Depois de vários meses de contatos, Made in Japan conseguiu permissão para entrevistar essas divindades do Japão. E, pela primeira vez na imprensa brasileira, desvenda o que acontece dentro das exclusivas casas de chá japonesas.
0208_gueixas_leque02.jpgUma noite pode sair por até 5 mil dólaresO universo das gueixas, mulheres-artistas que se dedicam a agradar aos homens por meio da dança, da música e da pura adulação é um território a parte do Japão. É um mundo de sonhos, permeado de romance, luxo e exclusividade. Para conhecer seus mistérios, poucos são os selecionados. Para manter o fascínio da arte, raras são as escolhidas.
Ser gueixa não é uma simples opção. Para se tornar mestras de entretenimento masculino, as maikos (aprendizes) precisam muito mais do que dotes artísticos e um rosto sem espinhas. Afinal, elas são treinadas para amansar os egos dos homens mais poderosos do Japão, sejam eles políticos graduados, abastados empresários ou temidos yakuzas (mafiosos). Todos milionários que não se importam em torrar fortunas, para serem inebriados sem suas próprias fantasias. Por outro lado, dinheiro não é passaporte garantido para o aparentemente inacessível universo das gueixas. O que significa que uma conta bancária polpuda não basta para ser bem-vindo nas luxuosas casas de chá em que as gueixas entretêm seus clientes em Kyoto, Tokyo e e outras poucas cidades japonesas. A chave de entrada é ser amigo de alguém com trânsito livre nessa sociedade privada. “E um universo de apresentações”, explica Michiyo Oishi, dona da casa de chá Hori Yae, em Miyagawacho, um dos cinco distritos de gueixas de Kyoto – onde a tradição surgiu no século XVII. “Até um estrangeiro pode entrar, desde que seja apresentado por um de nossos clientes”.
Para chegar ao estágio de geiko (gueixa), as aprendizes acumulam anos preparação. São adolescentes que trocam a rotineira vida de família e escola para viver a paixão pela arte. “Quando tinha 15 anos, vi numa revista feminina uma reportagem sobre Kyoto, fiquei encantada com as gueixas e decidi que aquela seria a minha vida”, revela a maiko Fukuyuki, hoje com 18 anos e há três anos morando em Miyagawacho.
A vida de maikos com Fukuyuki está longe de ser rotineira, mas não deixa de ser espartana. Como já acompanham as gueixas nas festas de casas de chá (ocha-ya), têm a oportunidade, ainda muito jovens, de conhecer alguns dos homens mais influentes da política, das artes e dos negócios do Japão e do mundo. Para não decepcionar os anfitriões, aprendem desde cedo a dominar não só as peculiaridades do serviço a que se propõem, mas as próprias emoções. “É uma profissão atraente porque aqui fico ombro a ombro com pessoas importantíssimas”, exulta-se a maiko.
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A noite embadalada pelo hipnotizante balé as conversas bem-humoradas para entreter os clientes
O serviço proporcionado pelas gueixas, ainda que perfeito, é muito simples se equiparado à pompa e ao mistério que envolve sua rotina. Elas são encarregadas de servir as bebidas e descontrair os clientes durante as festa. Encaminham as conversas para tema amenos, contando piadas e fazendo os homens se sentirem donos de um reino cujos limites são o tatami e as paredes. Carismáticas e sedutoras, elas sabem com trazer os clientes para seu mundo de fantasia. E um dos segredos é nunca contrariá-los.
Questões “fúteis” como dinheiro, por exemplo, jamais são abordadas durante as estadas no ocha-ya. Assim, um cliente jamais avistará uma conta em mesa após qualquer festa. A fatura lhe será enviada pelo corrreio uma semana seguinte. Um truque que faz os homens apagarem da memória qualquer tipo de preocupação enquanto apreciam o show das geikos – mesmo que soe estranho alguém com cacife para bancar uma festa de gueixas se enquadra no rol das pessoas com “problemas”, pelo menos financeiro. Dependendo do número de gueixas em uma festa (a média é uma para cada dois clientes) e do montante de uísque e saquê consumidos, o banquete no ocha-ya custa entre 2 mil e 5 mil doláres por cabeça. O valor é pago por um determinado anfitrião, que pode ser um ator de kabuki agradando amigos ou empresários bajulando pessoas que lhe interessem nos negócios.
Até tarefas simples, como servir saquê, são executadas pelas gueixas com movimentos encantadores. Atitudes derivadas de um exaustivo treinamento que inclui também o aprendizado das regras de etiqueta da cerimômia do chá, o requintado ritual japonês para se tornar chá verde. A música é outra especialidade das moças, que sabem tocar pelo menos um ou dois instrumentos característicos da música de gueixas, chamada de kouta.
Muitas se arriscam ainda a cantar. Para conseguir atuar em tantas artes diferentes, contam coma experiência de mestres como Inoue Yachiyo, 92 anos, que ainda ensina dança para as gueixas em Kyoto e é considerada Tesouro Nacional do Japão – principal comenda do governo para homenagear as pessoas de destaque no país.
Com tantos atrativos, são comuns casos de homens que extrapolam os limites na ocha-yas. Mas nem quando eles se sentem poderosos a ponto de achar que podem se engraçar mais intimamente com as gueixas, elas ousam ser rudes. Hábeis, impõem seus limites sem ser desagradáveis. E, ao menor sinal de saia justa, não hesitam em exibir atributos extras, dançando trechos de um balé fantástico e compenetrado. A recompensa vem quando elas sentem os clientes hipnotizados pelos movimentos delicados, mas regidos por um intimidador olhar vazio, como se tudo mais fosse apenas peça decorativa no ritmo inebriante de seu espetáculo.
Algumas casa de chá, como a Hori Yae, em Kyoto, mantém suas próprias gueixas. Outras solicitam os serviços das geikos de um oki-ya. É para lugares com esse que adolescentes se dirigem quando decidem trocar os lares para realizar um sonho de se tornar gueixas. O processo de admissão de novas garotas funcionam por apresentação. Semanalmente, Michiyo Oishi, dona da ocha-ya Hori Yae, em Kyoto, recebe currículos de candidatas indicadas por amigos e clientes. Elas são avaliadas, principalmente, pela beleza, e charme. “Tem de ser bonita e não pode ser gorda”, revela Oishi.
Caso seja aceita na comunidade gueixa, a aprendiz (chamada de maiko) terá de “trocar de família’. A okasan (dona da casa de gueixa) será sua nova mãe e as outras gueixas sua irmãs. Uma geiko será sua irmã de modo especial. Chamada de “irmã mais velha”, ela é a principal responsável pela formação da nova gueixa, num processo baseado na observação. O ensinamento não é gratuito. A maiko passará a acompanhar a irmã mais velha diariamente, funcionando como sua auxiliar no dia-a-dia. Fase que dura cerca de um ano, o último antes de ela se tornar gueixa. Antes de ser entregue a tutela da irmã mais velha, porém, a aprendiz passa de 3 a 5 anos recebendo lições de “etiqueta gueixa” de sua okasan. Mas a “mamãe” não é boazinha 24 horas por dia. As maikos são treinadas com rigidez e recebem uma boa carga de afazeres domésticos dentro do oki-ya. Já houve o caso de uma iniciante que abandonou o aprendizado e processou o oki-ya por exploração no trabalho. “É um mundo ultra-rigoroso”, admite a geiko Kimisome.
Em nome da profissão, as gueixas abdicam até de seus nomes. Quando passam a integrar oficialmente o oki-ya, elas ganham apelidos. O sobrenome? Gueixa, que em japonês significa pessoa que vive da arte. Namorados entram na lista de concessões feitas pelo oki-ya à gueixa. Ou seja, ela tem o direito de namorar, mas desde que isso seja feito em suas poucas horas de folgas. O “eleito” também não pode pode ser estar incluído em sua lista de clientes e é proibido de pisar no oki-ya, onde a gueixa também jamais poderá atender a um telefonema sequer seu. Casar com o heróico pretendente também está fora de cogitação, sob pena de a gueixa Ter de enterrar definitivamente sua carreira.
Gueixas não podem se casar, mas podem ter filhos, que serão muito bem recebidos e criados dentro da comunidade. Se o bebê de uma gueixa for do sexo feminino, ótimo, é candidata em potencial a ser uma geiko no futuro. Caso seja homem, estará fadado a ser um papel secundário dentro do oki-ya, com motorista, por exemplo. Afinal, estamos falando de uma família na qual as mulheres dão as cartas.

fonte: http://madeinjapan.uol.com.br/2006/02/09/gueixas-2/

Dragão Chinês


Dragão (long em chinês, yong ou ryong em coreano, e ryu em japonês) segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convocados por Pan Ku (o deus criador) para participarem na criação do mundo. É enormemente diferente do ocidental, sendo um misto de vários animais místicos: Olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veado, orelhas de boi, bigodes de carpa e etc. Representa a energia do fogo, que destrói mas permite o nascimento do novo. (a transformação). Simboliza a sabedoria e o Império.
É representado de várias formas, a mais comum é o dragão de 4 patas, cada uma com 4 dedos para frente e 1 para trás, o dragão imperial, ou carregando uma pérola numa das patas chamada de Yoku (元氣) pela antiga lenda chinesa - "dragão das águas marinhas".
A Imagem de um dragão azul preside o leste, o oriente.
O dragão chinês é uma criatura mitológica chinesa que aparece também em outras culturas orientais, e também conhecidos às vezes de dragão oriental. Descrito como longo, uma criatura semelhante a uma serpente de quatro garras, ao contrário do dragão ocidental que é quadrúpede e representado geralmente como mau, o dragão chinês tem sido por muito tempo um símbolo poderoso do poder auspicioso no folclore e na arte chineses. Os dragões chineses controlam a água nas nações de agricultura irrigada. Este é o contraste com o dragão ocidental, que podem cuspir fogo para mostrar o seu poder mítico. O dragão também é a junção do conceito de yang (masculino) e associado com o tempo para trazer chuva e de água em geral. Seu correlativo feminino é Fenghuang.
O dragão às vezes é usado no ocidente como um emblema nacional de China. Entretanto, este uso dentro da República Popular da China e da República da China em Taiwan é raro.
A princípio, o dragão era historicamente o símbolo do imperador da China. Começando com a Dinastia Yuan, os cidadãos comuns foram proibidos de se associar com o símbolo. O dragão ressurgiu durante a Dinastia Qing e apareceu em bandeiras nacionais.
Em seguida, o dragão tem uma conotação agressiva, militar que o governo chinês deseja evitar. É por estas razões que o panda gigante é de longe mais usado com mais freqüência dentro de China como um emblema nacional do que o dragão. Em Hong Kong, entretanto, o dragão é uma marca desta cidade, um símbolo usado para promove-la internacionalmente.
Muitos chineses frequentemente usam o termo "descendentes do dragão" (龍的傳人) como um símbolo de identidade étnica. Embora esta tendência tenha começado somente quando diferentes nacionalidades asiáticas procuravam símbolos animais para reapresentações na década de 70. O lobo foi usado entre os mongóis, o macaco entre os tibetanos.
Na cultura chinesa atualmente, é mais usado para fins decorativos. É um tabu deformar uma representação de um dragão; por exemplo, uma campanha da propaganda da Nike, que caracterizou o jogador de basquetebol americano LeBron James que matava um dragão (além de bater num mestre velho de KungFu), foi imediatamente censurada pelo governo chinês após o protesto público sobre o desrespeito.
Um número de provérbios e de dialetos chineses também caracteriza referências ao dragão, por exemplo: "Esperando o único filho virar dragão" (望子成龍, também é tão bem sucedido e poderoso quanto um dragão).
Uma antiga forma de escrita tem a forma de símbolo caracterizada pelo "dragão" que agora é escrito 龍 ou 龙 e pronunciado de forma longa no mandarim.
A origem do dragão chinês não é precisa, mas muitos estudiosos concordam que se originou dos totens de diferentes tribos na China. Alguns sugeriram que vêm de uma representação de uma junção de animais existentes, tais como serpentes, de peixes, ou de crocodilos. Por exemplo, o local de Banpo da cultura de Yangshao em Shaanxi representou uma alongada serpente marinha. Os arqueólogos acreditam que "peixes longos" teriam evoluído em imagens do dragão chinês.
A associação com peixes é refletida na lenda de uma carpa que viu o topo de uma montanha e decidido ir alcançá-la. Nadou rio acima, escalando correntezas e cachoeiras e não as deixando atrapalharem seu caminho. Quando alcançou o topo, lá havia a mítica "porta do dragão" e a saltando se transformou em dragão. Acredita-se que diversas cachoeiras e cataratas na China poderiam ser a localização da porta do dragão. Esta lenda é usada como uma representação simbólica para o esforço necessário para superar obstáculos e conseguir o sucesso.
Uma vista alternativa, defendida por He Xin, é que antes o dragão representou uma espécie de crocodilo. Especificamente, Crocodylus porosus, um antigo e gigante crocodilo. O crocodilo é conhecido por poder perceber com precisão mudanças na pressão de ar, e poder prever a vinda da chuva. Esta pode ter sido a origem dos atributos mitológicos do dragão em controlar o tempo, especial a chuva. Além disso, há uma evidência da adoração do crocodilo em antigas civilizações como babilônicas, indianas, e maias.
A associação com o crocodilo também é amparada pela visão em tempos antigos de que os grandes crocodilos eram uma variedade de dragão. Por exemplo, na história de Zhou Chu, sobre a vida de um guerreiro da Dinastia Jin, dizem que matou um "dragão" que infestou as águas de sua vila, que parece ter sido um crocodilo.
Outros propuseram que sua forma é a fusão de totens de várias tribos como o resultado da fusão delas. A forma em espiral da serpente ou do dragão jogou um papel importante na cultura chinesa antiga. As figuras lendárias como Nüwa (女媧), Fuxi (伏羲) são descritas como tendo corpos de serpente.
Alguns estudiosos relatam que o primeiro imperador lendário da China, Huang Di (黃帝, imperador amarelo), usou uma serpente para revestir seus braços. Cada vez que conquistava uma outra tribo, incorporava o emblema do seu inimigo derrotado no seu braço. Isso explica porque o dragão parece ter características de vários animais.
Os dragões chineses são fortemente associados com água na opinião popular. Acreditam serem regentes das águas, tais como cachoeiras, rios, ou mares. Podem aparecer enquanto a água jorra (tornado ou furação d'água). Esta habilidade como regente da água e do tempo, o dragão é mais semelhante ao homem na forma, descrito frequentemente como humanóide, vestido em traje de rei, mas com uma cabeça do dragão que usa ornato da realeza na cabeça.
Há quatro principais reis dragões, representando cada um dos quatro mares: o mar do leste (que correspondem ao mar de China do leste), o mar sul (que correspondem ao mar de China sul), o mar ocidental (visto às vezes como o Oceano Índico e além), e o mar norte (visto às vezes como o lago Baikal).
Por causa desta associação, são vistos como "em cargo" de fenômeno aquáticos relacionas ao tempo. Em épocas remotas, muitas vilas chinesas (especialmente aquelas perto dos rios e dos mares) tiveram os templos dedicados a seu "rei dragão" local. Nas épocas de seca ou de enchentes, era comum que o nobres e oficiais locais do governo conduzissem à comunidade oferecendo em sacrifícios e em conduzissem outros ritos religiosos satisfazendo o dragão, para pedir chuva ou uma cessação dela.
O rei de Wu-Yue em cinco dinastias e dez reinos no período foi frequentemente conhecido como "rei dragão" ou do "o rei do dragão dos mares" por causa de suas obras hidráulicas que "domesticaram" os mares.
No fim de seu reino, o primeiro imperador, Qin Shi Huang diz-se que se imortalizou em um dragão que se assemelhava a seu emblema, e ascendeu aos céus. Desde que os chineses consideram Qin Shi Huang como seu antepassado, às vezes se denominam como "os descendentes do dragão". Esta lenda contribuiu também para o uso do dragão chinês como um símbolo do poder imperial.
O dragão, principalmente os dragões amarelos ou dourados com as cinco garras em cada pé, eram um símbolo para o imperador em muitas dinastias chinesas. O trono imperial foi chamado de trono do dragão. Durante a tardia Dinastia Qing, o dragão foi adotado mesmo como a bandeira nacional. Era uma ofensa grave para que os cidadãos usarem roupas com um símbolo do dragão. O dragão é caracterizado nas esculturas das escadarias de palácios e de túmulos imperiais, tais como a cidade proibida em Pequim.
Em algumas lendas chinesas, um imperador podia carregar uma marca de nascença na forma de um dragão. Por exemplo, uma lenda diz a narrativa de um camponês que trazia uma marca de nascença do dragão que eventualmente derrubou a dinastia existente e fundou uma nova; uma outra lenda diz do príncipe escondia de seus inimigos que era identificado por sua marca de nascença do dragão.
Em contraste, a imperatriz da China era frequentemente identificada com o Fenghuang.
Em épocas modernas, a crença no dragão parece ser esporádica na melhor das hipóteses. Parece ser muito poucos os que veriam o dragão como uma criatura literalmente real. A adoração dos reis dragões como um regente das águas e do tempo continua em muitas áreas, e é profundamente enraizado em tradições culturais chinesas tais como a celebração do Ano Novo Chinês. Usam também pipas de dragão nas celebrações.

Representação Neolítica

Representações de dragões foram encontradas extensivamente em sitos arqueológicos do período paeolítico por toda China. A primeira representação de dragões foi encontrada no sitio de Xinglongwa. Os sítios culturais de Yangshao em Xi'an produziram potes de argila com temática nos dragões. A cultura de Liangzhu produziu também amostra de dragões. Os sítios culturais de Hongshan no interior da Mongólia até hoje produziram amuletos de jade de dragão do jade na forma de dragões porcos.
Anteriormente tais formas era o dragão porco. É uma criatura enrolada, alongada com uma cabeça que se assemelha a um javali. O sinal para "dragão" na escrita chinesa anterior tem uma forma em espiral similar, como mais tarde os amuletos de jade do dragão do período de Shang.

Representação Clássica

"Dungeons & Dragons" descrevem "Nove Tipo clássicos" de dragões, nove sendo números auspiciosos na cultura Chinesa. São estes:
  • Tianlong (天龍, tiān lÒng: literalmente "Dragão do paraíso"), Dragão Celestial - O soberano dos dragões.
  • Shenlong (神龍, shén lóng: literalmente "espírito do dragão"), Dragão Espiritual - controla o tempo e tem que ser satisfeito, ou as condições de tempo ficam desastrosas.
  • Fucanglong (伏藏龍), Dragão dos Tesouros Escondidos guardião de metais preciosos e de jóias enterrados na Terra.
  • Dilong (地龍), Dragão da Terra – controla os rios. consome a primavera no paraíso e o outono no mar.
  • Yinglong (應龍), Dragão Alado - acredita-se ser um poderoso empregado de Huang Di, o imperador amarelo, mais tarde imortalizado como um dragão.
  • Jiaolong (虯龍), Dragão Chifrudo – considerado poderoso.
  • Panlong (蟠龍), Dragão Espiralado - mora nos lagos do Oriente.
  • Huanglong (黃龍), Dragão Amarelo - um dragão sem chifre conhecido por sua sabedoria.
  • Rei Dragão (龍王) - cada um governa sobre um dos quatro mares: do leste, do sul, do oeste, e do norte.
Ao contrário da opinião popular, chinês nunca fez qualquer esforço intencional em definir os dragões, embora várias palavras fossem usadas para descrever dragões em vários estados. Por exemplo, Panlong é um dragões em estado enrolado. Eles, entretanto, dividem dragões por suas cores. Ou seja, dragão preto representa o norte, dragão vermelho representa o sul, o dragão verde/azul representa o leste, o dragão branco representa o oeste e o dragão amarelo representa o centro. Esta é uma representação mais menos popular das direções e das estações do que quatro símbolos usados na Constelação Chinesa.
O Jiao (Jiaolong) e o li (Lilong) às vezes são usados para descrever a outra espécie de dragão (do inferior), ambos sem chifres. Visto que o dragão é visto na maior parte como auspicioso ou sagrado, o jiao e o li são descritos às vezes como mau ou malicioso.
Os Nove Dragões
Além destes, há nove filhos do dragão, que caracterizam proeminente em decorações arquitetônicas e monumentais:
  • O primeiro é chamado de bixi (贔屭 pinyin: bìxì), que parece uma tartaruga gigante e é bom carregando peso. Encontra-se frequentemente como a base de pedra esculpida de tabuletas monumentais.
  • O segundo é chamado de chiwen (螭吻 ou 鴟吻 pinyin chǐwěn ou 嘲风 pinyin cháofēng), que parece uma besta e gosta de ver longe. Encontra-se sempre no telhado.
  • O terceiro é chamado de pulao (蒲牢 pinyin pǔláo), que parece um dragão pequeno, e gosta de rujir. Assim encontra-se sempre em sinos.
  • O quarto é chamado de bi'an (狴犴 pinyin bì'àn), que parece um tigre, e é poderoso. Encontra-se frequentemente em portas da prisão para amedrontar os prisioneiros.
  • O quinto é chamado de taotie (饕餮 pinyin tāotiè), que ama comer e é encontrado em mercadorias relacionadas à comida.
  • O sexto é chamado de qiuniu (囚牛 pinyin qíuníu), que gosta de música, e é encontrado em instrumentos musicais tais como harpas chinesas (胡琴).
  • O sétimo é chamado de yazi (睚眦 ou 睚眥 pinyin yázī), que gosta de matar, e é encontrado em espadas e em facas.
  • O oitavo é chamado de suanni (狻猊 pinyin suānní) que parece um leão e gosta do fumo além de ter uma afinidade para fogo de artifício. Encontra-se geralmente em acendedores de incenso.
  • O caçula é chamado de jiaotu (椒圖 pinyin jiāotú), que parece uma concha ou moluscos e não gosta de ser perturbado. É usado na porta dianteira ou no degrau da porta.

    Garras do Dragão

    Nota-se às vezes que os dragões chineses têm cinco dedos em cada pé, dragões coreanos tem quatro, quando os dragões japoneses tem três. Para explicar este fenômeno, a lenda chinesa indica que todos os dragões imperiais se originaram na China, e, além disso, longe da China um dragão foi poucos dedos do pé que teve. Os dragões existem somente na China, na Coréia, e no Japão porque se viajarem além não teriam nenhum dedo do pé para continuar. A lenda japonesa tem uma história similar à chinesa. Quanto mais viajaram mais os dedos do pé cresceram e em conseqüência, se fossem muito longe teriam muitos dedos do pé para continuar a andam corretamente.
    Entretanto, os registros históricos mostram que os dragões chineses comuns tiveram quatro dedos do pé, mas o dragão imperial teve cinco (como nos cinco elementos da filosofia chinesa). o dragão de Quatro garras era reservado para príncipes e determinados oficiais de maior patente. O dragão com três garras foi usado pelo público geral (visto extensamente em vários bens chineses no Dinastia Ming). De fato, era uma ofensa grave para qualquer um - exceto o próprio imperador - usar o tema do dragão com cinco garras. O uso impróprio do número de garras foi considerado traição, punível pela execução da tribo inteira do ofensor. Desde que a maioria das nações orientais e em um ou outro ponto foram considerados tributários chineses, foram permitidos somente dragões de quatro garras.

    Número nove

    O número nove é considerado de sorte na China porque é o único dígito maior possível, e os dragões chineses são relacionados freqüentemente com ele. Por exemplo, um dragão chinês é descrito normalmente nos termos de nove atributos e tem geralmente 117 escalas- 81 (9x9) masculino e 36 (9x4) feminino.
    Isto também é porque há nove formas do dragão e o dragão tem nove filhos (veja a descrição deles acima). Da "Parede do Nove Dragões" é uma parede com imagens de nove dragões diferentes, e é encontrada em palácios e em jardins imperiais. Enquanto nove foram considerados o número do imperador, só foram permitidos aos oficiais os maiores usarem nove dragões em suas vestes - e então somente com a veste coberta completamente com sobretudo. os oficiais do Baixo escalão tiveram oito ou cinco dragões em suas vestes, cobertas outra vez com sobretudo; até mesmo o próprio imperador usou sua veste do dragão com um de seus nove dragões escondidos da vista. Há um número de lugares na China chamada de "nove dragões", sendo o mais famoso Kowloon (em cantonese) em Hong.kong. A parte do Mekong no Vietnã é conhecido como KuLong, com o mesmo significado.

    Horóscopo Chinês

    O dragão é um dos 12 animais no horóscopo chinês que é usado no calendário chinês. Acredita-se que cada animal está associado com determinados traços da personalidade. Os anos do dragão são geralmente os mais populares para ter bebês. Há mais bebês nascidos em anos do dragão do que em todos os outros anos animais do horóscopo tudo gauderio.

    Constelações

    O Dragon Azure - Qing Longo - 青龍 é considerado ser o primeiro dos quatro guardiãos celestiais, os outros três sendo o Zhu Que - 朱雀 (Pássaro Vermelho), Bai Hu - 白虎 (tigre branco), Xuan Wu - 玄武 (tartaruga preta - como criatura). Neste contexto, o dragão azure é associado com o leste e o elemento da madeira.

    Fonte:Wikipédia 


A mulher na China


Pode parecer estranho dedicar um tópico sobre a questão da mulher na China, quando ela poderia ser incluída na seção Sociedade. No entanto, creio que isso reduziria em muito o exame que o problema merece no caso chinês. A condição feminina na China tem sido objeto de controvérsias milenares, caracterizadas pela tentativa constante de imposição do masculino sobre a sociedade. Assim sendo, a literatura chinesa proporcionou peças diversas sobre este debate, que tanto ressaltam a necessidade de enquadrá-la como um ser submisso quanto defendem a sua liberdade como ser autônomo e consciente. O primeiro destes documentos é o livro de Banzhao (séc. +1), intelectual chinesa da época Han que escreveu o Lições Femininas (Nujie), cujo teor dos trechos escolhidos é predominantemente machista, baseando-se nos discursos do Liji. Seu livro, porém, é objeto de discussão, posto que outros trechos parecem contradizer esta postura. Do mesmo período, no entanto, o Livro da Alcova (Fang Chungshu) trata a mulher como um ser responsável pelo equilíbrio cósmico, e que por isso deveria ser tratada em pé de igualdade (e, dependendo da situação, até mesmo como um ser superior em certos aspectos). Os Analetos Femininos (Nu Lunyu, da época Song) são uma tentativa posterior de estrutura um confucionismo feminino inteiramente baseado na misogenia, ou seja, na submissão da mulher. As três seleções seguintes: Mercado de concubinas, cartas familiares e Enfaixamento dos pés são desdobramentos mais recentes destas nefastas práticas machistas. O trecho de Maozedong ilustra a proposta comunista em renovar a visão da mulher na sociedade chinesa, mas o texto atual de Xinran, As boas mulheres da China, revela que a modernidade preserva muito ainda do preconceito e da desigualdade derivadas destas épocas.
59. Banzhao – o Tratado das Mulheres.
No controverso texto de Banzhao, dois aspectos aqui são revelados; um, de como a mulher deve ser humilde e dedicada; em outro texto, porém, Banzhao defende que as mulheres devem ser educadas como os homens, como forma de cumprir mais eficazmente a sua natureza yin. As inferências sobre tais questões tem, frequentemente, ensejado análises bastante diferentes sobre a situação da mulher na China Han. Mais do que um simples ser subserviente, talvez a posição feminina fosse justamente o contrário; ou ainda, a tentativa de educá-la seria uma forma de ir contra o sistema ou referendá-lo? Um estudo mais amplo sobre as questões encontra ainda um bom terreno para debate, embora seja consensual que esta época marca o recrudescimento de um discurso machista entre os intelectuais chineses.

Humildade: No terceiro dia após o nascimento de uma menina, os antigos observavam três costumes; primeiro, colocar o bebe debaixo da cama; segundo, dar-lhe um caco de cerâmica quebrada para brincar; terceiro, anunciar seu nascimento para seus antepassados por meio de uma oferenda. Colocar o bebê debaixo da cama indica claramente que ela é humilde e fraca, e que deve considerar antes seus deveres para com os outros do que para si mesma. O caco de cerâmica a ensina que deve conhecer bem cedo seus ofícios, e trabalhar bastante para ser conhecida como dedicada. O anúncio do nascimento aos antepassados significa nitidamente que ela tem o dever fundamental de dar continuidade a família, aos ritos e ao serviço.
Estes três costumes antigos definiram os modos de vida de uma mulher comum, bem como o que ela deve aprender dos ritos, das tradições e das cerimoniais.
A mulher modesta serve, antes de tudo, aos outros; põe-se por último, antes mesmo de si. Se faz algo de bom, não menciona; se faz algo ruim, nunca o nega. Nunca deixa desonrar-se, e resiste quando outros lhe falam ou fazem mal. Aparenta sempre ser temerosa e medrosa. Quando uma mulher segue tais preceitos, ela pode ser dita humilde, mesmo na frente dos outros.
Uma mulher deve dormir tarde e acordar cedo para seus deveres. Não deve recusar trabalhos fáceis ou difíceis. Deve ser arrumada, laboriosa, cuidadosa e sistemática. Quando uma mulher realiza estas coisas, ela pode ser dita dedicada.
Uma mulher deve ser correta na maneira de servir, humildemente, ao seu marido. Deve proporcioná-lo paz de espírito e tranquilidade, cuidando de seus casos. Não deve ser bisbilhoteira, e não rir de modo idiota. Deve ser limpa, e arrumar de modo higiênico os vinhos e a comida, bem como as oferendas aos antepassados.
Quando uma mulher observa estes princípios, pode ser considerada como continuadora dos deveres de adoração ancestral.
Nenhuma mulher que observa estes três princípios caiu em desonra ou teve má reputação. Se uma mulher não observar estes princípios, como pode querer ser honrada? Como pode evitar atrair desgraça para si mesma?
Marido e Esposa: O caminho da esposa e do marido estão intimamente ligados, tal como yin e yang, e estão ligados desde o tempo dos deuses e dos antepassados. Grandes são o Céu e a Terra, os alicerces de todos os relacionamentos humanos. Por isso As Recordações dos ritos (Liji) louvam a união entre homem e mulher; e o Tratado das poesias (Shijing), na primeira ode, manifesta os princípios desta união. Por isso mesmo este relacionamento é um dos mais importantes.
Se um marido for indigno de sua esposa, então ele não pode controlá-la; se uma esposa for indigna de seu marido, então ela não pode serví-lo corretamente. Se um marido não controla sua esposa, as regras de conduta nas quais se baseiam sua autoridade são quebradas e abandonadas. Se uma esposa não serve seu marido, o relacionamento apropriado entre homens e mulheres não segue o curso natural das coisas, sendo então negligenciados e destruídos. De fato, a finalidade destes dois princípios – o controle da mulher e o serviço ao homem – é o mesmo.
Examinemos agora os cavalheiros da época atual. Sabem somente que suas esposas devem ser controladas, e que as regras de conduta que manifestam seu poder devem ser estabelecidas. No entanto, eles ensinam os meninos a lerem os livros e a estudar a história. Mas eles não tem a menor idéia de como os mestre e maridos devem ser seguidos, e quais ritos para manter um relacionamento apropriado devem ser seguidos. Ora, se apenas se ensina aos homens, e não as mulheres, isso não ignora a relação essencial entre eles?
De acordo com os ritos, a regra para começar a ensinar as crianças a ler fixa o seu inicio na idade de 8 anos, e aos quinze elas devem estar preparadas para o exercício da cultura. Porque apenas os meninos, e não as meninas, podem seguir este principio?
60. Fang Chungshu – o Livro da Alcova.
O contraponto do discurso misógino que se apresenta na época Han está nos anônimos “Livros de Alcova”, surgidos neste mesmo período. Tratados deste gênero foram achados em tumbas Han, ou mantidos por uma tradição intelectual que se recusou a aceitar a posição de submissão da mulher na sociedade, e mostram que um outro entendimento sobre o feminino a colocava em posição de destaque num ponto de vista social e cósmico.

O caminho do Homem e da Mulher: Assim falou o mestre da Harmonia Inicial Primitiva:

Um elemento feminino e um masculino - yin e yang - isto é para nós o caminho. Fecundar o essencial e chamá-lo a vida - isto se transforma numa tarefa. Até onde não alcançam estas verdades fundamentais! Por isso, o Soberano Amarelo fez perguntas à Moça Simples e o velho Peng deu respostas ao rei da Estirpe dos Shang-Yin. O soberano Amarelo perguntou a Moça Simples;
- Perdi parte da minha energia vital e saí da harmonia. Não há mais alegria no meu coração. Meu corpo tornou-se fraco e vulnerável. Que devo fazer?

A Moça Simples respondeu:

A causa da fraqueza dos homens está somente no fato de que aproveitam de forma abusiva de todos os caminhos do relacionamento entre os elementos feminino e masculino. Neste ponto, a mulher é superior ao homem, da mesma forma quando o fogo é apagado pela água. Se você compreende isso e sabe aplicá-lo, você se parecerá com as panelas apoiadas num tripé em que são combinadas harmonicamente as cinco tendências do paladar, fazendo com que surja uma sopa deliciosa de carne e legumes. Quem está bem informado sobre os caminhos dos elementos feminino e masculino desfrutará os cinco prazeres; quem não os conhece e não segue encurtará a própria vida. Quantos prazeres e alegrias ainda podem ser desfrutados! quem não dedicaria atenção a isso?
61. Nu Lunyu – os Analectos Femininos.
Durante o período Tang, Song Ruoxin e Song Ruozhao (dois homens) decidiram escrever um “Diálogos femininos” (Nu Lunyu), inspirados supostamente na obra de Confúcio. O texto, porém, não possui diálogos como os do original, mas apenas dissertações sob forma de conselho ou imposição. Aqui, o machismo assume claramente sua posição, tentando estabelecer uma posição inferior para a mulher. No entanto, a época Tang é uma dos períodos mais ativos das mulheres na sociedade chinesa, e o país chegou a ter uma imperatriz, Wu Zetian. Podemos entender, assim, que o sentido do texto dirige-se então como uma crítica a escalada do feminino naquele contexto.
Sobre o comportamento: A primeira coisa que uma mulher deve aprender são os princípios do comportamento: pureza e castidade. Se você for pura, a castidade a seguirá; se você for casta, será honrada.
Não vire sua cabeça na rua nem olhe para os lados. Não mostre seus dentes quando fala, não mova seus joelhos quando senta. Não mova seu vestido quando se levanta, não demonstre ostensivamente sua felicidade, nem reclame quando estiver com fome.
Dentro ou fora de casa, homens e mulheres devem ser arrumados em grupos separados. Não fique bisbilhotando o outro lado do muro, e não vá muito além dentro da corte. Esconda seu rosto quando olha alguma coisa. Ao sair, você deve ser cobrir. Não dê seu nome a nenhum homem que não seja aparentado. Não faça amizades com mulheres que não venham de boa família. Somente por meios apropriados pode-se ser uma pessoa apropriada.
62. Mercado das concubinas.
Chang Tai (1597+1689) nos fornece, aqui um quadro incômodo sobre as atividades de vendas de mulheres na China Imperial. O texto a seguir trata do mercado de concubinas, escravas sexuais e domésticas, relativamente comum na época, e que envolvia pessoas empobrecidas que não podiam mais sustentar suas filhas.

Em Yangzhou, havia centenas de pessoas ganhando a vida com atividades ligadas aos "cavalos magros" (alcunha do mercado de concubinas). Nunca deveria alguém deixar que se soubesse que estava à procura de uma concubina. Uma vez que isso transpirasse, os agentes profissionais e intermediários, homens e mulheres, enxameariam como moscas à volta de sua casa ou estalagem, não havendo meio de mantê-los afastados. Na manhã seguinte, o homem encontraria muitos deles à sua espera, e o proxeneta que chegasse primeiro o carregaria, enquanto os demais seguiriam atrás, à espera de sua oportunidade.
Ao chegar à casa do "cavalo magro", o cliente seria servido de chá logo que se sentasse. Imediatamente a agenciadora viria com uma moça e ordenaria: "Kuniang (senhorita), cumprimente!" A moça fazia uma vênia. A seguir, era dito: "Kuniang, caminhe!" Ela caminhava. “Kuniang, volte-se!" Ela se voltava, ficando de frente para a luz e seu rosto era mostrado. "Desculpe, podemos ver sua mão?" A mulher enrolava-lhe a manga e expunha o braço inteiro. Sua pele era mostrada. "Kuniang, olhe para o cavalheiro." Ela olhava, com o canto dos olhos. Seus olhos eram mostrados. "Qual é a idade da Kuniang?" Ela respondia. Sua voz era mostrada. "Caminhe mais um pouco, por favor." Desta vez, a mulher erguia-lhe as saias. Seus pés eram mostrados. Há um segredo para julgar os pés das mulheres. Quando se ouve o roçagar de suas saias ao começar ela a andar, pode-se imaginar que tem pés grandes, mas, se usar as saias relativamente altas e mostrar os pés ao dar um passo para a frente, já se sabe que tem um par de pés pequenos, de que se orgulha. "Kuniang, pode retirar-se."
Logo que a moça saía, outra vinha e a mesma coisa se repetia. Costumeiramente havia cinco ou seis moças numa casa. Se o cavalheiro decidisse ficar com determinada jovem, colocar-lhe-ia no cabelo um alfinete de ouro ou outro ornamento; isto se chamava “catai”. Se nenhuma lhe parecesse satisfatória, uma gorjeta de algumas centenas de moedas era dada à agenciadora ou às criadas da casa e outra casa lhe era mostrada. Quando uma agenciadora completava o giro das casas com que operava, outras agenciadoras vinham. Isto continuava por um, dois, talvez quatro ou cinco dias. Era uma coisa sem fim e os agentes nunca se cansavam. Mas, depois que alguém via cinqüenta ou sessenta moças, todas eram mais ou menos parecidas, de cara pintada e vestido vermelho. É como escrever letras; quando se fez o mesmo sinal cem ou mil vezes, não é mais possível distingui-lo. O cliente não sabe o que decidir, ou qual preferir, e acaba por escolher qualquer uma delas.
Depois de feita a escolha, confirmada pelo catai, a dona da casa aparecia com uma folha de papel vermelho e um pincel de escrever. No papel estavam escritos os itens: sedas, flores de ouro, presentes em dinheiro e peças de pano. A dona mergulhava o pincel em tinta e deixava-o pronto para que o freguês preenchesse o total de peças e do presente em dinheiro que estava disposto a dar para ter a moça. Se isso fosse satisfatório, o negócio estava concluído e o cliente despedia-se.
Antes que chegasse à sua própria casa, já ali se achavam tamborileiros, e músicos, carroçados de carneiro e vinhos tintos e verdes. Num instante, papéis cerimoniais, frutas e pastéis também chegavam, e os remetentes voltavam acompanhados pelos músicos. Antes de terem andado um quarto de milha, retornavam com a banda, cadeirinhas de toldo floridas, lanternas florais, tachas, archotes de cabo, carregadores de cadeirinhas, damas de honor, velas, mais frutas, e assados. O cozinheiro chegava com uma carroçada de verduras e carnes, e doces, seguido de toldos, toalhas de mesa, almofadas para cadeiras, talheres de mesa, estrelas de longevidade cortinados de cama e instrumentos de corda. Sem aviso prévio nem mesmo sem pedido de aprovação, a florida cadeira de toldo e outra cadeirinha destinada a acompanhar a noiva saía para receber a nubente, com uma escolta de lanternas nupciais e achortes de cabo. Num átimo, a noiva chegava. Subia e realizava a cerimônia do enlace (curvando-se perante o noivo e os hóspedes), sendo então levada a ocupar seu lugar à mesa de jantar, já posta. Música e cantos começavam e havia muita bulha em toda a casa. Tudo era eficiente e rápido. Antes do Meio-dia, a agente pedia sua comissão, dizia adeus e corria em busca de outro clientes.
63. Cartas de Família de Zen Guofan.
Zeng Guofan (1811+1872) foi um general de renome entre os Qing, e deixou uma correspondência familiar que revela muitos dos detalhes cotidianos da época. Nesta, ele deixa conselhos sobre como tratar as mulheres da família, mostrando a consolidação plena do machismo nesta época.

Quando a noiva (nora) entra em nossa família, deve ser ensinada a ir à cozinha e aprender a costurar, e também a manejar a roda de tecer. Não se deve permitir que ela fique ociosa, pelo fato de vir de um lar rico.
Já sabem a filha mais velha, a segunda e a terceira fazer seus próprios sapatos? Eu gostaria de que as três filhas e a nora me fizessem, cada uma, um par de sapatos por ano, como forma de respeito, mas também de modo que eu pudesse ver seus trabalhos de agulha. Também devem fazer roupas e meias com pano de fabricação doméstica. Desse modo, poderei vigiar a diligência ou a ociosidade das mulheres de nossa casa.
As famílias dos dignitários, hoje em dia, tendem a tornar-se ociosamente ricas, vivendo em fausto. Dão maus exemplos. Quando minhas três filhas estiverem crescidas, quero que se casem em famílias cultas e simples da classe média, que não precisam ser ricas.
Nunca se deve esquecer o plantio de verduras no quintal da casa. A criação de peixes no lago do lado de fora de nossa porta da frente dá a todo o ambiente uma sensação de desenvolvimento e de vida. Criar porcos é também parte importante da economia doméstica. Secam-se, após o outono, alguns dos bambus do terraço traseiro? Por estas quatro coisas , podemos ver se uma família é ativa e operosa, ou se está consumindo sua fortuna. Nenhuma dessas quatro coisas - criação de peixes, de porcos, os bambus e as verduras pode ser negligenciada. Em primeiro lugar, queremos manter a tradição de parcimônia e industriosidade de nossos ancestrais e, em segundo lugar, essas quatro coisas dão sensação de vida e desenvolvimento. No momento em que se entra por uma porta, pode-se sentir um frêmito de atarefada prosperidade. Gastar com essas coisas algum dinheiro e trabalho vale inteiramente a pena.
64. Sobre o enfaixamento dos pés.
O texto de Yu Huai (1617 + 1697) é o primeiro estudo sobre a origem do enfaixamento dos pés, hábito que apavorava os ocidentais chegados a China no século 19. Uma moda estética terrível - mas que não era diferente, porém, do deformante espartilho europeu ou das exaustantes exigências modernas de beleza. Foi proibida no final do século 19, e novamente pela república em 1911, mas apenas como tempo o costume cedeu a modernidade.

Não havia diferença entre os pés das mulheres e os dos homens nos tempos antigos. O Zhouli (Ritos de Zhou) menciona o ofício do "sapateiro", que tinha o dever de cuidar dos sapatos de reis e rainhas. Cita tamancos vermelhos, tamancos pretos, trançados de seda, vermelha e amarela, curvas negras, sapatos brancos, sapatos de linho para uso cerimonioso, não cerimonioso e caseiro, destinados a homens e damas de títulos. Isto mostra que os sapatos de homens e mulheres eram da mesma forma. Em gerações posteriores, os pequenos e delgados sapatos arqueados das mulheres foram muito apreciados por seu diminuto tamanho.
De acordo com pesquisas que fiz, o enfaixamento do pés começou com Li Houcu, de Nantang (937 + 978). Tinha ele uma camareira real chamada Yaoniang (Srta. Yao), notável por sua esbelta beleza e suas danças. O soberano mandou fazer um lótus de ouro, de seis pés de altura, adornado de pedras preciosas, festões e borlas de seda. Esse lótus de ouro, multicolor ficava no centro. Mandou a Srta. Yao atar os pés com seda e acocorar-se em cima do lótus, para sugerir a forma de uma lua crescente. Ela dançou no topo do lótus de meias brancas, e fez piruetas sugerindo as nuvens (com as mangas compridas). Muitas pessoas, então, começaram imitar seu estilo. Foi esse o primeiro começo do enfaixamento de pés.
Esse costume não teve início antes da dinastia Tang. Por isso, entre os poemas escritos por tantos poetas, cantando a beleza das mulheres, descrevendo incessantemente com grande interesse seu aspecto e gestos, a riqueza de seus adornos no cabelo e cosméticos faciais, seus mantos e saias, a delicadeza de seus cabelos, olhos, lábios, dentes, cintura, mãos e pulsos, nem uma só palavra foi dita acerca de seus "pés pequeninos". No Guofu diz-se: "Novo bordado de seda cobria-lhe o alvo tornozelo e o arco de seus pés era como uma. linda fonte". Caoshi (192+232) tem uma frase assim: "Ela usava sapatos bordados para longas caminhadas". Li Bai (701+762) diz em um poema: "Um par de tamancos denteados de ouro; dois pés brancos; como geada". Han Zhiguang escreve: "Seis polegadas de fina pele arredondada resplendem à luz". Tu Muzhi (803+852) escreve: "Mede um pé menos quatro décimos de polegada". O documento "Miscelâneas dos Segredo Han” diz, descrevendo uma jovem escolhida para ser rainha: "Seus pés mediam oito polegadas e seus tornozelos e arcada eram belos e cheios". Tais menções de "seis polegadas" e "oito polegadas" de pés brancos, macios e cheios mostram que os pés das damas antes do período Tang não eram curvados para se assemelharem à lua crescente.
O caso do Soberano Idiota Oriental de Ci (aprox. +500) pode ser lembrado. Fez ele com que sua concubina real favorita a Srta. Pan, pisasse em reproduções de flores de lótus feitas de ouro e arrumadas no soalho e disse: "Uma flor de lótus de ouro nasce de cada passo seu". Isto, porém, refere-se às reproduções de flores de lótus que ela pisou, mas não quer dizer que fossem lótus os seus próprios pés. Cuibu refere em seu livro sobre a origem das Coisas, o Guqinchu, que havia sapatos com cabeças de fênix, com duplas solas, mas não há indicação de que só se referisse a sapatos de mulheres.
Na dinastia Sung, poucas mulheres enfaixavam os pés antes do reinado de Yuanfeng (1078+1085). Mas, nos quase quatrocentos anos que se seguiram, a partir da dinastia mongol (1277+1367) até o presente, as modas e exageros antinaturais desenvolveram-se firmemente e caíram em excessos.
Todas as mulheres antigas usavam meias. No dia em que a Rainha Yang Gueifei morreu (aprox.+756) em Mahuai, uma aldeã recolheu o pé de um par de suas meias bordadas. Exibiu-o ao público, cobrando cem moedas de quem o tocasse. Li Bai diz em um de seus poemas: "Seus pés são brancos como a geada; ela não usa meias de canos pretos". Um dos nomes dados às meias era chiku (estojo do tornozelo). Quando o Imperador Gaozong (1127 + 1162) soube da morte de seu primeiro-ministro, Qinguei, disse: "Agora, não preciso esconder um punhal em minha chiku". Assim, as meias, ou chiku, eram usadas tanto por homens quanto por mulheres. A diferença é que as meias, nos tempos antigos, eram pregadas solas, o que não se dá hoje. Nos tempos antigos, podia-se caminhar de meias sem sapatos. Hoje, não podemos fazer isso... Zao Zijian diz: "Move-se ela com passos leves. Suas meias de seda ficam empoeiradas". Li Houzi escreve: "Ela desce os degraus perfumados, de meias, trazendo na mão os sapatos de fios de ouro". Tal, na verdade, é a diferença entre os sapatos e meias antigos e os dos tempos modernos.
De saltos altos não encontro menção nos livros. Parecem ser invenção moderna. Algumas damas de Wu faziam saltos de sândalo, cobertos com fina seda rígida. Umas tinham saltos escavados, trazendo dentro, escondido um saquinho com perfume, para que deixassem um rastro aromático ao caminhar. Isto é uma extravagancia monstruosa. Menciono tal coisa porque os poemas das dinastias Sung e mongol não fazem referência a isso, de modo que os poeta que queiram escrever a respeito de beldades antigas sejam cautelosos neste ponto.
65. Maozedong e a questão da mulher na China.
Maozedong, apesar de ser conhecido como um temido guerrilheiro comunista e organizador de um dos regimes políticos mais duras do século 20, foi igualmente um promotor da igualdade entre os sexos. Abolindo as antigas leis dos casamento, promovendo a entrada das mulheres no mercado de trabalho, e ensejando sua participação nos quadros políticos do partido, Mao combateu intensamente as tradições machistas do passado, alcançando um substancial sucesso nas áreas mais urbanizadas e na educação.

Na China, os homens são normalmente submissos à autoridade de três sistemas (o poder político, o poder do clã, o poder religioso). Quanto às mulheres, estão, além disso, submissas à autoridade dos homens ou o poder marital. Essas quatro formas de poder - política, do clã, religioso e marital - representam o conjunto da ideologia e do sistema feudo-patriarcal e são as quatro grossas cordas que prendem o povo chinês e, em particular, o campesinato. Mostramos, anteriormente, como os camponeses, nos campos, destruíram o poder dos latifundiários. Este é o pivô, a cuja volta gravitam todas as outras formas de poder. A eliminação do poder dos latifundiários abalou os poderes do clã, religioso e marital.... No que se refere ao poder marital, sempre foi mais fraco nas famílias dos camponeses pobres, onde a situação econômica obrigava as mulheres a assumir uma parte maior no trabalho que nas famílias das classes mais abastadas; daí terem, com mais freqüência, o direito de expressão e decisão nas questões familiares. Durante os últimos anos, devido à ruína crescente da economia rural, a própria base da autoridade do marido sobre a mulher se viu minada. Recentemente, com o aparecimento do movimento camponês, as mulheres começaram, em muitos lugares, a criar associações de camponeses; soara sua hora de erguer-se à frente, e o poder marital se enfraquecia dia a dia. Breve, o conjunto da ideologia e do sistema feudo-patriarcal vacilará diante da autoridade crescente dos camponeses.
[..]
É de primordial importância para a edificação da grande sociedade socialista levar as mulheres em massa a participar das atividades de produção. O princípio “para trabalho igual, salário igual” deve ser aplicado na produção. Uma verdadeira igualdade entre o homem e a mulher é realizável apenas no transcurso do processo da transformação socialista do conjunto da sociedade.
66. Xinran e as “Boas Mulheres da China”.
Mesmo a política de Mao a respeito das mulheres não foi suficiente para modificar alguns dos hábitos ancestrais chineses, o que foi constatado por Xinran Xue, radialista e autora que mantinha um programa dedicado as mulheres. A constatação de que o preconceito e a intolerância continuavam foi uma terrível descoberta, mostrando que muito ainda tinha que ser feito neste campo dentro da própria China. Sua obra, “As boas mulheres da China”, é uma coletânea de relatos sobre o tema.

Respeitada Xinran,
Ouço todos os seus programas. Todo mundo na nossa aldeia gosta deles. Mas não estou escrevendo para lhe dizer como o seu programa é bom; estou escrevendo para lhe contar um segredo. Não é bem um segredo, porque todo mundo na aldeia sabe. Há um homem velho e aleijado aqui, de sessenta anos, que comprou uma esposa recentemente. Ela parece muito nova. Acho que foi raptada. Acontece muito disso por aqui, mas muitas das garotas conseguem fugir mais tarde. O velho está com medo de que a mulher fuja, por isso amarrou-a com uma grossa corrente de ferro. A cintura dela está em carne viva por causa do peso da corrente- o sangue escoa pela roupa. Acho que ela vai morrer. Salve-a, por favor. Não mencione esta carta no rádio de modo algum. Se os moradores da aldeia descobrirem, expulsam a minha família daqui. Que o seu programa fique cada vez melhor. Seu ouvinte leal, ZhangXiaoshuan.
[...]
A carta que recebi do garoto Zhang Xiaoshuan foi a primeira a apelar para a minha ajuda prática e me deixou muito confusa. Informei o chefe da minha seção e perguntei o que devia fazer. Ele sugeriu, com indiferença, que eu entrasse em contato com o Departamento de Segurança Pública. Telefonei e contei a história de Zhang Xiaoshuan. O policial do outro lado da linha me disse que me acalmasse.

"Esse tipo de coisa acontece muito. Se todo mundo reagisse como a senhora, morreríamos de tanto trabalhar. E de toda forma é um caso perdido. Temos pilhas de relatórios aqui e os nossos recursos humanos e financeiros são limitados. Se fosse a senhora, eu pensaria bem antes de me envolver. Aldeões como esses não têm medo de ninguém nem de nada. Mesmo que fôssemos até lá, eles poriam fogo nos nossos carros e espancariam os nossos oficiais. Eles fazem o impossível para garantir que suas famílias se perpetuem, pois deixar de produzir um herdeiro seria uma ofensa contra os ancestrais.
[...]
"No interior" disse ele, "o céu está no alto e o imperador está muito longe." Na sua opinião, a lei não tinha poder algum lá. Os camponeses temiam apenas as autoridades locais, que controlavam seus suprimentos de pesticidas, fertilizantes, sementes e ferramentas agrícolas.
O policial tinha razão. No final, foi o chefe do depósito de suprimentos agrícolas da aldeia que conseguiu salvar a garota. Ameaçou suspender o suprimento de fertilizantes dos aldeães, caso ela não fosse solta. Três policiais me levaram até o povoado num carro da polícia. Quando chegamos, o chefe da aldeia teve que abrir caminho para nós por entre os moradores, que nos xingavam e sacudiam o punho na nossa direção. A garota tinha só doze anos. Nós a tiramos do velho, que chorava e praguejava amargamente. Não ousei perguntar pelo garoto que me havia escrito. Eu queria agradecer, mas a polícia me disse que, se descobrissem o que ele tinha feito, os aldeães poderiam assassiná-lo e à sua família. Presenciando em primeira mão o poder dos camponeses, comecei a entender como, com o auxílio deles, Mao derrotou Chang Kai-chek e suas armas britânicas e americanas.
A menina foi mandada de volta para a família em Xining – uma viagem de trem de vinte e duas horas, a partir de Nanquim-, acompanhada por um policial e alguém da estação de rádio. Apurou-se que os pais tinham contraído uma dívida de quase dez mil iuanes tentando encontrá-la.
Não recebi nenhum elogio por salvar a menina, só críticas por deslocar soldados, causar agitação entre as pessoas e desperdiçar o tempo e o dinheiro da emissora. Fiquei abalada com essas queixas. Havia uma garota em perigo e, ainda assim, ir em socorro dela era visto como "exaurir as pessoas e drenar o Tesouro”. Quanto valia, exatamente, a vida de uma mulher na China?

fonte:http://chinologia.blogspot.com/2009/08/mulher-na-china.html