Religiões orientais

 Confucionismo

O confucionismo é um sistema filosófico chinês criado por Kung-Fu-Tzu (Confúcio). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política, a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses como Junchaio (ensinamentos dos sábios). Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou uma continuidade histórica única.

Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng zi (Mêncio, ou Mâncio) e Xun Zi um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois originais autores buscaram compreender o confucionismo dentro de uma perspectiva naturalista, recorrente nas forças que atuavam na sociedade em seus períodos de vida.
Meng acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, que teria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O ser humano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo a evitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana.

Xun Zi

Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Ele acreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos de preservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pela necessidade de ordenação, tal como no fundamento das lendas de fundação chinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz de articular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas que para isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana.
Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, mas as classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas. Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.).

 Império chinês

O Confucionismo se tornaria a doutrina oficial do império chinês durante a dinastia Han ( séculos III a. C. - III d. C.), encontrando continuadores ao longo deste período que se destacaram em vários campos diferentes. Donz Zhong shu, por exemplo, buscou revigorar e re-interpretar o confucionismo através das teorias cosmológicas dos cinco elementos (Akasha, Água, Terra, Fogo e Ar); Wang Chong utilizou-se de um ceticismo lógico para criticar as crenças infundadas e os mitos religiosos.
Embora tivesse perdido um certo vigor após a dinastia Han, o confucionismo seria novamente desenvolvido no movimento conhecido como neoconfucionismo, datado do século X d.C., através da figura de personagens como os irmãos Cheng e Zhuxi, o grande comentador confucionista.

 Antiguidade

De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.
Dias de hoje
O confucionismo é ainda praticado em vários países. Além da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, é sentido em grupos de indivíduos que estudam religiões não cristãs.

video - ritual do confucionismo clique aqui



XINTOÍSMO 
A Religião Japonesa

Universidade de Brasília, Junho/Julho de 1999, Departamento de Letras - Tradução, Curso de Licenciatura em Língua Japonesa, Disciplina: Cultura Japonesa 1, Professora: Donatella Natili
 
A única religião que pode ser considerada genuínamente japonesa, com origens que se confundem com a do próprio povo, há pelo menos dois milênios predomina na mística do arquipélago do país do sol nascente.
Demorou a receber essa denominação adaptada do chinês xin-tao, "via dos deuses", por volta do século XI, embora muitos japoneses utilizassem o termo nativo kami-no-michi, com o mesmo significado.
Diferente do Budismo, que têm origem indiana e influência chinesa, o Xintoísmo é dominante apenas em seu país de origem, embora sua prática não implique no abandono total ou repúdio a outras formas de crença. Não se trata de uma concepção exclusivista, convivendo pacificamente e até complementarmente com outras práticas religiosas.
Na verdade por muitos estudiosos nem chega a ser considerada uma religião devido a ausência de elementos como códigos de leis explícitas, filosofia textualmente definida, profetas ou um livro sagrado mais elaborado.
Entretanto a ostensividade da penetração do comportamento xintoísta na vida de seus praticantes, perceptível não só em seus diversos rituais mas em todos os aspectos da vida, bem como sua ampla abrangência em seu país de origem, garante a esta concepção místico-filosófica o estatuto de uma das grandes religiões do mundo.
Baseia-se numa mitologia panteísta com inúmeras divindades que atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Na verdade tudo no universo é divino para essa concepção, sendo interligado e interdependente de forma que não só os seres vivos, mas o vento e a água, as pedras, a montanha, e todos os níveis invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte.
Nesse ponto se assemelha ao Taoísmo, e também quando diz que tudo é regido por forças de pureza hare, impureza ke, e a fusão de ambos kegare. Isso determina uma das mais importantes características do rituais xintoístas, a purificação de corpo e alma.
Outra característica forte é a harmonia com a natureza, o praticante busca se familiarizar e se integrar com a natureza num comportamento simbiótico, de onde ele tira seu sustento mas também deve retribuir. Dessa forma a sobrevivência depende do entendimento do ser humano com toda a estrutura vital a sua volta, considerando-a uma parceira e uma guia.
É oposta a muitas concepções ocidentais no qual o homem é adversário da natureza, lutando para dominá-la, subjugá-la. Na concepção Xintoísta, e oriental em geral, mesmo milênios antes de qualquer concepção ecológica, já se considera que o ser humano não pode viver em confronto com a natureza, o que é bastante interessante levando em consideração que as condições geográficas e climáticas do arquipélago japonês são sem dúvida uma das mais implacáveis do mundo, com grande número de vulcões ativos, terremotos intensos e furacões devastadores.
O estudo do Xintoísmo é vital para o entendimento da cultura japonesa, sua visão de mundo determina boa parte do comportamento nipônico, como sua capacidade de adaptação e absorção de novas idéias ao mesmo tempo que preserva as antigas, sua boa recepção a novas culturas e idéias, seu comportamento que valoriza a higiene e a saúde e seu sentimento de nacionalismo.
Mesmo se fundindo com outras religiões e se subdividindo em vários desdobramentos, o Xintoísmo deixa um legado que com certeza contribui para o receptividade dos japoneses, de forma que o exclusivismo principalmente religioso é pouco praticado no Japão.
Alías, é um lenda xintoísta que deu origem ao nome desta nação, que outrora fora chamada Yamato, de o país do sol nascente.
AS BASES MITOLÓGICAS
Como toda mitologia, o Xintoísmo também explica o surgimento do universo e assim como a grande maioria, considera que tudo teve origem de uma amorfia desordenada denominada CAOS.
Deste Caos separou-se o céu, duas forças fundamentais antagônicas, tais como o Ying e o Yang do Taoísmo, e 5 grandes deuses
As 5 grandes divindades saídas do CAOS são:
AMENOMINAKANUSHI
( Senhor do Nobre Centro Celestial)
TAKAMIMUSUBI
( Grande Gerador do Deus Prodigioso)
KAMIMUSUBI
( Divino Gerador do Deus Prodigioso)
UMASHIASHIKABIHIKOJI
( O Mais Velho Soberano do Cálamo)
AMENOTOKATACHI
(O Eternamente Deitado no Céu)
Deste último decorrem as 7 gerações divinas, dois seres completos e mais 5 casais:
KUMINOTOKATACHI
( Eternamente Deitado sobre a Terra)
TOYOKUMONU
( Senhor da Integração Exuberante)





 
UHIJINI
(Senhor da Lama da Terra)

SUHIJINI
( Senhora da Lama da Terra)
TSUNUGUHI
(Embrião que Integra)

IKUGUHI
( A que Integra a Vida)
OHOTONOJI
( O Mais Velho da Grande Morada)

OHOTONOBE
( A mais Velha da Grande Morada)
OMODARU
( Aspecto Perfeito)

AYAKASHIKONE
( Majestosa)
IZANAGI
( Varão que atrai)

IZANAMI
( Mulher que Atrai)

IZANAGI & IZANAMI são os seres criadores do arquipélago do Japão, no caso o mundo, e das inúmeras entidades secundárias, muitas das quais associadas a cada ilha.
Com a orientação dos deuses mais antigos e em poder da Lança Celeste modelam a massa disforme que era o mundo e dão origem a 10 filhos que representam elementos da natureza. São esses:




 
Divindade da ATMOSFERA
Divindade do VENTO
Divindade das ÁGUAS
Divindade dos PÂNTANOS
Divindade do OUTONO
Divindade das ÁRVORES
Divindade das MONTANHAS
Divindade do Barco de Cânfora
Deusa do ALIMENTO
Deus do FOGO

Após o último parto que levou IZANAMI a morte, IZANAGI revoltado decapta o Deus do FOGO, e do sangue jorrado surgem mais 16 deuses. Depois promove a descida aos infernos ou mundo dos mortos na tentativa de recuperar sua esposa. Com a qual entra em contato não visual.
Mas ela já tendo se integrado e comido da alimentação dos infernos a princípio não pode mais retornar, pedindo que IZANAGI a aguarde enquanto busca um meio entre as divindades regentes do inferno para que lhe seja permitida a volta. Ela o instruí a não se aproximar até segunda ordem, mas devido a demora IZANAGI ignora o pedido. Ao se deparar com o corpo putrefato de sua esposa é tomado de horror, e ela, revoltada com sua impaciência e sua reação, o persegue junto com espíritos infernais.
Ao retornar ao mundo dos vivos ele se banha em um rio para se lavar das impurezas dos infernos, realizando a Purificação, de seus trajes abandonados e das impurezas saídas de seu corpo nascem muitas divindades muitas das quais maléficas.
Depois, de seu olho esquerdo nasce a deusa solar AMATERASU e o do direito o deus lunar TSUKI, do nariz surge SUSANOWO que se torna imperador do oceano.
E a participação ativa de IZANAGI e IZANAMI terminam aqui, assim como a de qualquer outro dos deuses mais antigos, deixando entretando uma descendência de pelo menos 800 divindades.
AMATERASU, a deusa solar, é a grande mãe do povo japonês, sendo considerada a ancestral primeira de toda a descendência imperial japonesa. Tal crença será base de um importante comportamento nipônico que abrange o nacionalismo e a identidade cultural
Essa é uma das mais interessantes peculiaridades desta mitologia, diferente da grega, egípcia, Asteca, etc. O sol, é uma entidade feminina. Isso demonstra que algumas religiões orientais apresentam um ponto de vista diverso daquele que atribuí sempre ao Sol uma característica masculina, o que fecunda lançando seu semêm sobre a Terra, que possui característica feminina sendo o óvulo onde germina a vida. Tal concepção encontra correlação até mesmo científica, uma vez que toda a vida que nasce na Terra provêm e depende das emissões de energia do sol.
No entanto houve épocas em que não se conhecia o papel masculino na reprodução, nessa antiguidade eram mais comuns as deusas solares. Mas um fato ainda mais notável é que geralmente o Sol seja associado a divindades masculinas em locais mais quentes, Egito, Índia e América Central por exemplo, já em locais mais frios a associação com divindades feminas é maior. Provavelmente onde o Sol é mais agressivo, sobressái suas características masculinas, e as femininas predominam onde o Sol é mais associado a idéia de conforto, calor agradavel. Há exemplos na Escandinávia, Alemanha e América do Norte.
AMATERASU reinava no céu, e na Terra através de seus descendentes, no caso os imperadores. SUSANOWO, o masculino impetuoso, ambiciona mais que o reino do oceano e perturba a deusa solar em sua morada celestial. Entre outras coisas destrói os arrozais sagrados, bloqueia fontes de irrigação e suja o palácio da deusa. Indulgente, ela o perdoa até que sua ofensa se torna inaceitável, ele jogara um cavalo morto entra a deusa e suas serviçais tecelãs ferindo mortalmente muitas delas.
Amargurada ela se esconde numa caverna sagrada e toda a terra mergulha na mais profunda escuridão e catastrófes. Em desespero os 800 deuses precisam tomar uma providência, elegem o sábio OMOIKANE-NO-KAMI para convencer a deusa a voltar, uma vez que não se pode trazê-la a força.
Este então ordena a construção de um espelho místico e um colar de pérolas. Em frente a caverna faz um fogueira queimando o omoplata de um gamo, o que provoca estalos e fagulhas que formam desenhos, uma das mais antigas formas de advinhação japonesa praticada por feiticeiros. Traz um pinheiro do monte Kagu e deposita o espelho e o colar na parte de cima, na parte de baixo põe oferendas.
A deusa AME-NO-UZUME dança em frente a caverna com os seios a mostra, todos os deuses se reunem e passam a rir e a gritar como numa festividade. O objetivo era tentar dar a entender a AMATERASU que tudo estava bem e todos estavam felizes, como se não precisassem mais dela e tivessem uma nova deusa solar.
Intrigada ela sai da caverna para ver o que está acontecendo, os deuses postam o espelho em frente a seu rosto e ela pensa estar diante da nova deusa do sol, cada vez mais curiosoa ela sa afasta da caverna, os deuses então fecham a entrada com um corda de palha trançada, que até hoje significa a proibição de se entrar em locais sagrados.
Dessa forma o sol volta novamente a brilhar no mundo, SUSANOWO é "multado", tendo que pagar mil pranchas de oferendas e é banido para a terra na região do IZUMO, o "país tenebroso" que era um tipo de inferno.
Algumas versões da lenda dizem que ele se tornou um deus do mal em sofrimento, outras dizem que ele se arrependeu e passou a praticar o bem. Tais divergências são apenas um dos resultados de uma mitologia que sobreviveu por mais de um milênio sem nenhum registro escrito.
Como em quase todas as mitologias, ocorre uma "situação" de desavença entre as divindades. Na religiões bíblicas houve a guerra no céu entre o revoltoso LÚCIFER e o Pai Celestial. Na mitologia grega a guerra do Titãs quando ZEUS destronou CHRONOS, na egípicia houve a luta entre HÓRUS e SETH e assim prosseguem relatos semelhantes no MAHABARATA, nas lendas nórdicas, e em muitas religiões indígenas inclusive amazônicas.
O Xintoísmo entretanto tende a ser mais peculiar, pois nesse caso apesar dos episódios de IZANAGI e o Deus do FOGO, e de SUSANOWO e AMATERASU, não ocorre entretanto um guerra generalizada, assim como o Xintoísmo também não prevê detalhadamente um Apocalipse, Armageddon, Ragnarok, Mahapralaya ou Crepúsculo dos Deuses.
A punições aplicadas ao deus do oceano, são uma garantia dos deuses de que novas catástrofes cósmicas não mais se abaterão sobre os 3 mundos, o Céu a Terra e os Subterrâneos.
Dentre as inúmeras interpretações possíveis dos mitos, não só xintoístas mas de qualquer outra crença, torna-se muito interessante destacar pelo menos duas.
O ser humano possui em algum "momento" de sua psique primária a noção de que os deuses não possuem uma vida muito diferente da dos mortais. Dessa forma tentam explicar o universo, a gênese e a natureza em todos os níveis visíveis e invisíveis atribuindo estórias de caráter humano com personagens de comportamente humano.
De certa forma, o homem cria os deuses a sua imagem e semelhança.
Tal concepção só tende a desaparecer nas crenças mais "evoluídas" intelectualmente, geralmente absorvendo crenças antigas, aplicando-lhe interpretações mais racionais e contextualizando-as num plano maior a exemplo do que o Espiritismo Kardecista faz com o Cristianismo ou o Budismo faz com o próprio Xintoísmo.
Uma vez que todos os fatos históricos marcantes estão associados a perídodos perturbados mesmo nas mais primitivas sociedades, seria natural que um evento de importância tão absoluta tenha se caracterizado por movimentos agitados.
A agitação máxima desse tipo de visão, a razão primária de todas as coisas é o CAOS. Em quase todas as religiões ele surge como o princípio ativo criador. Intrigante é o fato de que muitas vezes o CAOS se confunde com o ÉTER, vazio. Em algumas crenças são coisas distintas e em outras são complementares e as vezes até a mesma entidade numa relação paradoxal de Ser e Não-Ser.
Muitos teólogos modernos gostam de ver a crença no princípio caótico do universo associado a teoria do BIG-BANG. Nesse caso antes da grande explosão teríamos o vazio, o ÉTER, e em seguida o CAOS, que é exatamente o que teria ocorrido de acordo com a física contemporânea.
Da caótica geração violenta de matéria que deu origem ao universo viria toda a criação.
No Xintô já havia a separação do céu em relação a terra, mas está estava na forma de CAOS, uma massa amorfa. IZANAGI e IZANAMI que através da Lança Celeste lograram a organização, "misturando" porções dessa massa que se tornaram as ilhas e deixando o restante na forma do mar.
A maioria das mitologias segue esse padrão, baseando-se na sua restrição de visão de universo, que os faz considerar apenas sua porção de mundo. A noção da esfericidade da Terra está além de sua visão de mundo inicial, fazendo-as inferir então sobre uma extensa horizontalidade não relativa, que separa Céu, Terra e se for o caso Subterrâneos.
A maioria das mitologias atualmente, após todas as descobertas científicas, reconhecem suas cosmogêneses principalmente numa forma simbólica, ou valorizando-as uma visão de época, não sofrendo então um choque cultural entre fé e ciência.
Outras tentam desesperadamente reinterpretá-las, buscando novas significâncias para termos que as tornariam atuais, pretendendo então conformá-las com os conhecimentos modernos ou em casos mais extremos até declará-los superiores.
O Xintoísmo opta pela primeira opção, nunca se defrontando então com o racionalismo ou cientificismo, reconhece tudo em sua visão de interdepêndencia usando-a como uma noção mais abrangente e se eximindo então de maiores contradições.
 
CARACTERÍSTICAS

OS KAMI
O termo japonês kami significa "algo elevado", "divino", "superior". Não existe tradução precisa mas o termo é atribuído aos espíritos sagrados, deuses e divindades em geral. Todos os elementos da natureza, seres vivos ou mesmo minerais possuem seus kami. Deve-se tomar cuidado por que o termo kami em japonês também pode siginificar "cabelo"ou "papel".
Por ser a mãe de toda a família japonesa e fundadora do Japão, AMATERASU é considerada como a mais elevada dos kami, deusa não só do Sol mas de toda a luz, claridade física e espiritual. O xintoísmo destaca como uma de suas máximas, a busca espiritual para a claridade, a pureza da luz.
Além das divindades mitológicas, muitos "ícones" também podem ser atribuídos a "kamis", como por exemplo um objeto sagrado, usado em ritos, ou o tesouro de determinada comunidade.
Pesonagens humanos que realizem grandes feitos, heróis, e o próprio imperador, descendente direto de AMATERASU, recebem veneração comparável a dos kami. No caso dos hérois o feito pode ser de qualquer ordem, militar, social ou artístico, podendo esta celebridade receber santuários. Mas lembremos que isso não significava torna-lo equivalente a um kami original, pois não se perde a noção do limite que o separa de um ser humano. Apesar disso na verdade o que se admira não é o personagem humano em si, mas sim a sua parte divina que o permitiu realizar o que quer que tenha feito.
Para o Xintô um deus pode soltar partes de sua própria essência que dará origem a novas entidades independentes, e muitas das "encarnações" dos deuses podem morrer, diferente por exemplo da maior parte das mitologias ocidentais.
IZANAMI, o Deus do FOGO e SUSANOWO são exemplos disso, mas isso não siginifica que estejam de fora do panteísmo, pois passam então a integrar exclusivamente o mundo espiritual. Muitos deuses tem túmulos identificados, onde se presta reverências.
O SER HUMANO
Descendentes dos deuses, os humanos são pela visão xintoísta, seres a princípio puros e bons tal como seus ancestrais. Não existe como no Cristianismo, o Pecado Original, que impregna todo o ser humano desde que nasce tendo que ser purificado pelo batismo da igreja. Ou a decadência de um estado superior, como foram as idades de Ouro, Prata, Bronze até chegar a idade do Ferro, como há na mitologia grega, seu correlativo Hindu e seus equivalentes Gnósticos, ou o estigma de um sofredor por natureza, como no caso do Budismo.
Quando um ser humano pratica o mal, ele está sobre influência do Yomi, a essência negativa do universo, através de suas entidades malignas e energias impuras. A ele resta então praticar a purificação e o reencamihamento a luz.
Para o Xintô, todo o pecado não passa de um sujeira temporária acumulada posteriormente, entretanto os que se entregam a maldade, cultivando-a e abnegando-se da purificação, invariavelmente serão punidos pelos Kamis.
Aquele que insiste na maldade acabará tendo por resultado o destino do mundo subterrâneo, os infernos, e talvez a incorporação ao Yomi. Mas no Xintoísmo não existe também o estigma da danação eterna, mesmo além do mundo físico a vida continuará, assim como foi com os deuses antigos, deixando sempre uma possibilidade de redenção.
A PUREZA
Quando o kami IZANAGI se banhou em um rio para se limpar das impurezas, deu origem ao mito da purificação. Segundo o Xintô, tudo na natureza é influenciado pela pureza e a impureza, principalmente o ser humano. Este deve então buscar a constante purificação com o objetivo da elevação espiritual, única maneria de se tornar merecedor da ajuda dos deuses.
Muitas atitudes da vida mundana mesmo as necessárias, implicam em impurezas, principalmente as associadas com o sangue. Matar animais ou outros seres humanos torna a pessoa impura, necessitando de um ritual de purificação. Até mesmo o parto e a mestruação feminina são períodos de impureza que faz necessária a prática constante da purificação.
Segundo o Xintô, todo o valor decorre da pureza, o ser humano só encontrará a verdadeira iluminação em seu estado puro. A vida na impureza conduz a desgraça e ao sofrimento, gera manchas que atraem espíritos malignos e desperta o repúdio e a ira dos deuses.
Existem básicamente 3 tipos de impurezas, "pecados", que podem envolver o ser humano.
Os WAZANAI são as desgraças, os infortúnios que se abatem sem culpa do indivíduo, mas os quais também precisam ser lavados.
Os KEGARI são as manchas em geral do dia a dia, a manipulação de cadáveres inclusive de animais, a sujeira pelo sangue, condutas levianas ou imprudentes.
Os TSUMI são os "pecados" propriamente ditos, as maldades cometidas deliberadamente.
Dessa forma há os 3 principais ritos de purificação
O HARAI promove a purificação do "pecados", TSUMI. O rito do HARAI se baseia na punição de SUSANOWO, com o qual guarda semelhanças como a oferta de oferendas.
O MISOGI faz a limpeza das impurezas obtidas não intencionalmente, manchas, os KEGARI. Também usado para purificar o ser humano das desgraças das quais ele pode ser vítima, WAZANAI, sendo esse ritual baseado no mito do banho de rio de IZANAGI.
O IMI é basicamente a abstinência de certas atitudes impuras, alimentos, bebidas, ou atividades que resultem em impurezas pelo menos por algum tempo. De caráter poderia-se dizer mais preventivo, é aplicado principalmente ao KEGARI.
O NATURALISMO
Sendo que toda a natureza descende de "kamis" assim como a humanidade, fica claro que tudo está interligado tendo como origem em comum um ancestral divino. Assim sendo o ser humano e a natureza, seus elementos, minerais, vegetais e animais, são irmãos.
A vida dessassociada da natureza é incompatível com o Xintô, o ser humano não deve combatê-la ou transformá-la sem necessidade vital. É comum aos praticantes xintoístas o retiro para ambientes onde possam promover a integração com a natureza, uma forma de purificação, elevação espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação.
Como já foi dito na introdução, o Xintô e a própria cultura japonesa pregam que sendo a natureza sagrada, sua destruição é indesejável, e não existe o sentimento de hostilidade inerente recíproca imperante no ocidente, que econtra raízes até mesmo teológicas uma vez que após a explusão do paraíso, era evidente que a natureza do mundo diferente da do Éden, não seria amigável.
Outra prática bastante disseminada é a deificação de determinados elementos naturais em especial. Como por exemplo a árvore que representa um família ou um rocha que ocupa lugar de destaque em determinada cidade. Principalmente na antiguidade, era tradicional em muitas aldeias a veneração de algum "ícone" que representasse bem seu povoado ou dinastia.
O comportamento xintoísta é tão avesso a interferência no cenário natural, para ele é sagrado e perfeito, que qualquer atividade que implique em utilização ostensiva dos recursos naturais deve ser recompensada no mínimo com a construção de um templo dedicado a natureza.
AS MONTANHAS
As montanhas no Japão são muito numerosas e estão envolvidas nos aspectos da vida diária, é delas que brotam os rios, e são consideradas sagradas. Não são kami em si, mas sim moradias de kami. O território montanhoso é tão respeitado que mesmo hoje em dia, o alpinismo não é uma atividade muito difundida pelo povo japonês, e isso num país onde é difícil ver todo um horizonte livre da presença de montanhas.
É muito comum a contrução de templos nessas regiões, assim como cerimônias de deificação e requisição de boas colheitas à "deusa do arrozal" que vive nas montanhas. Nas lendas japonesas as montanhas ocupam lugar de destaque na associação com grandes desafios, buscas e peregrinações.
SACERDOTES
Os sacerdotes Xintoístas podem ser homens ou mulheres e deles não se exige o celibato. Muitas vezes são líderes familiares locais que devido ao seu grau de serviço em relação a religião galgam graus de hierarquia... ( A ser complementado)
TEOLOGIA
Outra constante nas maioria das concepções místico-filosóficas é a presença de um tipo de relação cíclica de causa e efeito muitas vezes resultante numa trindade.
O grande Kami-natureza é de certa forma o CAOS, o ABSOLUTO, a fonte e origem de tudo, ou o Não-Ser, o princípio fundamental. Deles saiu os Kami, que são a "via", a luz. E existe também o ser humano.
O ser humano é dotado com a capacidade de incorporar o grande Kami-natureza e atingir a "via", então essas 3 entidades, o ser Humano, a "via" e o Absoluto tornam-se um só.
A correlação também pode ser entendida como uma forma de santíssima trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, sendo respectivamente Kami, ser humano e o Absoluto, ainda que numa interpretação filosoficamente diferente da tradicional que em se tratando de teologia jamais poderia ser considerada a única "correta".
Trindades como essa estão presentes em várias doutrinas, o Ying-Yang e a união no TAO. A força masculina a feminina e a união, CAOS, EROS e ÉTER.
Nas místicas que dão mais ênfase a questão psicológica é comum vermos o conceito de Consciência numa interpretação mais elevada e geralmente paradoxa, como "a consciência sabe sem saber", ou "é tudo e ao mesmo tempo é nada".
O oriental têm muito mais facilidade de aceitar tais paradoxos que os ocidentais, talvez por não terem sido diretamente submetidos ao ponto de vista mais cientificista de procedência européia, principalmente a lógica cartesiana, o materialismo dialético e o dualismo exclusivista.
Conta-se que na Segunda Guerra Mundial, um certo piloto após uma missão de reconhecimento aéreo pousou seu avião, e fez um relatório onde apresentou informações de vital importância e logo em seguida caiu sem vida. Ao se checar o corpo do piloto, seus companheiros constataram que este já estava frio, morto há várias horas.
O que para os ocidentais já nessa época seria motivo de assombro, investigação científica intesiva, sigilo e sobretudo medo, para os ocidentais a explicação é simples e espontânea. Devido a importância de sua missão o espírito conduziu o corpo mesmo após sua morte, em honra e dedicação sagrada a seu país e o imperador.
Acontecimentos sobrenaturais tendem a ser aceitos pelo povo tradicional japonês sem grandes resistências tanto de cunho ceticista quanto de postura "herética".
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O desenvolvimento do Xintoísmo obedeçe principalmente a 3 períodos distintos.
O Xintô primitivo perdura de períodos indefinidos até cerca do século VI dC. Representava a união das crenças indígenas predominantes no arquipélago do país cujo primeiro nome fora Yamato, devido a liderança desta província sobre as demais. O isolamento natural com certeza garantiu a consolidação e hegemonia necessárias para que mesmo na ausência de qualquer regulamentação teórica, aliás até mesmo de escrita, os mitos populares se cristalizassem na cultura.
A grande maioria dos contos mitológicos provêm dessa fase e obviamente não se pode ter certeza de sua regularidade através dos tempos. Mas como toda e qualquer mitologia, o inconsciente humano garante pelo menos a linhagem básica do mito, variando principalmente na sua manifestação icônica.
Apresenta nessa fase todas as características comuns a qualquer mitologia primitiva, panteísmo, gênese figurativa, com elementos reconhecíveis da própria cultura representando conceitos místicos, e explicações sobre a origem e destino das coisas.
Nessa fase o Xintô sequer tinha nome definido, sua designação mais comum seria kami-no-michi, "a via dos deuses", mas como era praticamente a única, tal distinção não se fazia necessária.
Com a entrada da cultura continental especialmente chinesa no Japão, a partir do século VI dC, houve entre outras coisas a importação de uma filosofia específica, o Confucionismo, e uma nova religião, o Budismo.
Obviamente assim como qualquer sociedade primitiva não havia filosofia pura, aquela desassociada da mística, na terra de Yamato. Mas o Confucionismo caiu como um luva para o modo de vida daquela sociedade, se adaptando facilmente a seus hábitos e justificando muitos de seus costumes.
O Budismo também não representou nenhum choque cultural grave. Primeiro por que trata-se de uma concepção místico-filosófica, que não reclama o status de religião, não têm caráter exclusivista, e não condena necessriamente aquele que não a pratica.
Salvo pequenas exceções o Budismo e o Xintoísmo apresentaram uma convivência pacífica e muitas vezes complementar, muitas idéias do Budismo passaram a ser usadas para explicar mitos xintoístas e muitos kami foram renomeados Budas.
Entretando as diferenças naturais entre elas exigiram que uma distinção fosse feita e só então a crença kami-no-michi ganhou finalmente no século XI d.C. o nome que perdura até hoje.
Somente em 712 d.C. é que surge graças ao esforços de estudiosos, o Kojiki, História das Coisas Antigas, sobre a antiguidade japonesa e mais posteriormente o Nihongi, Crônicas do Japão, em 720 e o Engishiki, já no início do século X. Nesses ecritos antigos têm-se os primeiros registros da história antiga do Japão e das bases mitológicas Xintoístas. Entretanto sua imprecisão é grande, mesmo em fatos históricos como o do provável primeiro imperador Jimmu-Tenno, são cercados de muitas dúvidas quanto as datas em que viveram e o conteúdo exato de seus feitos.
Tendo sido produzidos por decreto imperial, esses registros obedeciam além de interesses de reconstituíção cultural, objetivos "doutrinários", resgatando os elementos primitivos que pudessem embasar a descendência divina imperial e a legitimação sagrada do estado. Dessa forma é evidente que não se pode esperar fidelidade absoluta apenas ao mito primitivo em si, pois os interesses da época com certeza o influenciaram em grau indefinido.
Os mitos recuperados e conservados nesses livros então não têm como representar com total fidelidade o conteúdo mais primitivo do Xintoísmo, e refletem mais a forma como a sociedade da época lidava com a crença.
De qualquer forma o Xintô mesmo não possuindo livro sagrado, começou a ser melhor identificado e regulamentado, mas passou a ser relegado cada vez mais a segundo plano devido a predominância do Budismo, principalmente devido ao total apoio que o princípe Shotoku (573-621) dava a sua disseminação e a da cultura chinesa em geral.
O Budismo passou a ser quase uma espécie de religião oficial, praticado nas côrtes reais, mas o Xintoísmo não foi totalmente esquecido, tendo sempre algum lugar ao lado da predominante religião de procedência chinesa, que durou até o século XVIII.
Nessa fase também surge um aspecto notável, o Ryobu-Xinto, ou Xintô de duas faces. É mais que uma convivência pacífica com o Budismo mas quase um fusão destes. Havia casos de sacerdotes que comungavam nas duas religiões, assim como fiéis Xintô que recorriam ao monges Budistas para obter recursos para seus templos.
Havia rituais duplos tanto em santuários budistas quanto xintoístas mas o mais interessante foi a forma como a filosofia budista explicou a mitologia xintoísta. Entre outras coisas classificou os Kami como encarnações temporárias de Buda, assim como enquadrou toda a mitologia Xintô dentro de um mais abrangente plano universal visto pela ótica budista. Dessa forma o Budismo não desmereceu o Xintô, apenas o reinterpretou extendendo a importâncias do Kami também ao Budismo, que em alguns templos passou a venerá-los tal qual entidades da religião dos Buda.
A própria deusa solar AMATERASU recebeu um nome budista Dai-michi-nyorai, um encarnação da divindade Birshana.
Isso prova que o Xintoísmo não só e compatível com o Budismo como na verdade pode ser até mesmo uma diferente interpretação de alguns de seus aspectos, sendo o Budismo uma crença reencarnacionista, o Xintô que apesar de não explicitar o mesmo ponto de vista também não o condena, podendo ser considerado pelo menos subjetivamente reencarnacionista como praticamente todas as místicas primitivas.
Apesar disso no século XVI, houve a entrada de uma religião totalmente incompatível com o próprio ou com o Budismo. O Cristianismo europeu penetrou no Japão e embora não tenha sido expressivo demograficamente, constituí um fato notável.
Totalmente intolerante com qualquer outro tipo de crença, não plenamente por essência e mais por postura política, o Cristianismo no Japão obviamente não pode contar com a violência das Cruzadas ou da Santa Inquisição, tendo que se valer unicamente de seu apelo emocional e argumentação, o que numa cultura tão diferente, não conseguiu lograr-lhe uma disseminação ampla.
E importante lembrar também que o Japão nunca sofreu uma invasão cultural, mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial a cultura japonesa sobreviveu e se forteleceu de forma homérica.
Uma especialidade do povo japonês é a capacidade de absorver novas idéias ao mesmo tempo que conserva as antigas, e cria coisas novas e próprias enquanto transforma as alheias em seu benefício. Tal comportamento já era de certa forma presente no Xintoísmo e no Budismo e perdura até hoje, dando ao país do Sol Nascente um incrível capacidade de adaptação que lhe permitiu ser uma das nações técnincamente mais avançadas do mundo e ao mesmo tempo uma das mais conservadoras.
Se tomarmos por exemplo as américas, veremos que as culturas originais foram praticamente dizimadas pela cultura européia, principalmente no caráter místico através de uma religião dogmática de comportamento muito mais prático e mundano do que trascendente.
O Japão então foi beneficiado não só pelas condições histórico e geográficas como também pelo fato da religião predominante a ser importada, o Budismo, não praticar a dominação filosófica cultural explícita e muito menos teologicamente defendida.
O "Renascimento", a terceira fase do Xintoísmo ao contrário dos períodos anteriores têm data precisa de início, 1868. Até este ano o Japão encontrava-se sob o Xogunato, o regime dos samurais, mas este dando lugar a uma nova ascenção imperial exigiu do imperador instrumentos psicológicos convincentes para manifestar seu poder perante o povo.
Um desses intrumentos foi a reafirmação da crença xintoísta que dava à família real um caratér divino, descendentes diretos de AMATERASU, deixando esta numa posição bem mais apropriada perante seus súditos.
Nessa época acompanhou também um movimento de reafirmação nacionalista e sendo o Xintô a religião tradicional do Japão, este ganhou um caráter patriótico e de identificação cultural.
Têm início a era Meiji, que modernizou o Japão num ritmo inigualável por qualquer outra nação no mundo, houve também um certa reação ao Budismo e muito maior ao Cristianismo, teologicamente incompatível com o Xintô.
Nessa época surgiu o Xintô de Estado, Jinja-Xinto, que assume o caráter de religião oficial declarada. e outras divisões como o Xintô-Popular, Minkan-Xinto, mais espontâneo, o Xintô-Acadêmico, Fukko-Xinto, o Xintô da Casa Imperial, Koxitsu-Xinto, e o Xintô das Seitas, Kyoha-Xinto, que chegou a abranger 160 seitas.
O Xintô de Estado só vêm a cair em 1946, com a derrota do Japão para os E.U.A. na guerra do pacífico, o imperador então perde seu poder político mantendo apenas o simbólico mas o Xintoísmo não enfraquece, pelo contrário, assume um caráter ainda mais forte de nacionalismo num sentimento patriótico de auto defesa psicológica.
Apesar da reconstrução do Japão, assim como sua modernização de certa forma agredir um princípio básico do Xintoísmo de respeito pela natureza, o Xintô sobrevive dando provas de sua flexibilidade diante da calamidade que se abateu sobre seu povo, que precisou lançar mão entre outras coisas de grande parte dos recursos naturais para se reerguer.
 
XINTOÍSMO MODERNO
 
Hoje em dia o Xintoísmo não tendo mais o caráter de religião oficial e nem sendo mais regulamentado politicamente, assume desdobramentos mais espontâneos, e sua convivência com o Budismo, ainda a segunda maior religião do Japão, e outras religiões como o Cristianismo, têm se dado de forma pacífica e harmônica.
O povo nipônico não aceita facilmente o exclusivismo religioso radical, sendo perfeitamente normal a congregação em mais de uma religião. É comum casos de famílias que fazem seus rituais ora num templo ora numa igreja.
Isso praticamente inviabiliza o crescimento de religiões fundamentalistas como O Islamismo, o Shikismo e certas Religiões Protestantes. Ainda assim, todas podem ser encontradas no Japão.
Diversas seitas novas de características Xintoístas têm surgido recentemente sendo muito comumente iniciadas por líderes locais que obtêm "revelações" através de experiências transcendentes. Muitos desses novos messias são, diferente da maioria esmagadora das religiões do mundo, mulheres.
Algumas dessas "novas" religiões, chamadas shinko shukyo, são ainda do período TokugawaTenrikyo que tem Nakayama Miki(1798-1887) como fundadora, e cujo nome significa "Religião da Divina Sabedoria". (1603-1868) como a
Outras de 1868 a 1945 como a Omoto, a Hito no Michi e a Soka Gakkai, esta última de características budistas antigas influenciadas pelo budismo Nichiren, e com muito seguidores ocidentais. A famosa Seich-no-Ie é de 1930, fundada por Masaharu Taniguchi.
As surgidas após 1945 são consideradas "novas novas religiões", como a Aum Shinrikyo.

Fonte:http://www.xr.pro.br/monografias/XINTO.html

Taoismo

Assim como muitas das religiões do oriente, o taoísmo também possui suas lendas, a começar pela sua criação.
O Taoísmo é  nome sempre associado ao lendário Lao Tsé (600 a.C.) ,porém remonta a tempos bem mais antigos , pois o Taoísmo teria surgido na época do semi-lendário Huang-ti - o Imperador Amarelo, um dos cinco imperadores sábios da China, que antecederam a construção do Império Chinês e o constituíram.
 Nascido na China, o taoísmo foi criado pelo sábio Erh Li, ou Lao Tsé, que teria vivido no século VI a.C. Segundo a tradição, Lao Tse teria nascido no sul da China no ano 604 a.C. sendo que ele já nasceu velho. Por discordar do comportamento dos regentes, que considerava tiranos, abandonou todas as suas atividades, foi para casa e passou a pregar a adoção por parte das pessoas de um estivo de vida simples, sem luxo e sem apegos. Para evitar a curiosidade de muitos, Lao Tsé comprou um boi e uma carroça, e partiu para a fronteira da província, deixando aquela sociedade, que julgava corrompida para trás. Ao chegar à fronteira, o policial, um de seus amigos, Yin-hsi, o reconheceu e não permitiu sua passagem, dizendo a Lao Tsé que ele só poderia passar após escrever seus ensinamentos. Passados três dias, o sábio, agora com 80 anos, retornou com seus ensinamentos escritos em um pequeno livro. Ele o chamou de “Tao te Ching”, que significa o “Caminho e seu Poder” ou o “Caminho e Princípios Morais”. Logo após, ele cruzou a fronteira e partiu para nunca mais voltar. Lao Tsé foi canonizado pelo imperador Han entre os anos 650 e 684 a.C. Segundo a história, ele morreu no ano 517 a.C.
O taoísmo é uma religião politeísta, filosófica e anti-intelectual. O objetivo dos seus seguidores é encontrar o caminho espiritual (Tao), mas o Tao é mais do que apenas um caminho, o Tao é a fonte de tudo (podendo por esta concepção, ser associada à figura do Deus cristão). Para se alcançar o Tao é necessário adotar um estilo de vida simples, ligado à natureza e longe dos apegos à matéria. O Taoísmo implica passividade e não atividade. Para um sábio taoísta, a ação mais importante é a não-ação, deve-se adotar a contemplação e não se buscar a compreensão das coisas, mas sim, sua aceitação. A própria caridade não deve ser ativa, mas manifestada na forma boa vontade sem limites com todos os outros, sejam eles bons ou maus.
Contemporâneo de Confúcio, Lao tse, propôs uma compreensão oposta ao confucionismo, onde as pessoas fossem ingênuas, como as crianças, não procurassem interferir nos acontecimentos da vida, apenas os aceitassem e não adotassem sistemas administrativos ou políticos. A base do taoísmo pode ser resumida nas suas “três jóias”: compaixão, moderação e humilhação. A bondade, simplicidade e delicadeza também são virtudes que o Taoísmo busca.
 
Primando pela simplicidade , a religião taoísta ensina que o caminho do universo é a harmonia e equilíbrio entre o Yin e o Yang .O taoísmo como forma de procurar a harmonia, tem uma concepção diferente do bem (yang) e do mal (Yin), ambos são complementares e estão em constante movimento, não podendo existir isoladamente, pois no desequilíbrio  destes sobrevêm infelicidade e doenças, violências, guerras e iniquidades...numa palavra só , o Sofrimento. Logo , buscar o equilíbrio e harmonia é a saída para o sofrimento.
 O lado exotérico do Taoísmo pode ser visto nas preces, rituais devocionais  econdutas éticas que acabam por influenciar as artes , literatura  , medicina , culinária e política.
Já o lado esotérico enfatiza o autodomínio, autoconhecimento, exercícios psicofísicos e  alquimia interior.
O Taoísmo possui ramificações e seus conhecimentos são manifestados através de Escolas Taoístas que poderiam, de modo geral, ser classificados de acordo cinco vertentes:
·        Dan Ting - Significa literalmente Caldeirão e Elixir; é a que nós chamamos no Ocidente de A Escola da Alquimia;
·        Fu Lu - Fu significa literalmente Correspondência, e Lu quer dizer Ordenar. Ou seja, é A Escola da Correspondência e da Ordenação, refere-se as Escola Ritualística e da Lei Cósmica;
·        Jin Dien - Literalmente significa Textos Clássicos. São escolas que enfatizam mais os estudos clássicos, podem ser chamadas de Escolas Filosóficas ou Escolas de Estudos filosóficos do Taoísmo;
·        Ji San - significa Acumulação da Bondade: aplica os conhecimentos taoístas em benefício da sociedade, da pessoa, da vida; podemos dizer que é a escola taoísta voltada para as práticas taoístas na vida quotidiana;
·        Dzan Yen - significa Oráculos e Experiências , ou seja, I Ching, Astrologia, Artes Marciais, Acupuntura, incluindo conhecimentos de cura através da ervas da medicina Taoísta e diversos trabalhos energéticos.
No taoísmo também existem dois grandes ramos: O Taoísmo religioso e o taoísmo filosófico, com as seguintes características:
·        Taoísmo filosófico é ateísta e se diz ser panteísta. Ele trata levar o homem a uma harmonia com a natureza através do livre exercício dos instintos e imaginações.
·        Taoísmo religioso é politeísta, idólatra e esotérico, possui escrituras sagradas, sacerdotes e templos. Ele teve início no segundo século, quando o imperador Han edificou um templo em honra a Lao Tsé, e o próprio imperador ofereceu sacrifícios a ele. Somente a partir do século VII é que o Taoísmo veio ser aceito como religião formal.
Ainda com referencia ao aspecto religioso, não podemos de deixar de ressaltar que os taoístas praticam:
·        Culto aos ancestrais - Comum nas religiões orientais, no taoísmo este costume é muito importante, pois muitos dos deuses são pessoas que viveram entre as pessoas comuns e que pela sua conduta exemplar, alcançaram esta condição;
·        Rituais de exorcismo -. O Taoísmo enfatiza que os demônios devem ser aplacados com presentes, a fim de assegurar a passagem do homem na terra.
·        Alquimia - o taoísmo prega a busca da longevidade e procura desenvolver métodos e medicamentos para que se atinja este fim;
·        Magia ou mágica - arte oculta com que se pretende produzir, por meio de certos atos e palavras, e por interferência de espíritos (demônios), efeitos e fenômenos contrários às leis naturais. Os discípulos de Lao Tsé diziam ter poder sobre a natureza e se tornaram adivinhos e exorcistas.
 Derivando dos conhecimentos taoístas  conhecemos em nossos dias o Tai-Chi-Chuan, o Chi-Kum, a Acupuntura e a Medicina Chinesa, e o Feng Shui.
Incentivando a busca do Tao, através de uma vida contemplativa e distante da realidade, onde o homem procura se integrar à natureza sem resistência, Lao Tsé procurou dar às pessoas um caminho para a harmonia e a paz. Para nós ocidentais, muitas vezes é confuso o processo de aceitação do pensamento oriental, mas sem dúvida é possível observar a grande preocupação que eles tem em levar o homem a uma existência feliz, o que no fundo, é o que todos nós buscamos. 
 Panteão taoista:Os taoístas são politeístas e veneram deuses ancestrais. Todas as pessoas que atingem a imortalidade se tornam deuses e são cultuados. Entre os deuses mais populares estão Shou Hsing, deus da longevidade; Lu Hsing, deus da riqueza; e Fu Hsing, deus da felicidade.


fonte:http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/religioes/taoismo.html


O Islã 

O Islão (português europeu) ou Islã (português brasileiro) (do árabe الإسلام, transl. al-Islām) é uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica no século VII, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé (Muhammad) e numa escritura sagrada, o Alcorão. A religião é conhecida ainda por islamismo.
Na visão muçulmana, o Islão surgiu desde a criação do homem, ou seja, desde Adão, sendo este o primeiro profeta dentre inúmeros outros, para diversos povos, sendo o último deles Maomé.[1]
Cerca de duzentos anos após Maomé, o Islão já se tinha difundido em todo o Médio Oriente, no Norte de África e na Península Ibérica, bem como na direcção da antiga Pérsia e Índia. Mais tarde, o Islão atingiu a Anatólia, os Balcãs e a África subsaariana. Recentes movimentos migratórios de populações muçulmanas no sentido da Europa e do continente americano levaram ao aparecimento de comunidades muçulmanas nestes territórios.[2]
A mensagem do Islão caracteriza-se pela sua simplicidade: para atingir a salvação, basta acreditar num único Deus, rezar cinco vezes por dia voltado para Meca, submeter-se ao jejum anual no mês do Ramadão, pagar dádivas rituais e efectuar, se possível, uma peregrinação à cidade de Meca.
O Islão é visto pelos seus aderentes como um modo de vida que inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da actividade humana, sejam eles políticos, sociais, financeiros, legais, militares ou interpessoais. A distinção ocidental entre o espiritual e temporal é, em teoria, alheia ao Islão.
Islão provem do árabe Islām, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da raiz slm, aslama, e significa "submissão (a Deus)".[3] Segundo o arabista e filólogo José Pedro Machado, a palavra "Islão" não teria surgido na língua portuguesa antes de 1843, ano em que aparece no capítulo IX da obra Eurico, o Presbítero, de Alexandre Herculano.[4]

O Islão é descrito em árabe como um "diin", o que significa "modo de vida" e/ou "religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes como Salaam ou Shalam, que significam "paz".[5]
Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra árabe muslim (plural, muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando "aquele que se submete". O vocábulo pode ter penetrado no português a partir do castelhano, sendo provável que essa língua o tenha tomado do italiano ou do francês, línguas nas quais o vocábulo surge em 1619 e 1657, respectivamente (no primeiro caso como mossulmani, na obra Viaggi, de Pietro della Valle, e no segundo como mousulmans, na obra Voyages, de Le Gouz de la Boullaye).[6]
Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos", este termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os muçulmanos adoram Maomé (como, durante alguns séculos, por completo desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos muçulmanos. Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares cristãs, os muçulmanos eram também designados como sarracenos e também por mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os muçulmanos naturais do Magrebe, que se encontravam na Península Ibérica).
Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião (a jurisprudência islâmica utiliza nesse caso a expressão Dar-al-Islam, "casa do Islão").
Crenças:
O Islão ensina seis crenças principais:

1.a crença em Alá (Allah), único Deus existente;
2.a crença nos anjos, seres criados por Alá;
3.a crença nos livros sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o Evangelho. O Alcorão é o principal e mais completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Alá ao profeta Maomé;
4.a crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o último;
5.a crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão avaliadas;
6.a crença na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.

Deus

Alá (Allah) em árabe.A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é considerado único e sem igual. Cada capítulo do Alcorão (com a exceção de um) começa com a frase "Em nome de Deus, o beneficente, o misericordioso". Uma das passagens do Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59:
"Ele é Deus e não há outro deus senão ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o Clemente, o Misericordioso!
Ele é Deus e não há outro deus senão ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que os homens lhe associam!
Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais belos" (59, 22-24).
Ver noventa e nove nomes de Alá para uma visão muçulmana sobre os atributos de Deus.

Os anjos


Os anjos são, segundo o Islão, seres criados por Alá a partir da luz. Não possuem livre arbítrio, dedicando-se apenas a obedecer a Deus e a louvar o seu nome. Maomé nada disse sobre o sexo dos anjos, mas rejeitou a crença dos habitantes de Meca, de acordo com a qual eles seriam as filhas de Deus.[7] Desempenham vários papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos profetas; protegem os seres humanos e registram todas as suas acções. O anjo mais famoso é Gabriel, que foi o intermediário entre Deus e o profeta.
Para além dos anjos, o islamismo reconhece a existência dos jinnis, espíritos que habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos. Ao contrário dos anjos, os jinnis possuem vontade própria; alguns são bons, mas de uma forma geral são maus. Um desses espíritos maus é Iblis (Satanás), também ele um jinn, segundo a crença islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal.

Os livros sagrados


Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos homens. A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá), a Davi foram dados os Salmos e a Jesus o Evangelho. Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada vez mais abrangentes que culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a Muhammad.
 Os profetas
Miniatura persa que retrata a ascensão de Maomé ao céu.O islamismo ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas. Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer aos homens a vontade divina (anbiya; singular nabi) e os que para além dessa função lhes foi entregue uma escritura revelada (rusul; singular rasul, "mensageiro")
Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a unicidade de Deus, esquecida pelos homens. Para os muçulmanos, a lista dos profetas inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad), todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus. Maomé é visto como o Último Mensageiro, trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos Profetas". Quando Maomé começou a revelar o Alcorão, ele não acreditou que isso teria proporções mundiais, mas sim que somente reforçaria a fé no Deus.
Esses profetas eram humanos mortais comuns, o Islão exige que o crente aceite todos os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão, é feita menção a vinte e cinco profetas específicos.
Os muçulmanos acreditam que Maomé foi um homem leal, como todos os profetas, e que os profetas são incapazes de acções erradas (ou mesmo testemunhar acções erradas sem falar contra elas), por vontade de Alá.
O dia do Julgamento Final

Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final (Yaum al-Qiyamah) é o momento em que cada ser humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas acções que praticou. Os seres humanos livres de pecado serão enviados directamente para o Paraíso, enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno, antes de poderem também entrar no Paraíso. As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos, mas de facto nunca o foram.
Segundo a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários sinais, como o nascimento do Sol no poente, o som de uma trombeta e o aparecimento de uma besta. De acordo com o Alcorão, o mundo não acabará verdadeiramente, mas sofrerá antes uma alteração profunda.

A predestinação

Os muçulmanos acreditam no qadar, uma palavra geralmente traduzida como "predestinação", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou qualidade". Uma vez que, para o islamismo, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres humanos, e sendo uma das suas características a omnisciência, ele já sabia, quando procedeu à criação, as características que cada elemento da sua obra teria. Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus. Essa crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar acções positivas ou negativas.
Os cinco pilares do Islão

A peregrinação (Hajj) a Meca é um dos "cinco pilares do Islão".Os cinco pilares do Islão são cinco deveres básicos de cada muçulmano:[8]

1.a recitação e aceitação da crença (Chahada ou Shahada);

2.orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah);

3.pagar esmola (Zakat ou Zakah);

4.observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam);

5.fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras.

Os muçulmanos xiitas consideram ainda três práticas como essenciais à religião islâmica: além da jihad, que também é importante para os sunitas, há o Amr-Bil-Ma'rūf, "exortar o bem", que convoca todos os muçulmanos a viver uma vida virtuosa e encorajar os outros a fazer o mesmo; e o Nahi-Anil-Munkar, "proibir o mal", que orienta os muçulmanos a se abster do vício e das más ações, e também encorajar os outros a fazer o mesmo.[9]
Alguns grupos kharijitas existentes na Idade Média consideravam a jihad como o "sexto pilar do Islão". Actualmente alguns grupos do xiismo ismaelita entendem a "fidelidade ao Imam" como sexto pilar do Islão.[carece de fontes?]
 A profissão de fé (Chahada)

A profissão de fé consiste numa frase - que deve ser dita com a máxima sinceridade - através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Alá e Maomé é seu servo e mensageiro".[10] No entanto, os muçulmanos xiitas têm por costume acrescentar "e Ali ibn Abi Talib é amigo de Alá"[carece de fontes?]. Essa frase também é dita quando se chama à oração (adhan).
De acordo com a maioria das escolas islâmicas[carece de fontes?], para se converter ao Islão é necessário proclamar três vezes a chahada ("testemunho") perante duas testemunhas: "Achadu ala ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah" ("Testemunho que não há outra divindade senão Deus. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro").
O Salat (a oração)

A oração no Islão (conhecida como Salá) é composta por cinco partes, todas espalhadas durante o dia e a noite, iniciando pela alvorada até à noite. Considerada o ponto mais próximo que se pode chegar de Deus. No Islão, não há obrigatoriamente hierarquia entre os adeptos, porém a comunidade, conhecida como ummah, escolhe uma pessoa com conhecimento suficiente para dirigir a adoração.[11]
Durante essas preces, são recitadas suratas do Alcorão, geralmente ditas em árabe, conduzidas pelo escolhido entre a comunidade. Não existe restrição para que o crente reze fora da mesquita, tampouco isso é uma desbonificação de sua oração, que pode ser feita em qualquer lugar, desde que tenha feito antes sua purificação.[8]
A purificação é realizada através da higiene especifica e detalhada, que consiste basicamente em lavar as mãos, os antebraços, a boca, as narinas, a face; em passar água pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés.[11]
Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área onde o uso da água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode substituir as abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum). A oração abre-se com a orientação do crente na direcção de Meca (qibla).[11]
 A contribuição de purificação (Zakat)

O Islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia, calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos pobres ou por outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes, endividados…). Essa contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto. A quantia corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor pode variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (nesse caso a contribuição pode chegar a 10% da colheita agrícola).
Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com outras doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido pela vaidade. O anúncio dessas doações somente poderá ser feito se isso contribuir para que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas proeminentes da sociedade), e esse ato deve ser sincero, mesmo que em público.
 O jejum no mês do Ramadão (Saum)

Durante o Ramadão (o nono mês do calendário islâmico), cada muçulmano adulto deve abster-se de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais, desde o nascer até ao pôr-do-sol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres lactantes estão dispensados do jejum. Em compensação, essas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O jejum é interpretado como uma forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo e de desenvolvimento da empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades.
O mês de Ramadão termina com o dia de celebração conhecido como Eid ul-Fitr, durante o qual os muçulmanos agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para levar a cabo o jejum. As casas são decoradas e é hábito visitar os familiares. Essa comemoração serve também para o perdão e a reconciliação entre pessoas desavindas.
 A peregrinação (Hajj)

Esse pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre durante o décimo segundo mês do calendário islâmico.
Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a Meca, para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes. Durante toda a peregrinação, não se preocupam com o seu aspecto físico. Depois de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as duas colinas de Safa e Marwa. Na última parte do Hajj, os muçulmanos devem passar uma tarde na planície de Arafat, onde Maomé disse o seu "Último Sermão". Os rituais chegam ao fim com o sacrifício de carneiros e bodes.

 O Alcorão

Os ensinamentos de Alá (Allah, a palavra árabe para Deus) estão contidos no Alcorão (Qur'an, "recitação"). Os muçulmanos acreditam que Maomé recebeu esses ensinamentos de Alá por intermédio do anjo Gabriel (Jibreel), através de revelações que ocorreram entre 610 e 632 d.C.. Maomé recitou essas revelações aos seus companheiros, muitos dos quais se diz terem memorizado e escrito no material que tinham à disposição (omoplatas de camelo, folhas de palmeira, pedras…).
As revelações a Maomé foram mais tarde reunidas em forma de livro. Considera-se que a estruturação do Alcorão como livro ocorreu entre 650 e 656, durante o califado de Otman.
O livro sagrado do Islã, o Alcorão.O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por sua vez subdividida em versículos chamados ayat. Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas três versículos e os mais longos 286 versículos) e a sua disposição não reflete a ordem da revelação. Considera-se que 92 capítulos foram revelados em Meca e 22 em Medina. As suras são identificadas por um nome, que é em geral uma palavra distintiva surgida no começo do capítulo ("A Vaca", "A Abelha", "O Figo").
Uma vez que os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linha de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado e tomam muito cuidado com ela, assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida de uma maneira a não trair esse legado. Essa é a principal razão pela qual as traduções do Alcorão para as línguas vernáculas são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o Alcorão em árabe. Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua língua original e aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos como hafiz (literalmente "guardião").
A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve ser adorado.Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram enviados), avisos sobre a chegada do dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas com aspectos da vida diária, como o casamento e o divórcio.
Além do Alcorão, as crenças e práticas do Islão baseiam-se na literatura hadith, que para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.

Autoridade religiosa

Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da comunidade de crentes. O Islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade, género ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismo, acto formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do Islão, sem o qual uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano.
Embora não exista no islamismo uma estrutura clerical semelhante à existente nas denominações cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título de mufti, sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da lei islâmica; em teoria esses pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que o solicitou.
Há várias denominações no Islão, cada uma com diferenças ao nível legal e teológico. Os maiores ramos são o Islão sunita e o Islão xiita.

O profeta Maomé faleceu em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu sucessor na liderança da comunidade muçulmana (a Umma). Abu Bakr, um dos primeiros convertidos ao islamismo e companheiro do profeta, foi eleito como califa ("representante"), função que desempenhou durante dois anos. Depois da sua morte, a liderança coube durante dez anos a Omar e logo em seguida a Otman, durante doze anos.
Quando Otman faleceu, ocorreu uma disputa em torno de quem deveria ser o novo califa. Para alguns essa honra deveria recair sobre Ali, primo de Maomé, que era também casado com a sua filha Fátima. Para outros, o califa deveria ser o primo de Otman, Muawiyah. Quando Ali é eleito califa em 656, Muawiyah contesta a sua eleição, o que origina uma guerra civil entre os partidários das duas facções. Ali acabaria por ser assassinado em 661 e Muawiyah conquista o poder para si e para a sua família, fundando a dinastia dos Omíadas. Contudo, o conflito entre os dois campos continua e, em 680, Hussein, filho de Ali, é massacrado pelas tropas de Yazid, filho de Muawiyah.
Essas lutas estão na origem dos dois principais ramos em que actualmente se divide o Islão. Os partidários de Ali (shiat ali, ou seja, xiitas) acreditam que os três primeiros califas foram usurpadores que retiraram a Ali o seu direito legítimo à liderança. Essa crença é justificada em hadiths interpretados como reveladores de que, quando Maomé se encontrava ausente, ele nomeava Ali como líder momentâneo da comunidade.
O islamismo sunita compreende actualmente cerca de 90% de todos os muçulmanos. Divide-se em quatro escolas de jurisprudência (madhabs), que interpretam a lei islâmica de forma diferente. Essas escolas tomam o nome dos seus fundadores: maliquita (forte presença no Norte de África), shafiita (presente no Médio Oriente, Indonésia, Malásia, Filipinas), hanefita (presente na Ásia Central e do Sul, Turquia) e hanbalita (dominante na Arábia Saudita e Qatar).
O muçulmanos xiitas acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o imã - deve ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima.
O Islão xiita pode, por sua vez, ser subdividido em três ramos principais, de acordo com o número de imãs que reconhecem: xiitas duodecimanos, ismailitas e zaiditas. Todos esses grupos estão de acordo em relação à legitimidade dos quatro primeiros imãs. Porém, discordam em relação ao quinto: a maioria do xiitas acredita que o neto de Hussein, Muhammad al-Baquir, era o imã legítimo, enquanto que outros seguem o irmão de al-Baquir, Zayd bin Ali (zaiditas).
Os xiitas que não reconheceram Zayd como imã permaneceram unidos durante algum tempo. O sexto imã, Jafar al-Sadiq (702-765), foi um grande erudito que é tido em consideração pelos teólogos sunitas. A principal escola xiita de lei religiosa recebe o nome de jafarita por sua causa.
Após a morte de Jafar al-Sadiq, ocorreu uma cisão no grupo: uns reconheciam como imã o filho mais velho de al-Sadiq, Ismail bin Jafar (m. 765), enquanto que para outros o imã era o filho mais novo, Musa al-Kazim (m. 799). Este último grupo continuou a seguir uma cadeia de imãs até ao décimo segundo, Muhammad al-Mahdi (falecido, ou de acordo com a visão religiosa, desaparecido em 874 para retornar no fim do mundo). Os primeiros ficaram conhecidos como ismailitas, enquanto que os que seguiram uma cadeia de doze imãs ficaram conhecidos como os xiitas duodecimanos; o termo "xiita" é geralmente usado hoje em dia como um sinónimo dos xiitas duodecimanos, que são maioritários no Irão.
Para os ismailitas, Ismail nomeou o seu filho Muhammad ibn Ismael como seu sucessor, tendo a linha sucessória dos imãs continuado com ele e os seus descendentes. O ismailismo dividiu-se por sua vez em vários grupos.
Outra denominação que tem origem nos tempos históricos do Islão é a dos kharijitas. Historicamente, consideravam que qualquer homem, independentemente da sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas de sucessão entre sunitas e xiitas. Os membros desse grupo hoje são mais comumente conhecidos como muçulmanos ibaditas. Um grande número de muçulmanos ibaditas vive hoje no Omã.

Movimentos recentes

Um movimento recente no Islão sunita é o dos wahhabitas, assim denominados por ocidentais e por pessoas de fora dessa corrente ideológica. O wahhabismo é um movimento fundado por Muhammad ibn Abd al Wahhab no século XVIII, naquilo que hoje é a Arábia Saudita. Os wahhabitas consideram-se sunitas e alguns afirmam seguir a escola hanbalita. O wahhabismo tem uma grande influência no mundo islâmico pelo facto de o governo saudita financiar muitas mesquitas e escolas muçulmanas existentes em outros países.

Misticismo

Sufis da ordem Melevi, mais conhecidos no Ocidente como dervixes rodopiantes.Às vezes visto pelos fieis muçulmanos comuns como um ramo separado do Islão,[12] o sufismo é antes uma forma de mística que pretende alcançar um contacto directo com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem o ascetismo, a meditação, os jejuns, cantos e danças.
Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em árabe: tasawwuf). O termo poderá provir de sūf, "lã", o que se encontra relacionado com o facto de os primeiros sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os ascetas cristãos da Síria e da Palestina. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe safa, que significa "pureza".[13]
O sufismo já existia como movimento no primeiro século do Islão. Para os sufis, o próprio profeta Maomé seria um deles, já que levaria uma vida extremamente simples, tendo por hábito retirar-se de Meca para meditar numa caverna, tendo estabelecido uma relação próxima com Deus. Um dos primeiros representantes do sufismo foi al-Hasan al-Basri (642-728), que rejeitou o materialismo do mundo e criticou os soberanos omíadas. Saliente-se ainda deste período inicial uma mulher, Rabi'ah al-Adawiyah (? - 801), cujo amor por Deus leva-a a excluir o apego ao mundo.
Desde os séculos XII e XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas), que seguem os métodos de realização espiritual ensinados por determinados mestres (os xeques ou pirs)."[14] As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no xiismo. O sufismo foi por vezes entendido pelas autoridades ortodoxas muçulmanas como uma ameaça, tendo os seus líderes e adeptos sido alvo de perseguições. O sufismo tem sido igualmente criticado devido ao facto de alguns dos seus mestres terem alcançado um estatuto de santo, tendo sido erguidos santuários nos locais onde nasceram ou faleceram, que se tornaram locais de peregrinações.

Comemorações

O calendário islâmico (também denominado calendário hegírico em função da sua origem remontar à Hégira ou migração dos primeiros muçulmanos de Meca para Medina em 622 d.C.) segue o ano lunar, que é cerca de onze dias mais curto que o solar. Consequentemente, as comemorações muçulmanas acabam por circular por todas as estações de ano.
As duas comemorações do Islão são o Eid ul-Fitr, que celebra o fim do jejum do Ramadão, e o Eid ul-Adha, que marca o fim da peregrinação a Meca (Hajj).
O dia 10 do mês de Muharram (o primeiro mês do calendário islâmico) é um dia de particular importância para os muçulmanos xiitas. Neste dia, comemora-se o martírio do terceiro imã xiita, Hussein, morto em Karbala, em 680, por aqueles que os xiitas consideram usurpadores da liderança da comunidade muçulmana. No início deste mês, as pessoas envolvem-se em actividades como ouvir contadores de histórias relatar o martírio de Hussein ou assistir a peças de teatro que pretendem reconstituir os acontecimentos. O dia é marcado com procissões, que incluem actos de autoflagelação como bater no peito ou cortar-se com uma lâmina (os membros do clero xiita desencorajam essas práticas).
Outras comemorações populares incluem o Mawlid, que celebra o aniversário de Maomé (12 do mês de Rabi al-Awwal), A Noite da Ascensão (Laylat al-Micraj, no dia 27 de Rajab), quando se recorda o dia em que Maomé subiu ao céu para dialogar com Deus, e A Noite do Poder (Laylat al-Qadr, na noite do 26 para 27 do mês do Ramadão), que marca o aniversário da primeira revelação do Alcorão e durante a qual muitos muçulmanos acreditam que Deus decide o que acontecerá durante o ano.

 Lugares sagrados

A Cúpula da Rocha, em Jerusalém, cidade sagrada para a religião muçulmana.A Caaba ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal de Meca (Al Masjid Al-Haram), na Arábia Saudita, é o local mais sagrado do Islão. De acordo com o Alcorão, ela foi construída por Abraão (Ibrahim) para que todas as pessoas fossem ali celebrar os ritos da Hajj. No tempo do profeta Maomé, o monoteísmo instituído por Abraão tinha sido corrompido pelo politeísmo e pela idolatria. Segundo o islamismo, Maomé não procurou fundar uma nova religião, mas antes restabelecer o culto monoteísta que existia no passado. Uma vez que o Islão se identifica com a tradição religiosa do patriarca Abraão, é por isso classificado como uma religião abraâmica. O islamismo não nega diretamente o judaísmo e o cristianismo, pelo contrário, considera uma versão antiga e perdida dessas religiões monoteístas como parte da sua herança; as suas versões atuais teriam sido alteradas, o próprio Islão considerando-se uma restauração da verdade divina.
Al Masjid Al-Haram, em Meca, considerada o maior centro de peregrinação do mundo.O segundo local sagrado do islamismo é Medina, cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num movimento conhecido como Hégira), e onde se encontra o seu túmulo.
A cidade de Jerusalém é o terceiro local sagrado do Islão. Este estatuto advém da sua associação aos profetas anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto de os muçulmanos acreditarem que o profeta teria viajado para esse local durante a noite, cavalgando um ser denominado Buraq, numa viagem conhecida como Isra. Uma vez em Jerusalém, ele teria ascendido ao céu (Mi’raj), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os quais Moisés. No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu, foi construída a Cúpula da Rocha, em cerca de 690, sobre as ruínas do antigo Templo de Salomão dos judeus.
Os muçulmanos xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de Karbala e Najaf, ambas no Iraque. Na primeira, ocorreu o martírio de Hussein (filho de Ali e neto de Maomé) e dos seus companheiros, quando este contestava o califado omíada. No Irão, devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os xiitas, Mashhad e Qom.

Lei islâmica (Xariá)


Mulher vestindo um niqab em Palu, Indonésia.A lei islâmica chama-se Xariá. O Alcorão é a mais importante fonte da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é conhecida graças aos ahadith, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele aprovava, que chegaram até nós graças a uma cadeia de transmissão oral a partir dos Companheiros de Maomé. A terceira fonte de jurisprudência é o ijtihad ("raciocínio individual"), à qual se recorre quando não há resposta clara no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso, o jurista pode raciocionar por analogia (qiyas) para encontrar a solução.
A quarta e última fonte de jurisprudência é o consenso da comunidade (ijma). Algumas práticas também chamadas de "charia" têm também algumas raízes nos costumes locais (Al-urf).
A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo das fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh, ramos da lei)

O Islão no mundo contemporâneo

Percentagem de população muçulmana por paísO Islão é a segunda religião com maior número de fiéis, atrás apenas do cristianismo, segundo o CIA World Factbook de 2005.[15] De acordo com o World Network of Religious Futurists[16] e o U.S. Center for World Mission[17], o islamismo estaria crescendo mais rapidamente em número de crentes que qualquer outra religião.
O Islão reúne hoje entre 1,5 a 1,8 bilhão de crentes.[18] Apenas 18% dos muçulmanos vivem no mundo árabe, um quinto encontra-se espalhado pela África subsariana, cerca de 30% vivem no Paquistão, Índia e Bangladesh, e a maior comunidade nacional encontra-se na Indonésia. Há significantes populações islâmicas na China, Ásia Central e Rússia.
A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o Islão como uma religião oficial (1912[19]), enquanto que a França tem actualmente a população mais elevada de muçulmanos da Europa Ocidental (entre 5 a 10%).[20][21]
Em Portugal, existe igualmente uma comunidade muçulmana, que nada tem a ver com os muçulmanos que viveram no país durante a Idade Média; são na sua maioria naturais das antigas colónias portuguesas de Moçambique e Guiné-Bissau, que se fixaram em Portugal após a independência desses territórios. O Islão xiita ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal ronde os 30 mil.[22] Segundo o censo de 2000, o Brasil registra 27.239 muçulmanos.[23] Porém, para a Federação Islâmica Brasileira, o número de muçulmanos no Brasil ronda o 1,5 milhão.[24]
A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, mas também existem comunidades significativas no Mato Grosso do Sul e São Paulo. Grande parte desses muçulmanos são descendentes de imigrantes sírios e libaneses que se fixaram no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial.[25]
A Mesquita Azul em Istambul, Turquia.Na Guiné-Bissau, o Islão penetrou na Idade Média, tendo as ordens sufistas desempenhado um importante papel na sua difusão. Reúne hoje cerca de 45% da população. Outro país africano de língua oficial portuguesa com um número significativo de muçulmanos é Moçambique (17,8%).
O islamismo contemporâneo é dominado pelo tradicionalismo, preocupado com a manutenção de rituais e práticas antigas, como o uso do véu pelas mulheres. Existem ainda correntes que pretendem conciliar o Islão com aspectos da modernidade, que são principalmente activas nos Estados Unidos da América. À semelhança do que acontece no judaísmo e no cristianismo, o islamismo é também marcado pela existência de movimentos ditos integristas ou fundamentalistas.
As tradições islâmicas baseiam-se no Alcorão, nos ditos do profeta (hadith) e nas interpretações dessas fontes pelos teólogos. Ao longo dos últimos séculos, tem-se verificado uma tendência para o conservadorismo, com interpretações novas vistas como indesejáveis.
A Xariá antiga tinha um carácter muito mais flexível do que aquele hoje associado com a jurisprudência islâmica (fiqh), muitos académicos muçulmanos islâmicos acreditam que ela deva ser renovada e que os juristas clássicos deveriam perder o seu estatuto especial. Isso implica a necessidade de formular uma nova fiqh, que seja praticável no mundo moderno, como proposto pelos defensores da islamização do conhecimento, e que iria lidar com o contexto moderno. Esse movimento não pretende alterar os pontos fundamentais do islamismo, mas sim evitar más interpretações e libertar o caminho para a renovação do prévio estatuto do mundo islâmico como um centro de pensamento moderno e de liberdade.
 
fonte: Wikipédia