sexta-feira, 21 de maio de 2010

A História do Japão

Tipos Étnicos Japoneses:
De acordo com o que se sabe nos dias de hoje, é extremamente incorreto, para não dizer preconceituoso, falar em raças para seres humanos, pois todos somos membros da mesma espécie, os homo sapiens. No entanto, existem biótipos diferentes, diferença esta que era muito mais clara em tempos passados, quando a mistura entre os povos não era tão acentuada. A grosso modo, podemos dizer que existem quatro biótipos básicos de seres humanos: negros, brancos, vermelhos e amarelos. Na realidade, até mesmo dentro desses biótipos principais existem pequenas variações que nós, historiadores, geógrafos, antropólogos, arqueólogos etc., classificamos como etnias. Uma etnia é normalmente caracterizada por um povo que se desenvolveu à partir de um mesmo grupo antigo; muitas vezes etnias vizinhas têm as mesmas características físicas, mas são denominadas diferentemente por causa de suas raízes históricas, arqueológicas e antropológicas.
Segundo o pensamento da maioria, a única etnia existente no Japão é a amarela. No entanto, isso não é uma verdade inteira. Tal como os vermelhos, os amarelos, de um modo geral, têm pouco ou nenhum pêlo no rosto e muito poucos pelo corpo. Além disso, existem algumas diferenças entre tonalidades de pele entre os amarelos do Japão e os do continente, por exemplo. Partindo-se desse princípio, poderemos constatar que parte da população japonesa (parte muito pequena, diga-se de passagem) tem características físicas diferentes dos demais.

Esses indivíduos, que constituem hoje não mais do que 30000 pessoas, são descendentes de um povo que habitava, desde tempos muito remotos, a ilha de Hokkaido. Ao que parece, a etnia se assemelha muito aos naturais do Cáucaso, podendo ser oriunda dos montes Urais, na Rússia. Esta etnia é conhecida como Aino e, apesar de também ser Japonesa, não será mais referida neste trabalho, por não representar parte significativa na História do Japão. Os Aino foram incorporados à população Japonesa quando o Império, que se desenvolveu na região sudeste, começou a ocupar todo o arquipélago.





Cultura e Sociedade: A sociedade japonesa é vista pelo mundo como extremamente machista (as mulheres ainda hoje, mesmo realizando as mesmas funções de um homem, são pior remuneradas), além de cultuar a família, os ancestrais, seus deuses (do panteão xintoísta) e ter um caráter metódico de trabalho. Na realidade, a sociedade nipônica nem sempre foi assim. Já houve épocas em que mulheres foram Imperatrizes (ou tenno) e governaram a nação. Entretanto, uma série de transformações de cunho militar (as quais serão amplamente explicadas no decorrer do texto), seguidas de transformações religiosas, fizeram com que as mulheres fossem relegadas a um papel de coadjuvantes dos homens na sociedade. Este papel está, somente nos dias de hoje, sendo gradativamente anulado, com as mulheres conseguindo obter a igualdade em relação aos homens em muitos campos de atuação social. Entretanto, mesmo hoje não se pode dizer que a igualdade seja plena. Outros fatores que sempre nos chamam a atenção quando nos referimos ao Japão são a caligrafia diferente, a arquitetura peculiar, as artes e também os estilos de lutas marciais, em especial o Karatê e o Judô, mas também o Sumô, o Aikidô e outros.
A grande maioria das características japonesas foram profundamente influenciadas pelas relações dos nipônicos com a China e a Coréia, onde a civilização (como é entendida por nós, ou seja, com uma estrutura de governo central) era bem mais antiga.
  Existe inclusive uma teoria muito defendida e quase comprovada de que os primeiros reinos japoneses estavam sob o domínio ou da China ou da Coréia (à época dividida em dois Reinos: Silla e Paekche). Das relações com esses povos do continente vieram todos os principais preceitos da civilização japonesa, como a religião budista, a caligrafia, que ao longo dos séculos foi adaptada e transformada), mas que originalmente foi copiada da caligrafia chinesa por volta do século V da era Cristã, e muito do cerimonial da corte Chinesa.

A arquitetura Japonesa também teve inspiração na de seus vizinhos. É óbvio que os japoneses não copiaram única e exclusivamente a arquitetura da China (assim como também não copiaram, pura e simplesmente, nenhuma das influências recebidas), mas foram influenciados, assim como os Romanos foram influenciados pelos Gregos. Também as artes marciais japonesas, ao que tudo indica, têm inspiração em outras artes mais antigas praticadas no continente. Por exemplo, o Karatê (Karate-Do, ou seja, Caminho da mão vazia (sem armas)) é uma provável evolução do Kung-Fu, há muito praticado na China. 


Já o Judô (Ju-Do, ou seja, Caminho suave) é uma provável evolução do Jiu-Jitsu (ou seja, luta livre), arte marcial sobre a qual existem controvérsias se é originária do Japão ou da Índia, sendo porém a segunda hipótese mais aceita. As Histórias de tais artes marciais se confundem com a mitologia, mas é provável que exista um fundo de verdade quando se diz que o Karatê foi criado por um monge budista que, impedido por sua doutrina de usar armas, precisava se defender de alguma forma dos bandidos que o atacavam em suas peregrinações e por isso, criou o Karatê.
É interessante e bonita a arte oriental - não só a Japonesa, mas também a de todo o oriente. É claro que também se trata de um assunto muito amplo, sobre o qual um especialista poderia até defender uma tese. Eu, ao contrário, vou me limitar a deixar algumas imagens falarem por si só. Devo apenas ressaltar uma coisa que me chamou deveras a atenção: os túmulos em forma de fechadura, sobre os quais falarei mais profundamente quando estudar a Pré-história Japonesa.





 As Religiões e Filosofias Nipônicas:
A respeito das religiões e filosofias do Japão, mais uma vez constatamos a impossibilidade de se dissociar o arquipélago do restante do oriente. Salvo a exceção do Xintoísmo, que, como veremos, foi realmente criado no Japão, as demais doutrinas (sendo religiões ou filosofias) instituídas no país vieram todas de fora. Veremos neste item algumas das principais religiões e filosofias nipônicas, sem querer dizer que outras além destas não tenham influenciado o Japão em determinadas épocas de sua História.
 Religião ou Filosofia? Qual é a diferença?
Esta é uma questão complexa, mas que pode ser simplificada em poucas palavras. Toda religião é por princípio uma filosofia, mas nem toda filosofia é uma religião. A palavra religião deriva do termo latino religare, que quer dizer reunir, religar; ou seja, uma religião pressupõe a crença em um deus ou deuses. Numa expressão, entidades superiores, que possivelmente são as responsáveis pela criação do homem. Assim, o homem teria sido criado pelos deuses e depois se separado deles: daí a religião buscar a reunião entre criador e criatura.
E o que é uma filosofia? O nome não nos diz nada, pois filosofia vem do grego philos, que quer dizer amizade, e sophia, que quer dizer sabedoria. A tradução seria "amigos da sabedoria" (ou também sabedoria amiga). Pois bem, uma filosofia seria uma forma de se viver, coerente com seus princípios; ou seja, você deve viver de acordo com o que acredita ser certo. Sendo assim, por dedução pode-se concluir que uma religião é necessariamente uma filosofia, mas a recíproca nem sempre é verdadeira.
No ocidente, não estamos muito habituados a conviver com filosofias puras e simples, apenas embutidas nas religiões. Nossa cultura é impregnada dos germes do Cristianismo e, portanto, não nos permite imaginar um mundo sem termos um Deus (ou pelo menos Deuses) em quem se acreditar. É notável que para os orientais isso não seja uma inteira verdade. Justamente por isso surgiram doutrinas como o Budismo e Confucionismo, que não se centram na existência ou inexistência de deuses, mas sim numa maneira de se viver melhor.
As religiões de um modo geral tendem a nascer alimentadas pela necessidade de conhecimento que o homem tem. O homem sempre quer todas as respostas e, como não as têm, procura acreditar que alguém as tenha. Esse alguém seria um ser superior, ao qual é atribuído tudo aquilo que não se pode provar. É justamente por isso que as religiões ao longo do tempo sempre se detiveram a impedir os avanços científicos, pois a cada coisa nova que se descobria um deus velho morria, ou então o único deus se enfraquecia. Diferentemente destas, as filosofias não servem como instrumento de dominação social (pelo menos na maioria dos casos, pois é claro que algumas filosofias, como o próprio Confucionismo, justificam formas de dominação), pois à medida que não se teme o desconhecido e apenas aceita-se os que, por ventura, controlam as fontes de contato com o desconhecido, elas perdem poder e não exercem dominação.
Não devemos, no entanto, nos enganarmos achando que as filosofias são todas boas, pois não se deve esquecer que o próprio Nazismo era uma filosofia que cultuava superioridade da raça ariana, o que estava totalmente equivocado, pelo simples fato (que já mencionei) da não-existência de raças humanas. Mas vejamos agora as principais religiões e filosofias que estavam presentes no contexto do Japão e de seus vizinhos.

O Budismo: O Budismo é talvez a filosofia oriental mais conhecida no ocidente de hoje em dia. Sua origem remonta à vida do príncipe Indiano Siddhartha Gautama, filho do Rei Suddhodana, do Reino de Sakyas, no norte da Índia, próximo à cordilheira do Himalaia. Por volta de 560 a.C., nasceu Siddhartha. Sua vida estava cercada de luxos, mas ele enclausurado dentro da capital do Reino, a belíssima e riquíssima cidade de Kapilavatthu. Certa vez, curioso por saber por que o pai não o deixava sair da cidade, o menino fugiu para ver como era a vida do povo do Reino. Ao passear pelos campos, o príncipe se entristeceu em ver coisas que nunca tinha visto: pessoas doentes, mortes, trabalho forçado; em suma, o sofrimento. 
Siddhartha então resolveu nunca mais voltar para sua cidade, passando a compartilhar daquele sofrimento todo em busca de uma maneira de extingui-lo. Por muito tempo o jovem príncipe meditou e jejuou, mas depois de seis anos, abandonou tais práticas e passou a crer que a chave estava na ponderação: não era o sofrimento físico que trazia a purificação espiritual, mas sim o desapego das coisas mundanas. Tal descoberta o fez desenvolver sua forma de não sofrimento, que pode ser definida com a seguinte frase atribuída ao próprio Siddhartha: "Nada deve ser agarrado ou preso de qualquer forma". 
Este ensinamento pode ser interpretado assim: jamais devemos nos apegar a coisa alguma, pois quando nos prendemos às coisas sofremos, pois inevitavelmente um dia nós perderemos aquilo a que somos apegados.
Se uma pessoa sofre, ela está em Dukkha, mas se é feliz está em Nibbana. Como se vê, o Budismo também possui conceitos semelhantes aos de inferno e paraíso, mas sem a conotação de lugar físico, e sim de estado de espírito. Depois de desenvolver sua teoria, Siddhartha pregou-a por 45 anos até sua morte. Neste tempo, adquiriu vários seguidores e passou a ser conhecido como: Buddha (O Iluminado).
O caminho para se desapegar das coisas e das pessoas é chamado de Caminho Óctuplo. E é da seguinte maneira dividido:
Bloco A:  Sabedoria
1 – 
Visão Correta
2 – 
Intenção Correta
Bloco B: Ética
3 – 
Fala Correta
4 – 
Ação Correta
5 – 
Meio de Vida Correto
Bloco C: Concentração
6 – 
Esforço Correto
7 – 
Atenção Correta
8 – 
Concentração Correta
Após a morte de Siddhartha, seus seguidores saíram pelo mundo para levar seus ensinamentos adiante, atingindo o Japão em 538 d.C.. No país, o Budismo se tornou a doutrina dos ricos e da corte, e isso justifica o porquê de existirem tantos Pagodes (locais de culto, templos budistas) luxuosos e suntuosas por todo o território. Entretanto, o fato de uma religião ser elitista não a favorece a ser aceita por grande parte da população do país, como ocorreu posteriormente com o Budismo. Este fato se deve à esperteza dos monges budistas, que souberam sobrepor sua doutrina aos kami, deuses locais do Xintoísmo. Sendo assim, o Buddha ou Butsu, como ficou conhecido no Japão, passou a ser uma divindade também do panteão Xintoísta, sendo considerada sua principal divindade. Sendo assim, no Japão aos poucos o Budismo deixou de ser meramente uma filosofia para se tornar, de fato, uma religião.
A união entre o Budismo e o Xintoísmo no Japão só foi desfeita com a restauração Meiji, em 1868, quando, tentando legitimar sua autoridade Imperial, o Imperador Matsu-Hito determinou a separação entre as filosofias, além da substituição da figura do Butsu como principal divindade do panteão pela deusa do Sol, da qual a família Imperial Japonesa alegava descender.
   O Xintoísmo:
Diferentemente do Budismo, o Xintoísmo é uma religião, e não apenas uma filosofia de vida. É claro que se levarmos em conta o budismo como ele existiu no Japão até meados do século XIX, este de fato constituiria uma religião, mas não é esse o verdadeiro Budismo. Não teve um criador, tal como as demais doutrinas que tratarei neste item 5, e também foi a única doutrina criada no Japão. Pode-se caracterizá-lo até mesmo como não sendo uma única religião antes da chegada do Budismo ao arquipélago, no século VI d.C.. Vejamos, agora, o porquê.
Desde os primórdios da existência da civilização nipônica, quer sob o domínio chinês quer não, a sociedade era dividida internamente num sistema de clãs. Estes clãs se assemelhavam muito, no que diz respeito a sua estrutura interna, àquilo que foram os Genos da Grécia antiga, ou seja, um grupo relativamente grande de pessoas ligadas por laços de parentesco e vivendo juntas sob a autoridade de um patriarca (ou às vezes matriarca). É claro que, de acordo com a própria cultura oriental, muito diferente da cultura dita clássica, as semelhanças terminavam aí. Os clãs japoneses geralmente dominavam regiões que podiam ser maiores ou menores de acordo com a influência, poder militar e tamanho do clã. Dentro desta região, o patriarca do clã, geralmente o homem mais velho, era a autoridade maior. Os membros do clã cultuavam os seus kami, ou divindades, e estes poderiam ser virtualmente qualquer coisa ou pessoa (viva ou morta) a que fossem atribuídas qualidades divinas. O principal kami de cada clã era o (normalmente mítico) ancestral fundador do clã, e depois, os demais kami eram venerados sem uma ordem hierárquica fixa.
De acordo com tal descrição, podemos perceber que, salvo eventuais coincidências entre kami (pessoas famosas, ou algum lugar), não havia nenhuma relação entre os kami de um clã e de outro. Sendo assim, não se pode falar claramente em uma religião xintoísta antes da fusão com o Budismo. De qualquer maneira, por volta do século IV d.C., quando o clã Yamato começou a preponderar gradativamente mais sobre as demais organizações de Honshu, o clã desenvolveu uma política de ligar seu kami principal à deusa do Sol. Sendo assim, eles poderiam adquirir mais facilmente o respeito dos demais clãs.
É certo, no entanto, que uma hierarquização dos kami (ditos oito milhões no total, porém este número é apenas simbólico, já que podem haver infinitos) só começou a ocorrer quando, a partir do século VI, a figura do Butsu foi sendo sobreposta a todos os kami principais, de forma a se tornar a principal divindade Japonesa. À partir daí, começaram os cultos nacionais a determinadas divindades que eram por todos adoradas, tais como o Butsu (Buddha no Japão). A partir de então é que o Xintoísmo se tornou, de fato, uma só religião.
  Do, o Caminho das lutas:
Quando me referi anteriormente às artes marciais do Japão, em especial ao Karatê e ao Judô, citei, sem explicar, o "Do", que quer dizer Caminho. Justamente por isso resolvi fazer este sub-item dentro do item sobre o Xintoísmo.
Conforme as lendas sobre a criação de tais artes marciais, sejam, ou não, elas inspiradas em outras pré-existentes, é provável que tenham sido ambas criadas por monges budistas (mas que também cultuavam o panteão xintoísta, como forma de mostrar ao povo que Butsu era de fato o principal kami). Sendo assim, as lutas não poderiam ser justificadas apenas como uma forma de defesa pessoal, muito menos como forma de ataque, pois isso era inadmissível numa doutrina tão rígida como a budista. Assim, para contornar o problema criado pela religião, os monges adaptaram para tais lutas uma rígida filosofia de vida, na qual as próprias artes marciais teriam seu kami. Ele seria Budo: o deus da guerra.
Para cultuar Budo, os monges e outros adeptos das artes marciais deveriam fazer uma série de orações e juramentos, tais como o de nunca portar armas e o de evitar o combate até o último instante, só optando por ele na falta de uma opção pacífica. Faziam parte dos treinamentos uma série de privações, tais como treinamentos em montanhas, onde o ar é rarefeito e a respiração torna-se difícil, ou mesmo treinos ao ar livre nos piores dias do inverno. Toda essa penitência visava não só cultuar Budo, como também, e talvez principalmente, trabalhar a mente dos praticantes no sentido de que eles aprendessem a controlar a dor, o frio e a respiração. Tanto que a principal filosofia das artes marciais japonesas (me refiro apenas ao Karatê e ao Judô) é o autocontrole. Com ele, acredita-se que é possível concentrar toda a energia do corpo em um só ponto e depois utilizá-la contra o adversário. O local de concentração energética se localizaria dois dedos abaixo do umbigo, e a energia é denominada ki.
Nos dias de hoje, o Karatê e o Judô se popularizaram também no ocidente. No entanto, na maioria das academias, toda a filosofia embutida nos ensinamentos físicos foi esquecida ou pura e simplesmente deixada de lado. Mesmo a utilização do ki não é muito difundida, pois muitos professores de artes marciais ensinam aos alunos apenas movimentos corporais, sem concentração e muito menos autocontrole. Mesmo assim, alguns poucos ensinamentos que sobreviveram foram suficientes para fazer com que a maioria dos praticantes dessas artes marciais sejam respeitados, ao contrário de praticantes de artes como o Jiu-Jitsu, que são temidos (luta livre), por não receberem nenhum tipo de ensinamento psicológico. Estes, como é sabido, desenvolvem apenas o físico e saem (muitas vezes) agredindo inocentes pelas ruas.
É importante notar que isto não é nenhuma crítica à beleza desportiva de qualquer arte marcial, pois eu mesmo já fui praticante delas. No entanto, espero que este item sirva como uma possível explicação para entender a raiz do problema da violência de jovens sem preparo que têm seus corpos transformados em verdadeiras armas.
   Outras doutrinas importadas do continente:
Até agora, fiz referência apenas ao Budismo e ao Xintoísmo, as principais doutrinas do Japão contemporâneo. No entanto, elas não são, nem tão pouco eram, as únicas do arquipélago. Neste item veremos um pouco de outras duas doutrinas: o Confucionismo e o Taoísmo, ambas de origem Chinesa e que influenciaram em maior ou menor grau a civilização japonesa ao longo de sua história.
   O Taoísmo:
O Taoísmo é uma religião idealizada por um Chinês do século VI a.C. chamado Lao Tsé. Revoltado com os luxos do mundo, em especial com os da Corte Imperial chinesa, Tsé acreditava que a salvação da humanidade estava na vida natural e que, portanto, os homens deveriam voltar a ela. Pregava que o homem não deve "Jamais interferir na natureza, mas deixar que ela siga seu curso".
Sua doutrina fez com que muitos chineses de seu tempo abandonassem casa e família para irem viver junto da natureza (tao em chinês, e por isso Taoísmo: culto da natureza). Mesmo assim, Lao Tsé não ficou satisfeito e resolveu abandonar a China rumo ao oeste. Conta a lenda que quando ele estava saindo do país, um guarda da fronteira o pediu que deixasse por escrito seus ensinamentos. Ele então escreveu um livro com apenas cinco mil palavras chamado Tao Te Ching (Os Caminhos da Natureza e seu Poder), que serviu como fonte disseminadora de sua religião pregando a divindade da natureza, transformava cachoeiras e montanhas em deuses, etc.. O Taoísmo, ao longo dos séculos, chegou ao Japão, onde nunca foi mais do que um culto de uma minoria.
  O Confucionismo:
Confúcio (em Chinês K’ong fu tse) é considerado por muitos como o maior sábio de todos os tempos, ou pelo menos o maior sábio da cultura oriental. Teria vivido, assim como Lao Tsé, no século VI a.C., provavelmente entre 551 a.C. e 479 a.C.. O sábio chinês, ao que parece, teria sido muito pobre, apesar de parente da família principesca da região de Lu, onde nascera e vivera. Ao longo de sua vida, Confúcio viajou muito e tornou-se professor de diversos jovens. A eles ensinou sua filosofia (não era uma religião), da qual os preceitos básicos eram o jen (amizade) e o yi (igualdade). Na realidade, o que Confúcio pregava era uma doutrina de resignação: as pessoas deveriam ser leais e obedientes, em especial ao Imperador e a seus pais, buscando assim a harmonia do corpo.
Durante sua vida, a dinastia reinante na China era a dinastia Chou (de 1027 – 221 a.C.), mas na dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.) ele foi sagrado pelo Imperador Chinês como "o Rei sem Reino" e sua família declarada nobre (sua família, aliás, existe até hoje e é considerada uma das mais antigas famílias do mundo, residindo em Formosa (Taiwan)).
O Confucionismo foi, entretanto, corrompido de seus ideais iniciais quando, no século XII, Tchu-hi introduziu nele as preocupações metafísicas. Sendo assim, o Confucionismo deixou de ser uma filosofia para se tornar uma religião. E assim se tornou muito importante no Japão, durante a Época dos Tokugawa (1600 – 1868 d.C.), quando os Shoguns instituíram que esta seria a religião oficial do arquipélago. No século XVII, a escola nacionalista do Shogun Yamaga Soko (1622 – 1685 d.C.), baseada no Confucionismo, criou o Bushido, o código de honra dos samurais, o qual explicarei mais adiante.     
História do Japão Antigo e Medieval:
Para melhor efeito de estudo, resolvi dividir meu trabalho em duas grandes partes: a introdutória, composta pelos itens 1, 2, 3, 4 e 5; e a parte principal, que é composta pelo item seis e todas as suas divisões e subdivisões. Finalmente, farei um pequeno item 7, no qual darei um panorama final de meu trabalho.
Como o leitor pode ver, o item 6 tratará da História do Japão nos seus períodos Antigo e Medieval, mas há que se fazer uma boa observação a esse respeito. O conceito da divisão da História em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea é um conceito totalmente eurocêntrico, pois todos os marcos de mudança de períodos estão centrados em acontecimentos mediterrâneos: o fim do Império Romano, a tomada de Constantinopla e finalmente a Revolução Francesa. No entanto, é possível que enxerguemos características próprias das civilizações européias de cada um desses períodos, para que, assim, possamos situar em períodos semelhantes as civilizações que não pertenceram a este eixo.
Portanto, descreverei aqui as características principais das civilizações de cada um dos diferentes períodos, visando mostrar ao leitor qual é minha (deve ser lembrado que esta é a minha linha de pensamento, e não a de um ou outro autor, o que provavelmente discordará de muitas coisas que se tem por verdades históricas) linha de raciocínio.
As civilizações Antigas são caracterizadas por viverem períodos conturbados de sua existência, sendo que estes também eram normalmente muito extensos. Tais períodos se iniciam com a formação da civilização em si, ou seja, com o processo pelo qual os povos da região passaram até que adquirissem uma certa consciência de formarem o mesmo povo. Depois disso, formou-se a civilização Antiga e o desenvolvimento de um sistema de governo na maioria das vezes despótico (normalmente um Império), com características Teocráticas: o governante manda de acordo com a vontade dos deuses. Durante este regime, geralmente muito duradouro, o país expande suas fronteiras e, conseqüentemente, o monarca aumenta seu poder. Entretanto, os poderes deste se tornam tais que a própria aristocracia que o cerca se volta contra ele e assim, as bases do Império começam a ruir.
Depois de algum tempo de revolta das elites, o Império se encontra de tal forma fraco que as autoridades regionais passam a controlar suas respectivas regiões de maneira tão efetiva que o poder central ou desaparece ou se torna apenas fictício. É nessa fase que a civilização atinge o período medieval. Nele, as regiões se militarizam muito com o objetivo de se defenderem umas das outras, as cidades geralmente perdem importância em relação ao campo e a população perde muito de sua racionalidade, tendo a cabeça dominada pela religiosidade. Com o passar do tempo, alguns líderes regionais se tornam muito poderosos e começam a dominar os demais, dividindo o antigo Império em alguns Reinos. Normalmente, com medo de terem seus domínios tomados, alguns senhores menos poderosos se lembram da existência do monarca sem poderes e passam a apoiá-lo contra os senhores maiores. À medida que alguns desses senhores crescem em poderio, os que se sentem menos poderosos engrossam as fileiras do monarca, que agora começa a readquirir gradativamente sua importância.
Quando o rei volta a ser de fato a força mais importante do país, abre guerra com os grandes senhores e os submete um a um, até reassumir o controle total da nação, tal qual durante o período Antigo. Trata-se de uma espécie de renascimento da civilização Antiga, só que agora o Imperador (ou Rei) esforça-se por corrigir os erros que possibilitaram a desintegração do regime no passado. Assim, na Idade Moderna os governantes que acabam de re-centralizar o poder nacional em suas mãos, tornam-se muito mais despóticos do que foram seus antepassados. É também neste período que o sonho de reconstrução do Império Antigo retorna, e muitas nações empreendem guerras contra seus vizinhos na esperança de submetê-los e também de conquistar terras que não haviam feito parte dos territórios do Império na Antigüidade: as colônias.
As guerras que a nação empreende normalmente começam muito bem sucedidas, com a nação conquistando muitos novos territórios. Entretanto, a sede de poder do monarca impede-o de ver os limites de sua expansão, e ele acaba por criar inimigos demais contra si, antes que possa pacificar os povos conquistados de modo que estes também se sintam membros da nova nação. A situação se torna insustentável, os inimigos se fortalecem e acabam por derrotar a nação. Esta, com medo de represálias, é obrigada a condenar seu monarca e a substituir a Monarquia por uma República (ou algo parecido, como uma Monarquia Parlamentarista), e assim a nação entra na Era Contemporânea, na qual a maior parte das nações do mundo se encontra hoje.
Talvez minha introdução para o item 6 tenha se estendido muito e é possível que muitos não concordem a princípio com meus pontos de vista. Entretanto, ao longo da História do Japão vocês poderão compará-la com momentos conhecidos da História Européia e, assim, verão essas idéias legitimadas. O único ponto importante em que discordo das demarcações padronizadas na Europa para a transformação das Idades é no que se refere à mudança da fase Moderna para a Contemporânea, visto que a Revolução Francesa fracassou. Afinal, a monarquia foi restaurada na própria França, e mesmo os países que não mais eram monarquias seguiram com ideais imperialistas (que deram origem ao Neocolonialismo). Sendo assim, considero que o mundo como um todo, exceto talvez pelos países da América e a Rússia, entrou na Idade Contemporânea apenas com o final da Segunda Guerra Mundial. Já os países americanos teriam entrado na Idade Contemporânea com suas independências (no caso do Brasil, apenas com a proclamação da República), e a Rússia com a Revolução Russa e a conseqüente implantação do Socialismo. Estas observações não são válidas, contudo, para a África, pois ainda hoje o continente (salvo talvez a exceção de alguns países como África do Sul, Marrocos e Egito) continua mergulhado na dependência total (mesmo política, pois existem países que têm tropas estrangeiras fazendo missões em seu interior, em caráter permanente) do exterior.
Sei que a introdução foi longa, mas não deixem de voltar nela quando terminarem o texto, pois assim perceberão que as minhas analogias entre as civilizações são realmente válidas.
   A Pré-história Japonesa:
Pré-história é um termo não muito aceito na historiografia recente, pelo menos não conforme os significados aos quais estamos habituados. Quando se fala em Pré-história, o estudante brasileiro se lembra dos desenhos de homens das cavernas e a primeira coisa com relação a escola que lhe vem a mente é a imagem do seu professor de história lhe explicando sobre o Paleolítico, o Neolítico e a Idade dos Metais. Este estudante não está por completo equivocado. O que está errado é a noção que os historiadores de algumas décadas atrás tinham de que, antes de descobrir a escrita, uma civilização está necessariamente na Pré-história e tudo o que se sabe sobre este período não seriam então mais do que resultado de escavações arqueológicas e tradições orais da população local.
No entanto, tal caracterização está muito fora do que corresponde à realidade, uma vez que os Incas, por exemplo, quando foram descobertos, eram a nação politicamente mais bem organizada do mundo, mesmo sem conhecerem a língua escrita, ou mesmo números. Sendo assim, não se pode dizer que não passavam de povos Pré-históricos, só porque não conheciam a escrita. Sendo assim, o que determina a Pré-história de uma civilização?
Isso é determinado por uma série de fatores, dos quais podemos destacar as condições de vida da população, a arquitetura, a complexidade das formas de governo, os instrumentos utilizados, a capacidade de se realizar a agricultura e, por último, a escrita propriamente dita. A Pré-história Japonesa pode então ser dividida em quatro períodos, de acordo com a complexidade da civilização como um todo, sendo que no último período já ocorre a transição para a Antigüidade Nipônica. 
  O Paleolítico:
Este período se inicia justamente quando se considera que o Japão passou a ser ocupado por seres humanos, ou seja, por volta de 50.000 a.C.. Nesta época, assim como o imaginário dos desenhos nos passa, o povo da península se abrigava em cavernas, grutas, ou com folhas de árvores e sobrevivia da caça e coleta.
Ei, você disse península e o Japão é um arquipélago! Eu sei, mas acontece que, nesta época, o Japão estava grudado na China e na Coréia, como mostra a imagem ao lado. Hokkaido esteve ligado à Sibéria e também a Honshu, durante este período.
Por volta de 13.000 a.C., o Japão entrou naquilo que se chama de Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, pois já se observam trabalhos mais bem definidos nas pedras, que agora eram lixadas.

 O Período Jomon:
   Por volta de 10.000 a.C., ocorreu um aumento universal nas temperaturas, e em conseqüência disso o nível do mar subiu (devido ao degelo dos pólos) e o Japão foi separado do continente, ficando sua população isolada no arquipélago. Neste mesmo período, os japoneses, que se distribuíam principalmente nas zonas montanhosas do centro do Japão, aprenderam a fazer cerâmicas - uma nítida evolução dentro da Idade da Pedra Polida. A existência de artesanato determina uma série de coisas, dentre as principais estão o domínio do fogo (pois cerâmicas são feitas com barro cozido) e uma provável agricultura, pois as vasilhas serviam provavelmente para armazenar comida e água.





Este período leva o nome de Jomon porque a cerâmica característica dele tinha uma decorações peculiar, em forma de corda, e Jomon significa justamente isso: "decorações codiformes". Durante esse período, encontra-se pela primeira vez flechas, anzóis, arpões, remos, agulhas de osso e fragmentos de rede. Como se pode ver, muitos desses instrumentos se relacionam com a água, o que indica que já havia uma navegação pesqueira no período.
   Período Yayoi:
O Período Yayoi é assim chamado porque seus principais vestígios arqueológicos se encontram na atual região de Yayoicho, em Tokyo. Durou cerca de 600 anos, se iniciando por volta de 300 a.C. e se encerrando por volta de 300 d.C.. Ele corresponde à Idade dos Metais japonesa. Nele ocorreram algumas revoluções no cotidiano do povo nipônico. Vejamos as principais:
* A introdução dos metais facilita a caça e as lutas entre os clãs que continuam a formar a estruturação da sociedade, que é extremamente dividida em regiões de influência de clãs.
* A descoberta da tecelagem permite que os japoneses abandonem as roupas de peles de animais, substituído-as por roupas de tecido.
* Outra importante melhora foi o aparecimento de uma olaria mais avançada. As casas podiam ser construídas com materiais mais duráveis, melhorando radicalmente a qualidade de vida da população.
No entanto a grande melhoria que o período Yayoi trouxe aos japoneses foi, sem dúvida, o avanço das técnicas agrícolas, permitindo o início do cultivo do arroz, que rapidamente se tornou a principal fonte de alimentação da população.
Neste período, alguns clãs já começavam a preponderar sobre outros, e as crônicas chinesas da época citam cinco Reis de Wa (Japão). Em 57 d.C., o Rei Nu (provavelmente um dos cinco Reis de Wa) recebe um foral de ouro do Imperador chinês, onde está escrito a seguinte frase: "Ao Rei Nu, de Wa, vassalo de Han". Han era a dinastia reinante na Chin naquela época, e com base neste artefato muitos historiadores defendem a tese de que, em seus primórdios, os vários chefes de clãs do Japão foram tributários do Império Chinês ou dos Reinos Coreanos.
Contudo, o que se sabe é que, em 239 d.C., a Rainha Himiko, possivelmente do clã Yamato, enviou uma embaixada à Corte Imperial Chinesa. Pelo que se sabe, está foi a primeira missão diplomática japonesa da História.
   Período Kofun:
O período Kofun é uma espécie de continuação do período Yayoi, recebendo outra denominação em função da presença daquilo que talvez seja a mais impressionante obra de arquitetura do Japão, mesmo que tenha sido realizada na sua Pré-história. Certamente tal obra marca o fim do período Pré-histórico e o início do período Histórico no arquipélago. Vejamos, então, o que ela é.
Kofun em Japonês significa túmulo, e é justamente essa a característica marcante do período: o aparecimento dos túmulos dos mais importantes chefes (ou Reis) de clãs. Essas obras funerárias eram construídas em forma de buraco de fechadura (obviamente, não era esta a referência que os construtores utilizavam, mas era a forma que possuíam), e ornamentados por dentro com espelhos de bronze e figuras eqüestres. Os enfeites tinham significados. Por exemplo, os espelhos com moldura de bronze e trabalhados no verso eram com certeza um símbolo de status na sociedade japonesa, pois eram encontrados em todos os túmulos de dignatários, e inclusive faziam parte das próprias insígnias Reais de muitos clãs. Entretanto, a mais importante de todas as informações que tais decorações fúnebres nos dão é o fato dos cavalos terem se tornado por essa época o principal instrumento bélico do arquipélago. Sua utilização provavelmente foi introduzida por incursões saqueadoras dos Reinos Coreanos de Silla e Paekche. Estes utilizavam-se de tropas de arqueiros montados, que devastaram por várias vezes algumas regiões do Japão. Suas prática fizeram com que os nipônicos tentassem se defender e, sendo assim, aperfeiçoaram a utilização dos cavalos e conseguiram banir tais invasões.

Mas, dentre essas obras, uma se destaca como talvez a mais impressionante de todas as obras arquitetônicas da Pré-história, e talvez da História, do Japão. Ela só é superada por obras como o túmulo do primeiro Imperador da dinastia Qin, da China, que continha a réplica em barro, em tamanho natural, de todo o exército da China, ou então pelas Pirâmides do Egito, a Muralha da China, Machu Picchu, no Peru e outras poucas obras da engenharia Antiga. Trata-se do túmulo do lendário Rei Nintoku, governante do clã Yamato pelo período (suposto) de 313 a 399 d.C.. É quase certo que as datas estão equivocadas, pois é impensável em uma época tão remota que ele tenha governado 86 anos. O que é certo é que Nintoku foi um dos cinco Reis de Wa, aos quais as crônicas chinesas fazem referência, e também é certo que durante seu governo concentrou boa parte dos esforços na construção de seu gigantesco sepulcro.  Não se trata de apenas mais um dos túmulos em forma de buraco de fechadura: é o maior e mais belo dentre eles (veja a foto), ocupando uma área de 32 hectares, com 500 metros de comprimento. É inteiramente decorado com pinturas vivas e está repleto de sarcófagos de pedra. O túmulo é involto por três fossos, formando um conjunto tão monumental que deu origem ao nome de uma nova época. Com certeza, tão brilhante obra arquitetônica, aliada de contatos tão profundos com o exterior e uma melhoria tão grande na qualidade de vida da população, marcam o fim da Pré-história Japonesa e o início de sua História.
 O Período Yamato:
Depois de tais revelações sobre a Pré-história do Japão, podemos dizer que o país já adentrara na História. Mas, antes de prosseguir, deve-se entender como estava dividida a organização social e política do Japão na época. Para isso, resolvi dividir este item em três sub-itens, facilitando a compreensão dos acontecimentos.

 A Proto-história: Neste período, que dura de 400 d.C. até 538 d.C., não podemos dizer que as coisas haviam mudado muito em relação ao período Kofun. Na realidade, o século V e a primeira metade do VI foram um período de profundas transformações, onde a sociedade japonesa recebeu as raízes da centralização que estava por vir. Durante essa fase, os Yamato começaram a preponderar cada vez mais sobre os outros quatro Reinos, chegando a desenvolver um status de superioridade sobre eles, dada por sua força militar e por sua política religiosa. Depois das invasões Coreanas, os Yamato foram os responsáveis pela expulsão do inimigo, adquirindo assim uma posição de protetores do Japão. Sua façanha foi obtida devido a um forte exército centrado principalmente na cavalaria. Com tal poder militar, os Yamato não só expulsaram os invasores como também os atacaram. Como resultado, em 366, dominaram o Reino Coreano de Paekche (que se tornou tributário), o qual controlavam a partir da região de Mimana, que estava sob sua administração direta. Com tal superioridade militar, os outros clãs foram obrigados a nomear os Yamato como o clã líder de uma liga de clãs nipônicos, pagando-lhes alguns tributos. Os novos governantes se aproveitaram da posição recém-conquistada para impor o culto ao seu kami fundador aos outros clãs. Eles se diziam descendentes da deusa do Sol, o que lhes dava muito poder, pois esta era uma deusa comum a todos os cultos. Graças a tal posição, os chefes Yamato ganharam o título de Okimi (Rei Soberano
A sociedade japonesa no período estava dividida em três classes básicas: os uji (nobres, membros dos clãs), os be (homens livres, servos de clãs) e os yatsuko (escravos: os derrotados em guerras e seus descendentes). Os uji ocupavam os cargos de confiança e os altos postos da administração. Os be eram os trabalhadores dos campos e também funcionários especializados, como escribas (a escrita Chinesa estava sendo introduzida no Japão nesta época) e os yatsuko faziam os trabalhos mais pesados, perigosos e degradantes.
   A instituição do Império:
Em 538 d.C., o Budismo chegou até o Japão, trazendo não só alguns costumes chineses e indianos, como principalmente uma prática que não era conhecida no Japão recém apresentado à escrita: os textos filosóficos e dissertações. Carregado de características elitistas, o Budismo logo se transformou na religião dos uji, continuando os be e os yatsuko com o panteão Xintoísta. Por esta época, a autoridade Yamato já era incontestável, mas o sistema de liga ainda perdurava. Em 593, assumiu o trono Yamato a Rainha Suiko, e como seu Regente, foi nomeado o Príncipe Shotoku.
A área de influência central (espécie de capital) Yamato era a região de Asuka, e foi justamente de lá que Shotoku exerceu seus poderes de Regente (provavelmente havia um Regente pelo fato de o Okimi ser uma mulher). 


Shotoku era um budista fervoroso, sendo atribuída a ele a seguinte frase: "Nada é real, somente o Buddha". Ele instaurou definitivamente o Budismo como religião do clã Yamato e portanto da Casa Real. Durante sua Regência também foi construído o grande pagode de Horyuji, em Nara, mas sua maior importância para o Japão é o fato de ele ter sido o homem que idealizou o sistema Imperial. A princípio, o Príncipe elaborou uma constituição composta por dezessete diretrizes básicas, todas galgadas na doutrina de Confúcio, de lealdade e respeito à autoridade. Ele também idealizou uma hierarquização rigorosa dos cargos administrativos, e lançou principalmente as bases do poder divino dos Yamato, dizendo: "Quando receberdes ordens Imperiais, fazei o possível para não desobedecê-las, pois o senhor está ligado ao Céu e o vassalo à Terra".
Em carta ao Imperador da China, Shotoku foi sarcástico ao saudar o outro monarca com a seguinte frase: "Do Filho dos Céus, da Terra do Sol Nascente para o Filho da Terra do Sol Poente...".





É óbvio, no entanto, que Shotoku almejava implantar no Japão o modelo Imperial chinês. No entanto, a única de suas reformas que de fato foi implantada durante sua vida foi a elevação do Okimi a Tenno (segundo a pronúncia honorífica sumera-mikoto), ou seja, Soberano Celestial. Alguns séculos após sua morte, Shotoku foi considerado como sendo uma reencarnação do Buddha, passando a ser o centro do culto popular.
A queda dos Yamato:
Shotoku morreu em 622, de doença. Como não foi nomeado nenhum novo Regente para seu posto, o trono da agora Imperatriz Suiko foi usurpado pelo clã Soga, liderado por Emishi e seu filho Iruka. Afinal, com o fim das pressões no sentido da centralização (pressões que Shotoku havia iniciado), os clãs se sentiram livres para alçar vôo novamente.
Em 643, Iruka mandou assassinar o filho de Shotoku, para evitar um possível golpe. Tal atitude despertou a raiva entre os rivais de Iruka, e em 645, o Príncipe Imperial Naka no Oe se uniu ao chefe do clã Nakatomi e juntos armaram uma armadilha para Iruka, matando-o e a seu pai num banquete. Foi então colocado no poder um novo Imperador, Kotoku, que ficou encarregado de dar continuidade às reformas de Shotoku. Como este não teve êxito, o Príncipe Naka o derrubou e assumiu o trono sob o nome de Tenji. O clã Nakatomi tomou o nome de Fujiwara, tornando-se assim o antepassado de uma das famílias mais influentes da História do Japão.
Primeiramente, a capital foi transferida de Asuka para Naniwa e o período foi batizado de Taika (Grande Mudança). O verdadeiro objetivo dos líderes do golpe era o de recuperar todos os poderes que os Tenno (Imperador) possuíam antes e ainda dar continuidade às reformas propostas pelo Príncipe Shotoku. Nesse aspecto, vários editos foram feitos pelos reformadores. Eles se referiam principalmente ao fim das grandes propriedades privadas (todas as terras ficariam sob o controle do Imperador); os campos de arroz voltariam para as mãos do governo após a morte de quem tem sua posse, para posterior redistribuição; os be eram abolidos, afim das bases de poder dos uji serem eliminadas. Para obtenção de capital, os reformadores abriram estradas novas, criaram um sistema de correios e reformularam o exército. O próprio Príncipe Naka, para dar o exemplo, doou suas terras para o governo, o que na prática era apenas um artifício ideológico, uma vez que ele era o Imperador.
Devido às grandes mudanças pelas quais o Japão estava passando, o Reino Coreano de Silla se aproveitou para atacar e dominar Paekche, até então sob autoridade japonesa. O fato provocou uma guerra entre o Japão e a Coréia, no ano de 663. Consta que nesse conflito, definido apenas em uma batalha, a de Hakusukinoe, o Japão perdeu 170 navios de guerra e mais de 27 mil homens. Com uma derrota tão arrasadora, o império foi obrigado a desistir de suas pretensões na Coréia, além de ficar vulnerável a um possível ataque de forças chinesas. Com receio, o imperador mandou construir fortificações nos principais portos do litoral ocidental do país (nesta época, o Império se estendia por toda a ilha de Shikoku, a maior parte de Kyushu e também a sul, centro, leste, oeste e noroeste de Honshu).
Como a esperada invasão chinesa não aconteceu, a corte se remeteu a enviar missões diplomáticas à China (da dinastia Tang), para importar a cultura e as instituições chinesas de que o Japão tanto precisava.
   O Período Nara:
Antes de 694, o Japão nunca tinha tido uma capital de fato, pois os governantes (antes Reis Yamato, depois Imperadores), mesmo habitando uma região, consideravam como capital nada além do que as paredes do palácio. Quando um Imperador morria, um novo palácio era construído para afastar de seu sucessor as energias negativas ligadas à morte. Também a cada morte de Imperador se seguia um período de instabilidade política e volta das rivalidades entre os clãs. Objetivando acabar com esses problemas, em 694 a Imperatriz Jito estabeleceu uma capital fixa na cidade de Fujiwara-kyo (capital Fujiwara, a cidade do clã Fujiwara, principal aliado e conselheiro do Império). Esta cidade foi construída seguindo o modelo de Chang'an, a capital chinesa, abrigando três imperadores entre 694 e 710.

Entretanto, em 708, a Imperatriz Gemmyo, decidiu novamente transferir a capital, sendo então construída a cidade de Heijo-kyo (a oeste da atual cidade de Nara). Heijo também seguia o estilo arquitetônico de Chang'an, mas era bem maior do que Fujiwara-kyo, abandonada logo após a construção da nova capital. Heijo ficou pronta em 710, sendo a capital da nação até 784. Nestes 74 anos, a estabilidade política foi assegurada no Império. Foi também nesse período que o Japão viveu sua época áurea de poder Imperial, podendo ser comparado ao governo de Otávio quando este assumiu como Imperador em Roma. Ou seja, era forte e indiscutível.
As instituições chinesas haviam sido adotadas apenas nas partes que favoreciam o poder Imperial; nas que o restringiam, haviam sido esquecidas. Talvez o grande erro do Império Japonês tenha sido, entretanto, o de não adotar a tradição chinesa das nomeações para cargos importantes serem feitas por mérito, e não por descendência. Sendo assim, as qualificações do indivíduo não importavam no Japão, mas apenas sua descendência. Desta maneira, o clã Fujiwara assumiu de tal forma a preponderância sobre os demais clãs que apenas seus membros eram indicados para cargos importantes. O país estava dividido em províncias, distritos e aldeias. Os campos eram divididos em lotes e distribuídos aos cidadãos, que pagavam um imposto sobre seu lote. Este sistema facilitava a cobrança de impostos. À aristocracia, bem como aos templos e monges budistas, era permitido possuir grandes lotes de terra e isenção de impostos – medidas que fortaleceram tais classes.
Apesar de o Budismo ser a religião adotada pela Casa Imperial, os imperadores nunca abandonaram os rituais xintoístas tradicionais, e esta prática ajudou os monges budistas na popularização da doutrina, com o Butsu se sobrepondo aos kami. Durante o governo da Imperatriz Shotoku, um monge budista chamado Dokyo conseguiu não só ser hospedado em caráter definitivo no palácio Imperial, como também obteve da Imperatriz o título de hoo, ou Rei da Lei Budista (título destinado única e exclusivamente aos imperadores que abandonasse o trono para seguir a vida clerical). Tal poder nas mãos do monge começou a preocupar o clã Fujiwara, que via nisso uma ameaça de perder seus poderes. Sendo assim, ao primeiro indício de que Dokyo almejava o trono, os Fujiwara conseguiram expulsá-lo para o exílio, onde morreu.
A expulsão de Dokyo fortaleceu de forma irremediável os Fujiwara, detonando uma série de lutas entre a aristocracia e os clérigos budistas. Tais confrontos convenceram o Imperador Kammu e seus conselheiros de que a hora de transferir novamente a capital havia chegado.





Ao contrário do que se possa pensar, a população não vivia muito bem durante o período Nara, pois o Japão foi constantemente assolado nos séculos VIII e IX por epidemias de varíola.  Dentre as grades obras do período Nara, podemos com certeza citar a construção, na própria cidade de Heijo, do grande mosteiro budista de Todaiji, construído em 745, pelo Imperador Shomu, um budista fervoroso. A construção do templo, feito para abrigar uma gigantesca estátua do BuddhaVairocana, seria o núcleo de uma obra maior: o Imperador ordenara, em 741, a construção de um mosteiro em cada província, com um pagode de sete andares, sob os encargos do Estado. Todos estes mosteiros seriam subservientes ao mosteiro de Todaiji, e este estaria unido ao Estado. A construção de Todaiji é o retrato da união do Budismo com o Estado Imperial Japonês.
  O Período Heian:
Devido ao desgaste que as lutas entre a aristocracia e a elite clerical provocaram na corte Imperial de Heijo-kyo, em 784, o Imperador Kammu decidiu-se por transferir novamente a capital do Japão. O monarca chamou seu supervisor de construções, Fujiwara no Tanetsugu, e pediu-lhe que escolhesse um local para a construção da nova cidade. Tanetsugu escolheu Nagaoka, ao norte de Heijo. Imediatamente iniciaram-se as obras, e a capital foi transferida para lá ainda durante sua construção. No entanto, a elite sacerdotal ligada ao templo de Todaiji viu nesta medida uma clara diminuição em seus poderes e, sendo assim, começou a conspirar contra o Imperador e seu supervisor de construções.





Em 794, quando as obras já estavam quase concluídas, Tanetsugu foi assassinado pelos conspiradores. Julgando que o ato condenara o futuro da nova cidade, o Imperador Kammu ordenou a construção de outra capital, muito próxima de Nagaoka (menos de três quilômetros ao norte). Tão logo seu palácio ficou pronto, a cidade passou a ser a nova capital, sendo chamada de Heian-kyo (ou seja, kyo (capital), Heian (paz e tranqüilidade). A cidade seria a capital da paz e da tranqüilidade). A transferência é o marco do encerramento do período Nara, dando início ao período Heian, o último da História do Japão cujo nome está ligado à capital. Na realidade, Heian, que mais tarde, no século XII, passou a ser conhecida como Kyoto (nome atual da cidade), foi a capital do Japão desde 794, até 1868, quando da restauração Meiji. Entretanto, o período não é tão extenso, durando de 794 até 1185 e compreendendo aquilo que seria o declínio da Antigüidade Japonesa, uma vez que o período Nara constitui sua época de ouro.
Heian, bem como as capitais anteriores (Naniwa, Fujiwara, Heijo e Nagaoka), fora construída seguindo o padrão de Chang'an, na China. O estilo da capital chinesa, ao qual fiz menção várias vezes, era simples, ou seja, consistia de ruas horizontais (de leste para oeste) cortando avenidas verticais (de sul a norte).
Além disso, havia uma clara noção proporcional dentro da cidade: dessa forma, existia praticamente duas construções de cada tipo, uma em cada lado (ocidental e oriental) da cidade. A praça onde era construído o palácio Imperial situava-se no norte da cidade, bem ao centro, e era acessada apenas pela avenida principal.
Seguindo tal plano de construção, as cidades possuíam quarteirões bem definidos, e localizar-se dentro dela era muito fácil. No entanto, há uma diferença crucial entre as capitais japonesas e Chang'an. É que a capital chinesa, por se situar em meio ao continente, numa região não muito protegida, era cercada por muralhas, enquanto nas capitais japonesas apenas a praça Imperial (Daidairi) era cercada por muralhas, sendo o restante da cidade protegido apenas pelas montanhas próximas.
Heian não tinha apenas a vantagem (em relação a Heijo), de estar livre da impregnação das lutas entre aristocracia e clero, mas possuía vantagens físicas: era muito melhor abastecida de água, ao ser cortada por três rios. No início, a parte ocupada da cidade era apenas a que constava na planta, ou seja, 4,5km na direção leste-oeste e 5,2km na direção norte-sul. No entanto, aos poucos a população da capital foi aumentando e o povoamento atravessou o rio Kamo, seguindo rumo ao oriente.
Veremos nesta parte do trabalho, os principais acontecimentos da civilização japonesa nos quase quatro séculos de declínio de sua Antigüidade. Poderemos perceber claramente como a autoridade central, inicialmente forte, foi aos poucos se desgastando até ser ofuscada por lideranças regionais.



  O poder e suas conseqüências:
Da fundação de Heian até 858, os imperadores japoneses demonstraram que a transferência da capital dera resultados. Os governantes assumiram tão plenamente suas prerrogativas divinas que conseguiram não só restaurar o poder dos Imperadores do período Nara como também ampliá-los. Tal aumento de poder se deu principalmente pela assimilação ainda maior das instituições chinesas. Foi justamente no século IX que se terminou a implantação do chamado código ritsuryo, ou seja, uma compilação dos códigos Chineses ritsu (penal) e ryo (administrativo), tendo como resultado uma política social muito mais centralizada nas mãos do monarca.
Outro fator que possibilitou o aumento do poder imperial foi o fato de que os monges budistas tiveram sua autoridade extremamente vigiada na nova cidade. Foi permitido a eles construir apenas dois pequenos templos logo na entrada da capital, continuando, portanto, o grande mosteiro de Todaiji a ser o principal centro do poder budista no Japão. 
Com a medida, ao menos da pressão clerical o Imperador Kammu se afastara. É preciso que um ponto fique claro. Embora o governante tenha proibido os mosteiros budistas em Heian (salvo a exceção dos dois acima citados), ele não era um anti-budista. Pelo contrário: Kannu foi um grande incentivador da religião no Japão. Tanto é verdade que enviou dois monges budistas, Saicho e Kukai, para a China, afim de que eles aprendessem novos ensinamentos e tomassem contato com novos textos. Quando retornaram, lhes foi permitido que fundassem mosteiros nas colinas das proximidades da capital. Saicho fundou o mosteiro de Enryakuji, e Kukai o de Koyasan. Nestes mosteiros, os monges treinaram novos discípulos e acabaram por criar uma verdadeira aristocracia. O mosteiro de Enryakuji, nas proximidades de Heian, se tornou o verdadeiro patrono da popularização do budismo no Japão.
A permissão aos monges Kukai e Saicho para fundarem mosteiros nas proximidades da capital gerou pressões dos aristocratas (do clã Imperial e do clã Fujiwara) ligados ao budismo para que recebessem privilégios semelhantes. Sendo assim, após a morte de Kammu, em 806, seu sucessor foi obrigado a liberar a construção de mosteiros budistas nas colinas próximas a capital. Essa medida desencadeou a construção de vários novos mosteiros de parentes do Imperador e dos Fujiwara, cercando novamente a capital com a influência clerical.
  A formação do "feudalismo" Japonês:
É muito comum em filmes, desenhos, romances e até mesmo em aulas de colegial, se ouvir falar em Feudalismo Japonês. No entanto, esta expressão só pode ser utilizada devido à falta de uma melhor. Afinal, o Feudalismo foi um fenômeno ocorrido apenas na Europa ocidental, durante um curto período de sua Idade Média. A denominação está revestida de conceitos que só têm lógicas se inseridos no contexto da época. Para simplificar, podemos dizer que o Feudalismo foi uma evolução da chamada Lei do Colonato, do Imperador Romano Diocleciano, na qual todo o homem que se empregasse numa fazenda ficaria preso à terra e sob responsabilidade do dono dela para sempre, bem como seus descendentes.


O Colonato, com efeito, provocou um esvaziamento gradual das cidades, pois a população começou a se concentrar na zona campestre. Com o aumento das invasão Germânicas, Roma tomou contato com uma tradição desses povos: a Vassalagem. Segundo essa tradição, quando um nobre ou chefe jurava lealdade a outro se tornava seu Vassalo, ou seja, seu guerreiro, tendo a obrigação de ajudá-lo em suas campanhas militares. A Vassalagem foi largamente empregada no Reino Franco (a França Medieval) durante o Reinado de Carlos Magno (final do século VIII e início do IX), e após sua morte, devido à manutenção (desde os tempos do Império Romano) da agora também tradição do Colonato. Este, somado à Vassalagem e sob a influência fortíssima da Igreja Católica, deram origem ao que ficou conhecido como Feudalismo, onde um senhor (Senhor Feudal) de terras era, ao mesmo tempo, responsável por seus servos (presos à terra devido ao Colonato) e devedor de Vassalagem a seu Suserano (devido a Vassalagem), mas sempre respeitando as tradições Cristãs.

De acordo com este resumo sobre o Feudalismo, pode-se perceber que a denominação não tem lógica no Japão, pois este não teve contato com a Vassalagem ou o Colonato, e muito menos com a Igreja Católica (pelo menos na época que estamos estudando, ainda não). No entanto, o que chamamos de feudalismo Japonês foi o que relataremos agora. Quando no final do período Yamato houve o golpe que mudou a dinastia Imperial Japonesa, foram realizadas uma série de mudanças sociais, sendo iniciadas as reformas políticas (o ritsuryo). Destas, a principal foi a transformação de todas as propriedades privadas em terras estatais, como forma de o Imperador retirar o poder dos uji.
Inicialmente, a reforma deu certo. Porém, para garantir o apoio dos uji (membros dos outros clãs importantes), o imperador foi obrigado a conceder isenção de impostos sobre suas terras, mas estas continuavam sujeitas a redistribuição no final de cada geração.
  Aos mosteiros foi concedida também a posse das terras sem sujeição a redistribuição. No entanto, aos poucos os grandes clãs foram pressionando os imperadores no sentido de que eles lhes conferissem o mesmo direito que os mosteiros, e enquanto não conseguiam tal concessão mais e mais membros desses clãs se ligaram a vida monástica, como subterfúgio para não perderem suas terras. Ainda durante o período Nara, a concessão aos uji de não terem que submeter suas terras à redistribuição foi dada. No entanto, a concentração de terras nas mãos de um único proprietário continuava vedada, salvo sob autorização Imperial. Os lotes de terra eram iguais para todos.






Como mencionei, com a autorização Imperial era permitida a concentração da terra nas mãos de um mesmo proprietário e, sendo assim, as famílias mais próximas do Imperador conseguiram, ainda no período Nara, formar grandes propriedades nas diversas províncias, denominadas de shoen. Apesar de terem passado a existir propriedades muito grandes (contínuas ou não), elas não eram de fato propriedades, pois apenas a posse das terras estava nas mãos do clã ou templo, sendo sua propriedade ainda estatal. Sendo assim, quando uma shoen se encontrava abandonada, era freqüentemente invadida por agricultores mais pobres, que tentavam cuidar da terra, como se fosse sua, mas, submetidos a impostos, geralmente acabavam devolvendo-a ao governo. Este, como forma de recompensar a boa fé do agricultor que devolveu a terra, dava a ele uma parte da terra que estava devolvendo. Esta doação era em caráter definitivo: a terra deixava de pertencer ao Estado para pertencer àquele indivíduo. Tais propriedades eram chamadas de shiki. Uma mesma pessoa ou instituição podia possuir um número ilimitado de shiki, sendo em terras contínuas ou não. Com medo de perderem suas terras, os nobres e os mosteiros começaram a de fato ocupar (através de administradores) as suas diversas terras espalhadas pelo país. Os administradores eram empregados do proprietário da shoen, e por seus serviços tinham direito a uma boa participação nos lucros da unidade que cuidavam. Como as shiki que os mais pobres haviam conseguido podiam ser vendidas, os templos e nobres rapidamente as compraram de volta e estas passaram a engrossar mais ainda suas propriedades. Aos poucos, o direito às shoen foi se tornando quase que uma propriedade real; como não precisavam pagar impostos, os nobres mantinham suas vidas nas cidades, os monges ficavam nos mosteiros e ambas as classes eram sustentadas com tudo o que precisassem por suas terras. Estas deixaram de ser, aos poucos, apenas uma fonte de alimentos, tornando-se um seleiro de guerreiros, os bushidan, que lutavam de acordo com as ordens de seus patrões e cuja atuação passou a ser cada vez mais presente na vida política nacional.
Baseado no que foi dito, pode-se perceber que a ruralização do Japão ocorreu de uma maneira diferente do processo europeu. 
Isso porque a maior parte das terras eram descontínuas, e seus senhores verdadeiros não residiam nelas, mas sim nas cidades, principalmente em Heijo e Heian.
Os maiores senhores de terras do Japão eram a família Imperial, a família Fujiwara e o mosteiro Todaiji. Os grandes clãs, bem como os grandes mosteiros, passaram a possuir muitos guerreiros, pois esta era uma forma muito eficaz de se obter poder, ou seja, pela força.
Os Fujiwara, a corte vil:
A ascensão dos Fujiwara está intimamente ligada à ascensão da família Imperial. Com já disse anteriormente, a família Fujiwara antes se chamava Nakatomi, mas depois que o Príncipe Naka no Oe deu o golpe de estado, ajudado pela família Nakatomi, esta mudou seu nome para Fujiwara (campo de glicínias), em homenagem ao lugar onde foi idealizado o golpe. Os Fujiwara se tornaram rapidamente a principal família do Japão, ultrapassando até mesmo a família Imperial. Isto porque, graças ao fato de o Japão não ter adotado o costume chinês de nomear para os cargos importantes quem se destacasse por suas qualidades, os Fujiwara sempre ocupavam tais cargos. Mas, além do fato de o clã Fujiwara ocupar os principais cargos administrativos do Império, a maior razão pela qual ele adquiriu preponderância foi a de conseguir se ligar sempre à família Imperial, pois a maioria das esposas dos imperadores, e consequentemente as mães dos futuros Imperadores, pertenciam ao clã.
Desde cedo, os Fujiwara conseguiram adquirir muitas terras, se tornando um dos principais proprietários do Japão. Com isso, formaram uma extensa base de guerreiros e de apoio político para, a partir de 858, iniciar seu domínio de fato no país. O controle que os Fujiwara exerciam sobre o Imperador se intensificou a partir desta data, pois puseram ainda mais em prática a política que já vinham desenvolvendo desde sua ascensão, ou seja, a política de Regências, que explicaremos agora.
Quando um imperador menor de idade assumia o trono, era nomeado para ele um Regente (sessho). Assim que o imperador alcançava a idade adulta, o sessho era dispensado e o monarca começava a governar de fato. Em 858, os Fujiwara colocaram em prática um costume muito antigo, que desde o Príncipe Shotoku não era utilizado: o kampaku, ou Regente de Imperador adulto. Através dos cargos de sessho e kampaku, a família Fujiwara passou a governar em nome dos Imperadores, baseando-se no fato de serem parentes da mãe do Imperador para que fossem escolhidos como Regentes. Houve, no entanto, alguns imperadores que, por não serem filhos de mães Fujiwara, não aceitaram a Regência. Mesmo assim, sua pressão nem sempre colhia bons resultados. Afinal, esses governantes eram geralmente casados com esposas Fujiwara e forçados a renunciar para que os Fujiwara se tornassem Regentes de seus filhos ainda menores de idade. Para fugir do domínio Fujiwara, três imperadores que não eram filhos de mães Fujiwara e nem aceitaram a renúncia tentaram nomear para os cargos importantes membros de outras família. A medida não deu certo, pois a família mandante assumiu o controle sobre aqueles e depuseram os discordantes.
Os Fujiwara assumiram tanto poder no Japão que Fujiwara no Michinaga, um grande líder do clã, controlou os imperadores que reinaram durante sua vida sem precisar sequer adotar os títulos de sessho ou kampaku. A vida de Michinaga marca tanto o ápice do poder Fujiwara, quanto o declínio definitivo do poder Imperial no período Heian. Após a morte de Michinaga, em 1028, não houve um outro Fujiwara com tanto poder para dar continuidade às façanhas dele, e o poder do clã começou a declinar. Aliado a isto, estava a ação de grupos de bushidan (guerreiros) que atacavam e dominavam as terras dos aristocratas e dos mosteiros. Os administradores das terras eram impotentes contra os verdadeiros exércitos ilegais, formados por clãs de guerreiros que por, não possuírem outra maneira de obter grandes propriedades, lutavam para toma-las à força.
A política Fujiwara de casar as mulheres da família com os imperadores começou a não mais funcionar. Muitos governantes continuavam a renunciar devido às pressões, mas, como não eram casados com mulheres Fujiwara, assumiam eles próprios a Regência do filho. Esta era uma maneira de governar sem ser atrapalhado pela família dominante. Tal sistema de governo criado pelos imperadores se tornou decisivo para a nivelação da Casa Imperial aos Fujiwara. Afinal, além de sacá-los do poder, o imperador que renunciava concedia a si próprio, como Regente do filho, muitas terras. Assim, a família Imperial vinha gradualmente a possuir mais terras do que o clã Fujiwara.
   Os Guerreiros e o caos do fim da Antigüidade:
À medida que os séculos passavam, a descentralização política se tornava maior. Entretanto, o principal ponto de força desse processo foi o fato de que quando os domínios Imperiais se expandiram para o norte de Honshu, o alistamento das pessoas naturais das regiões recém conquistadas não se mostrou eficiente para garantir o controle imperial sobre a região. Sendo assim, já a partir de 792 a defesa das novas províncias tinha sido entregue a particulares com a obrigação de formarem suas milícias e garantirem a paz nas regiões. No entanto, um fato importante que não agradava aos nobres era a idéia de abandonarem a capital e as grandes cidades para residir em províncias distantes. Para evitar isso, eles nomeavam administradores ou delegados para cuidarem de suas terras e, com isso, protegerem a região com o serviço de seus familiares ou de mercenários.
Esta situação contribuiu para a formação de clãs altamente militarizados nas províncias mais distantes da capital. Esses grupos eram controlados pelos delegados dos nobres ou pelo próprio governador da província, que via no saque aos habitantes locais uma excelente forma de fazer fortuna rapidamente. Além dessas pessoas, havia também os nobres, que se estabeleciam na região tornando-se chefes de clãs militares, muitas vezes mudando até o nome de sua família para diferenciarem-se de seus antigos clãs. De início, esta situação fortaleceu em muito as famílias nobres e também os templos, que eram os maiores detentores de terras. Eles, com seus guerreiros, impunham sua vontade sobre as decisões da corte. Não foram poucos os saques e incêndios que ocorreram em Heian como forma de represália dos nobres e templos por não terem seus desejos atendidos. Estas classes utilizaram-se de seus guerreiros para enriquecer muito, desviando tributos e mercadorias imperiais para proveito próprio.
Os guerreiro (bushi ou bushidan) viviam no campo como trabalhadores, e eram encorajados por seus patrões a cultivarem suas tradições militares. Participavam das batalhas sob a liderança dos patrões, em troca de alguma coisa. A principal relação entre o patrão e seus guerreiros era a do hoko (serviço) pelo goon (favor). Ao mesmo tempo que existiam os guerreiros leais aos seus patrões, existiam também aqueles que uniam seu clã (as pessoas pobres também se dividiam em clãs, que eram as famílias (primos, cunhados etc.)) e se voltavam contra as ordens de seus senhores, em busca de enriquecimento e obtenção de propriedades. Com o passar do tempo, o número desses clãs guerreiros se tornou cada vez maior e poderoso.
A primeira região do Japão a ser dominada por um clã guerreiro foi o Kanto, mas posteriormente mais regiões passaram a ser dominadas por essas organizações. A corte Imperial nunca se importou muito com as movimentações dos clãs guerreiros, pois eles freqüentemente se degladiavam entre si buscando dominar um ao outro para assim engrossarem suas fileiras. Entretanto, por volta do século XII, grandes grupos de guerreiros liderados por chefes carismáticos provaram serem capazes de dominar muitas regiões do Japão, e o poder imperial se viu impotente para resolver tal situação. Afinal, sua única alternativa para eliminar um clã seria recorrer ao seu rival, pois o exército nacional japonês agora já não era muito maior do que os guerreiros controlados pela família Imperial. Por essa época, os maiores detentores de guerreiros eram os clãs de Minamoto (o Genji) e Taira (ou Heike) e a família Fujiwara. Grandes clãs guerreiros, como os próprios Minamoto e os Taira se diziam descendentes de algum Imperador. Por exemplo, os primeiros afirmavam ser descendentes de Seiwa, enquanto que os Taira seriam descendentes de Kammu, o fundador de Heian.
A família Imperial já fazia uso do clã Minamoto como uma espécie de exército nacional desde o século X. No século seguinte, suas missões foram realmente indispensáveis para a manutenção da unidade imperial, pois os Minamoto, sob a liderança de Minamoto no Yoriyoshi, venceram sucessivamente a Guerra dos Nove anos e a Guerra dos Três anos contra os clãs guerreiros dos Abe e dos Kiyohara, pacificando as províncias do norte. No entanto, as façanhas militares dos Minamoto, no século XI, proporcionaram a eles não só um aumento considerável em seus contingentes, com a incorporação ao clã dos guerreiros de outras regiões que ajudaram nas campanhas, como também uma forte aliança entre estes e os Fujiwara. Yoriyoshi era um líder que sabia como conquistar a lealdade de seus guerreiros, não só por suas habilidades bélicas mas principalmente pela preocupação com seus homens.
No século XII, o clã Taira foi chamado pelo Imperador para intervir em assuntos da corte. Taira no Kiyomori, líder do clã, entrou na política Imperial em 1118, e isso deixou irados os clãs Fujiwara e seus aliados Minamoto, pois ambos se sentiram agredidos pela intromissão do líder de um clã rival no seu meio de influência. Entretanto, os Imperadores adotaram uma política de neutralização dos ânimos dos clãs, jogando um contra o outro e apoiando ora um, ora outro. Mas, em 1156, um Imperador que abdicara do trono resolveu reclamá-lo novamente. Os clãs se dividiram no apoio a cada um dos pretendentes, e até havia membros da família Fujiwara apoiando tanto um quanto o outro. Os Minamoto também se dividiram, enquanto que os Taira permaneceram neutros na disputa.
Aproveitando as oportunidades, Taira no Kiyomori derrotou todos os seus rivais nas batalhas de Hogen, em 1156, e Heiji, em 1159. Ele matou todas as principais lideranças do clãs Minamoto e reservou para seu clã as principais lideranças japonesas.


Talvez o único erro de Kiyomori tenha sido o de não acabar de vez com os Minamoto e os Fujiwara, nem tampouco matar os dois pretendentes ao trono. Ao contrário, ele lhes permitiu desempenhar papéis de pouca importância dentro da corte e procurou gerar um Imperador com seu sangue, casando sua filha com um dos pretendentes ao trono. Enquanto Kiyomori dava as cartas, os Taira adquiriram propriedades por todo o Japão, tornando seu clã o mais poderoso do país. Entretanto, o clã aos poucos foi abandonando sua tradição militar e se radicando na cidade Heian, onde não era visto com bons olhos pelos antigos aristocratas da família Fujiwara. Já os Minamoto se retiraram para as províncias orientais, que eram as bases de suas forças, e se reuniram sob a liderança dos jovens Yoritomo, seu irmão Yoshitsune e seu primo Yoshinaka.
Na década de 1170, finalmente nasceu o Príncipe Antoku, neto de Taira no Kiyomori. Com o nascimento, dentro de pouco tempo a dinastia imperial japonesa seria a do clã Taira. No entanto, em 1180, Minamoto no Yoritomo, novo líder do clã, acreditou que seu grupo já estava forte o suficiente para realizar uma investida definitiva contra os Taira. Assim, Yoshitsune e Yoshinaka conduziram as campanhas que resultam na vitória da batalha de Ichino-tani, em 1184, que obrigou os Taira a abandonar Heian, e na vitória decisiva na batalha marítima de Dan-no-ura, em 1185, quando Kiyomori e seu neto, ainda uma criança, encontram a morte nas águas do Mar Interior. Os demais chefes Taira também foram mortos ou se suicidaram para evitarem a captura. O restante do clã Taira foi literalmente passado a fio de espada.
Depois de consolidada sua vitória, Yoritomo estabeleceu, em 1192, na cidade de Kamakura, um novo sistema de governo: o Shogunato, que era uma governo militar. O governo Imperial permaneceu na cidade de Heian, porém sem poderes. Foi o fim daquilo que é conhecido como o Japão Antigo.





6.5 – O Período Kamakura:
Após a vitória do clã Minamoto sobre seus rivais Taira, nas batalhas que ficaram conhecidas como Guerras Gempei, Minamoto no Yoritomo, que não participara das batalhas com seus irmãos, ficando no leste do país para organizar suas ações futuras, estabeleceu na cidade de Kamakura um novo sistema de governo batizado de Shogunato, ou Bakufu, ou seja, um sistema de governo totalitário e militarizado. O Shogunato não suprimia a existência do Império, pois não se atribuía nenhuma origem divina. Entretanto, a existência desta nova instituição fez do Império apenas uma entidade figurativa.
   O Shogunato, o Império e os Samurais:
A cidade de Kamakura se localizava numa região muito distante do centro da política imperial japonesa da Antigüidade. Justamente nessas regiões afastadas, como já expliquei, os líderes e clãs guerreiros começaram a ganhar força à medida que a autoridade Imperial demonstrava sinais de fraqueza. Na realidade, talvez um sistema hereditário de poder seja o responsável por tal perda, pois quando uma família se torna a única responsável pelo governo de um país, com o tempo as conspirações e a corrupção (devido ao favorecimento aos amigos e à exclusão dos inimigos) se tornam tamanhos que o sistema fica insustentável. Já num sistema político onde os governantes mudam (inclusive a família dominante), o povo pode ter mais esperança de que, quando o atual governante sair do poder, o sucessor desenvolver uma política inovadora e a situação melhorar. Num sistema Imperial esta hipótese é praticamente inexistente, e com isso as revoltas são mais freqüentes.
O Shogunato era um governo inicialmente semelhante àquilo que foi a Ditadura Militar Brasileira, ou seja, um governo de um general, o Shogun, apoiado por seu exército de bushidan, também ditos samurais (a partir de agora só farei referência aos guerreiros pela palavra samurai). A princípio, este governo pretendia reconstruir o Estado nacional Japonês a partir de uma política extremamente repressora e violenta, mas com uma hierarquia interna muito bem organizada, coisa que jamais acontecera antes. Entretanto, como veremos, com o passar do tempo tal política dividiu ainda mais o já debilitado Japão e favoreceu a real consolidação do "feudalismo" no país.
   Os Hojo e a queda dos Minamoto:
Na realidade, os Minamoto foram muito importantes para a História do Japão não tanto por seus atos de governo, mas por terem implantado no país a nova forma de governo que perduraria até a metade do século XIX. No entanto, o período de poder efetivo do clã sobre o Shogunato foi muito curto.
Em 1185, os Taira foram derrubados, e a isso seguiu-se um período de sete anos de indefinições enquanto os Minamoto terminavam de organizar sua base de poder em Kamakura. O Shogunato só foi implantado de fato em 1192, com o Shogun sendo Minamoto no Yoritomo. Este hábil governante viveu, porém, apenas até 1199, sendo sucedido por seu filho mais velho, que viveu poucos anos e permitiu, em seu governo, a preponderância do clã Hojo, que fora de suma importância durante as Guerras Gempei. Quando o filho de Yoritomo morreu, por volta de 1205, seu irmão assumiu o Shogunato, mas também não viveu muito, tendo morrido em circunstâncias ainda obscuras. Quando esse Shogun morreu, seu filho e único herdeiro era apenas uma criança, assumindo o título de governante sob a Regência, do clã Hojo. Não é preciso dizer que a circunstância desenvolvida no final do Império, ou seja, de os Imperadores terem Regentes mesmo enquanto adultos, se repetiu com os descendentes do clã Minamoto até que, em meados do século XIII, finalmente os Hojo depuseram formalmente os Minamoto e usurparam para si o título de Shogun.
   Os Mongóis e os Kamikazes:
No final do século XII, os Mongóis emergiram do estágio de povos nômades e considerados bárbaros pelos chineses para se tornarem um dos maiores Impérios que o mundo já conheceu. Tal ascensão ocorreu sob a liderança de Gêngis Khan. Em pouco tempo, os Mongóis dominaram a China e boa parte das estepes da Ásia, além de controlarem muitos reinos Turcos, dos quais extraíram sua organização Imperial. Após a morte de Gêngis Khan, a expansão Imperial não parou e chegou até mesmo a entrar em contato com o leste Europeu.
O neto de Gêngis Khan foi Kublai Khan (aquele a quem Marco Pólo visitou em Pequim, de onde trouxe o macarrão), que terminou a conquista da China e não intentava parar sua expansão por ali. O fato é que, em 1268, Kublai Khan enviou uma missão diplomática a Kamakura. A missão estava longe de ser amigável, pois trazia os termos do Imperador Mongol para não declarar guerra ao Japão. Os termos eram os seguintes: o Shogun, juntamente com o Imperador, deveriam renunciar ao governo e se renderem pacificamente aos Mongóis, com a recompensa de que o Shogun seria agraciado com o título de governador do Japão e o Imperador pura e simplesmente afastado. Os Hojo recusaram-se a cumprir os termos dos Mongóis, começando a se preparar para a invasão que certamente ocorreria tão logo Kublai Khan conseguisse reunir forças suficientes.

Em novembro de 1274, 900 navios e mais de 44 mil homens (entre Mongóis, Chineses, Coreanos e Tártaros) aportaram na baía da Hakada, em Kyushu, após já terem conquistado as ilhas Tsushima, pertencentes ao Japão. A luta foi encarniçada, mas os Mongóis, em absoluta maioria, finalmente venceram. Os japoneses que sobreviveram bateram em retirada, deixando a baía sob o controle Mongol. Os invasores foram então dormir em seus navios, para no dia seguinte continuarem a campanha de conquista do arquipélago. No entanto, durante a noite, algo estranho aconteceu: um vendaval fortíssimo pôs a pique toda a esquadra, destruindo desta forma também o exército invasor. Os ventos, ditos sagrados e denominados Kamikazes, foram tidos como obra dos sacerdotes Xintoístas e Budistas, que estavam desde 1268 orando pela proteção do Japão.
Entretanto, os japoneses sabiam que Kublai Khan não se deixaria abater por uma catástrofe, pois seus exércitos não foram derrotados em batalha. Por isso, o Shogun começou a providenciar a construção de uma poderosa esquadra de guerra a fim de enfrentar os invasores ainda nos mares. Toda a região ao redor da baía de Hakada foi fortificada, pois se imaginava que um novo ataque começaria por lá também.
Entre 1275-79, Kublai Khan fez novas tentativas de persuadir o Shogun com propostas diplomáticas de rendição. Entretanto, os generais nipônicos se recusavam a receber os enviados do Imperador Mongol. Sendo assim, os Mongóis se prepararam para um último e derradeiro ataque ao Japão. Formaram um esquadra cinco vezes maior que a primeira (4400 navios) e enviaram mais de 140 mil homens para o arquipélago. Porém, os invasores cometeram um erro: de forma previsível, atacaram novamente a baía de Hakada, onde foram recebidos pela esquadra nipônica (que estava em número muito inferior). Além disso, como os Mongóis haviam dividido suas forças (uma parte saíra da Coréia e a outra da China), eles não estavam com a totalidade de sua esquadra quando se defrontaram com os japoneses. De fato, participava da batalha apenas a armada que deixara a Coréia. Mesmo em minoria, os japoneses conseguiram vencer, mas ficaram debilitados para resistir ao ataque da força vinda da China, que aportou na baía de Hakada cerca de vinte dias depois da primeira batalha. Os Kamikazes novamente agiram: um grande vendaval destruiu toda a esquadra Mongol e pôs fim à segunda investida de Kublai Khan. O Imperador ainda começou a organizar uma terceira investida, mas, como veio a falecer em 1294, não teve tempo de colocá-la em prática.
O fato de por duas vezes os vendavais terem protegido o Japão de invasões estrangeiras criou o mito de que o país seria uma terra protegida pelos deuses (shinkoku), e foi justamente exaltando a memória dos acontecimentos fantásticos das duas invasões Mongóis que os japoneses desenvolveram na Segunda Guerra a tática suicida de jogar o avião sobre embarcações para afundá-las. Os homens que praticavam essa tática também se chamavam Kamikazes.
O Período Muromachi:
Os Hojo conseguiram manter o Japão unido sob sua opressão, controlando a família Imperial de tal forma que determinavam a sucessão do trono e estabelecendo uma sólida base militar graças ao confisco de terras. Porém, nem tudo ia bem com o Shogunato. Afinal, a criação da esquadra e a construção das fortificações na baía de Hakada exauriram as finanças Shogunais, possibilitando que a família Imperial atingisse um status mais elevado no sentido financeiro. Em 1320, o Imperador Go-Daigo, se aliou ao clã Ashikaga, liderado por Ashikaga Takauji, e declarou guerra ao Shogunato. Em 1333, Go-Daigo derrubou os Hojo, pondo fim ao Shogunato, e restabeleceu o poder Imperial absoluto. O imperador, porém, cometeu um erro crasso ao partilhar o poder: se esqueceu de seu poderoso aliado Ashikaga Takauji. O clã Ashikaga não perdoou o "esquecimento", e em 1336 afastou o governante do trono. Ashikaga Takauji se proclamou Shogun e nomeou um Imperador fantoche para a corte de Heian.
No entanto, Go-Daigo fugira e se refugiou em Yoshino (próximo a Nara), mantendo o título de Imperador e, sob a proteção de seus soldados, agindo como tal. Esse fato provocou um cisma na política centralizadora japonesa, pois o centro e norte do país eram governados pelo Shogun, apoiado pelo Imperador fantoche, enquanto o sul do país era governado por Go-Daigo. Esta cisma caracterizou uma época de intensa luta armada, na qual os samurais assumiram suma importância na resolução dos assuntos nacionais. Tal importância concedeu aos senhores regionais mais poder do que eles já vinham obtendo desde o final da Antigüidade. O Japão só deixou de ter dois Imperadores em 1392, quando Go-Daigo morreu e seus filhos não obtiveram apoio suficiente para dar continuidade ao Império do Sul.



Os Ashikaga não eram grandes detentores de terras e, portanto, precisavam confiar em seus aliados e vassalos para terem samurais (samurai quer dizer: "aquele que pega em armas pelo seu senhor") à disposição, o que fortaleceu muito os senhores regionais a ponto de, quando Ashikaga Yoshimitsu (o que destruiu o poder dos descendentes de Go-Daigo) morreu, seus sucessores não conseguiram administrar bem as pressões desses senhores regionais. Estes se fortaleceram politicamente, levando Ashikaga Yoshimasa a abandonar todas as funções de Shogun e conservando somente o título. A descentralização passou a imperar no Japão. Por essa época, os títulos de Imperador e Shogun haviam praticamente se igualado, ambos sem poderes. A única lei era realmente a do mais forte, ou seja, aquele que detivesse mais terras, mais samurais e mais vassalos. Neste Japão sem leis, os senhores mais poderosos começaram a ampliar muito suas propriedades, até chegarem a dominar pequenos estados, que de fato eram seus "feudos". Esses senhores regionais tão poderosos passaram a ser chamados de daimyos, e eram quem de fato mandavam no Japão, embora cada senhor mandasse apenas em seu "feudo". 
No início do século XVI, contavam-se no Japão cerca de 250 desses "feudos", propriedades que, além de muito extensas, constantemente alteradas, por guerras entre os diversos daimyos. Muitas delas deixavam de serem grandes para não mais existirem em poucos anos.
Se compararmos este período da História Japonesa com a História Européia, podemos concluir que, sem muitas diferenças, ele corresponde à Idade Média Central, ou seja, quando na Europa pós Carlos Magno, não havendo quase nenhuma centralização de poder.
  A "descoberta" do Japão:
Em 1542 (as fontes consultadas são controversas entre 1540, 1542 e até 1549, sendo esta última data totalmente descartada com base em outras fontes, como veremos), aportaram no Japão navios portugueses. Obviamente, a expedição fazia parte do processo colonizador do qual Portugal e Espanha foram pioneiros no mundo. Os navios traziam seda chinesa, produtos europeus mas, sobretudo, armas de fogo. Os Portugueses foram recebidos e acolhidos amigavelmente pelo daimyo que os recebeu e sua movimentação causou grande frenesi na população e nos mais poderosos senhores regionais. Sendo assim, os japoneses adotaram uma política de acolhimento aos estrangeiros, mas os impediram de interferirem nos assuntos governamentais da nação que se encontrava esfacelada politicamente.


Aos Portugueses se seguiram os Espanhóis, e com eles, além dos produtos que os primeiros já haviam trazido para o arquipélago, vieram também, em 1549, os primeiros jesuítas, tais como o padre Francisco Xavier. Os religiosos intentavam iniciar no Japão o mesmo processo que estavam realizando na América, ou seja, a destruição das religiões locais e a catequese maciça da população à fé Cristã. Os Espanhóis eram conquistadores muito mais experientes do que os Portugueses, pois já tinham tido contato com dois grandes Impérios Americanos (Incas e Astecas), coisa que lhes obrigou a organizarem estratagemas militares inteligentíssimos para operarem a conquista de tais povos. No entanto, no Japão as circunstâncias se apresentaram de uma forma diferente aos Espanhóis por diferentes motivos. 
Em primeiro lugar, há que se ressaltar que os povos orientais já eram velhos conhecidos dos Europeus, pois pelo menos desde o Império Romano haviam rotas comerciais entre Europa e China, tais como a estrada da seda. 





Sendo assim, os "descobridores" já chegaram ao Japão com uma imagem diferente daquela que tinham dos povos Americanos.
Outro fator importante para o fato de os Espanhóis não terem resolvido empreender uma conquista do Japão foi o fato de os Portugueses terem chegado antes ao arquipélago, e devido a sua mentalidade de trato com os países da Ásia, terem estabelecido feitorias de troca com os povos nativos, fornecendo a eles artefatos europeus, principalmente armas de fogo, o que dificultaria a campanha.
Além desses dois fatores, o que impediu a tentativa espanhola de conquista do Japão foram a chegada de outras potências Européias (tais como Inglaterra e Holanda) à região, e o importante fato do Japão já ter certa experiência tanto em contatos com o exterior quanto a rechaçar ataques marítimos, assim como havia feito por duas vezes com os Mongóis. No entanto, é muito provável que o principal impedimento à conquista Espanhola tenha sido a escassez de minas de ouro e prata no Japão, uma vez que naquela época a principal motivação econômica das potências para realizarem suas expansões era a acumulação de metais preciosos, e para isso, nada melhor do que encontrar uma grande mina, tal como a de Potosí, na atual Bolívia.
Além de colocar o Japão em contato com novas tecnologias e novas correntes de pensamento, a chegada das potências européias ao arquipélago impulsionou o comércio marítimo nipônico, mas, como veremos no próximo item, isto só foi possível devido a uma outra conseqüência da chegada dos europeus, ou seja, o sentimento de necessidade de se recentralizar a política do país.
   Oda Nobunaga e a recentralização do Bakufu:
Desde que o Japão havia mergulhado na descentralização política, vários daimyos haviam iniciado sua política de anexação dos feudos de sua região, com o objetivo inicial de expandirem seus domínios, talvez com o objetivo maior de dominarem todo o arquipélago. A chegada dos estrangeiros fez com que muitos desses daimyos vissem um grande possibilidade de tornarem seu sonho real. Foi justamente o caso de Oda Nobunaga, daimyo de uma região chamada Owari, na costa do oceano Pacífico. Com o sonho sempre declarado de reunificar o país, o daimyo se aliou a outro daimyo de sua região, Tokugawa Iyeyasu, para formar um exército poderoso e começar a por seu plano em prática.
Simpático ao Cristianismo, Nobunaga se aliou aos padres europeus e sendo assim começou a combater os exércitos dos diversos mosteiros budistas. Por ser simpático aos padres cristãos, Nobunaga teve uma grande facilitação na compra de armas de fogo da Europa, sendo assim, formou uma tropa de três mil mosqueteiros, dispostos em três fileiras de mil homens, sendo assim, podiam disparar a cada dez segundos, pois à medida que a primeira fila atirava, a segunda dava um passo à frente e atirava, sendo sucedida pela terceira. Além disso, quem acabava de atirar já começava a recarregar sua arma para atacar novamente dali a trinta segundos. Com uma tropa tão poderosa, em dois anos de campanha (de 1566 a 1568) Nobunaga conseguiu tomar Kyoto, a capital, e sob o pretexto de restaurar os poderes do Bakufu (Shogunato) tornou-se Shogun. No entanto, o Japão ainda não estava totalmente dominado: muitos daimyos ainda precisavam ser pacificados e havia o perigo de uma aliança entre eles contra as forças de Nobunaga. Os europeus conseguiram se manter neutros com relação aos conflitos internos, mas, mesmo assim, mercenários de várias partes da Europa se engajaram em ambos os lados do conflito.
A partir da tomada do poder, Nobunaga passou a assumir a seguinte postura: respeitava a casa Imperial, fazendo-lhe, inclusive, pequenas concessões, desde que esta não o desafiasse. O Shogun também mostrava grande intransigência com a maioria dos mosteiros budistas, por causa de estes serem grandes detentores de tropas e, talvez (trata-se apenas de uma especulação) pelo fato de ele ter se convertido ao Cristianismo (não há dados que comprovem a conversão de Oda Nobunaga, trata-se apenas de uma hipótese). A guerra de Nobunaga contra a mais poderosa corrente budista do Japão, os Ikkoshu, durou oito anos (de 1566 a 1574), quando finalmente o Shogun cercou os religiosos (mulheres e crianças também), na cidade de Nagashima, e ateou-lhes fogo. Mesmo com a eliminação dos Ikkoshu, o Japão ainda não havia sido inteiramente unificado nas mãos do Nobunaga, pois havia muitos daimyos dissidentes.
Oda Nobunaga foi obrigado a abandonar temporariamente suas pretensões de unificação do Japão em prol de organizar os territórios dominados. Nesta tarefa, o Shogun foi igualmente enérgico e cruel, o que aumentou o número de insatisfeitos com seu governo. Em 1582, Akeshi Mitsuhide, um de seus companheiros, o matou e assumiu o poder em seu lugar.
   A Unificação do Japão:
Poucos dias depois que Akeshi Mitsuhide havia assumido o poder, ele foi considerado traidor e deposto. Em seu lugar assumiu o Bakufu um novo Shogun: Toyotomi Hideyoshi. Quando ele assumiu o poder, declaradamente passou a realizar a política de anexar aos domínios do Bakufu tudo aquilo que faltou a Oda Nobunaga, abrindo guerra contra os mais fortes clãs Nipônicos, tais como os Hojo. Em 1590, ele havia conseguido dominar todo o Japão, mas ainda considerava ter um rival muito poderoso mas também seu aliado: Tokugawa Iyeyasu, o antigo daimyo aliado de Oda Nobunaga, e agora seu aliado. Para neutralizar o poder de Iyeyasu, Hideyoshi obrigou-o a se transferir para a cidade de Edo (atual Tokyo), onde ficaria bem distante de Kyoto, que depois de Nobunaga, voltara a ser o centro político do país. Em 1591, o Shogun voltou seus interesses para um projeto muito maior e mais ousado: conquistar a Coréia e a China Ming (dinastia reinante na China da época), para construir um Império pan-asiático. Com esse objetivo, Hideyoshi recrutou mais de 150 mil soldados e os enviou à Coréia divididos em duas tropas. No entanto, a população coreana, recebendo ajuda dos exércitos Chineses, realizou a chamada guerra de guerrilha, derrotando o Japão. Sendo assim, em 1598, o Shogun foi obrigado a assinar com a dinastia Ming um tratado de paz.
Apesar de Toyotomi Hideyoshi ter sido um Shogun marcado por suas campanhas militares, houve outros atos de cunho administrativos que ele tomou que devem ser ressaltados. Primeiro, para evitar os constantes golpes que os samurais aplicavam nos daimyos por ficarem ociosos nos campos, junto aos senhores, o Shogun ordenou que todos os samurais fossem proibidos de executar tarefas de camponeses. Além disso, os obrigou a se transferirem para as cidades mais próximas do feudo de seus daimyos. Para fazer com que sua ordem fosse cumprida, Hideyoshi ordenou o desarmamento de todos os habitantes dos campos.
Além dessa lei de ordem militar, o Shogun tomou outra decisão que se converteu numa lei em vigor até 1872: todas as propriedades agrícolas deveriam calcular seu potencial de produção em sacas de arroz (mesmo que não o produzissem), pagando impostos de acordo com seu potencial de produção de arroz.
  O Período Tokugawa:
Em 1598, Toyotomi Hideyoshi faleceu em seu castelo, em Osaka. Seu filho, Hideyori, era apenas uma criança, e assim foi designada uma junta formada pelos quatro maiores daimyos do Japão, para servir de regente para o filho do Shogun morto. A junta foi bem sucedida dos nos primeiros meses, mas logo começaram a ficar evidentes as rivalidades dentro dela e o interesse de seus membros de ser o novo Shogun. Sendo assim, em 1599, os cinco pegaram em armas uns contra os outros e iniciou-se um guerra civil no Japão. Tokugawa Iyeyasu era de longe o mais poderoso daimyo do país, e por isso, os outros quatro membros da junta, temendo por suas vidas, se uniram numa facção anti-Tokugawa. A guerra se estendeu do final de 1599 até a dia crucial de 15 de setembro de 1600.
Nesse dia, os exércitos de Tokugawa e de seus antagonistas se encontraram na planície de Sekigahara. Como Ishida Mitsunari havia assumido clara preponderância dentro da facção anti-Tokugawa, os demais daimyos apoiaram Iyeyasu na hora da batalha, ajudando em sua vitória e declarando-o Shogun, título que foi reconhecido pela família Imperial em 1603.
  As reformas do novo Bakufu:
Tokugawa Iyeyasu manteve as reformas de Hideyoshi e inovou em algumas coisas, em especial duas: tornou o Bakufu definitivamente uma instituição de caráter hereditário, eliminando as lutas pelas sucessão Shogunal, e separou definitivamente o Bakufu da casa Imperial, segregando esta última a uma vida de aparências e sem poderes na cidade de Kyoto, enquanto o Bakufu se transferiu para Edo. Ao que parece, Tokugawa Iyeyasu viveu até 1616, mas só governou até 1605, quando entregou o título de Shogun para seu filho, Tokugawa Hidetada. Com efeito, os Shoguns Tokugawa foram muito poderosos desde o princípio: sua vontade era imposta com mão-de-ferro a todo o país e seus poderes perduraram por 264 anos, ou seja, até a restauração Meiji, em 1867 (o Shogunato se iniciou de fato em 1603).
É muito provável que Tokugawa Iyeyasu fosse Cristão, pois durante sua vida, mesmo sob o governo de seu filho, o Cristianismo fez vários avanços no país, bem como as relações comerciais do Japão com os países da Europa da Ásia se intensificaram muito, a tal ponto que entre 1603 e 1633, mais de 300 navios mercantes percorreram as águas do mar até os diversos portos Asiáticos e até Europeus. Além disso, a Companhia Holandesa das Índias Orientais se instalou em Hirado em 1609, enquanto a Companhia Inglesa das Índias Orientais se instala na mesma cidade em 1613. No entanto, quando Iyeyasu morreu, seu filho assumiu de fato plenos poderes e sendo assim, muitas coisas começaram a mudar.
   O Japão se fecha para ao Imperialismo Europeu:
Tokugawa Hidetada não pensava como seu pai, tendo concepções muito diferentes a respeito das relações do Japão para com o resto do mundo. Para ele, a presença dos padres europeus no arquipélago representava um grande perigo à cultura local. Sendo assim, confucionista que era, iniciou uma série de perseguições aos Cristãos Japoneses e aos missionários Europeus. Além da questão religiosa, Hidetada estava começando a se tornar impaciente com as pressões das potências européias, em especial Holanda e Inglaterra, no sentido de maiores concessões comerciais. Para ele, se as concessões fossem maiores, o Japão começaria a ser prejudicado pelo comércio com os Europeus, Logo começou, então, a impor sanções contra as companhias comerciais européias. E não parou por aí.
Em 1617, os missionários são expulsos dos Japão e o Cristianismo é proibido, sendo seus praticantes condenados à morte. Esta medida gerou muita revolta por parte dos Cristãos Japoneses, que começaram a se armar e, em 1637, realizaram a revolta de Shimabara, na ilha de Kyushu. Esse levante foi duramente reprimido por Hidetada, sendo mortos mais de 37 mil cristãos. Calcula-se que, após a derrota dos revoltosos de Shimabara, o Cristianismo tenha sido extinto completamente no Japão. Paralelamente a isso, o Japão fechou-se a toda influência estrangeira. Em 1624 os espanhóis são expulsos, e a eles se seguem portugueses e ingleses, bem como os demais europeus. Aos holandeses foi concedida a autorização para que continuem em Nagasaki até 1640, ano em que foram expulsos.
Como já foi dito acima, entre 1603 e 1633 mais de 300 navios japoneses comercializaram produtos com os diversos portos da Ásia, chegando até a Europa. Esse comércio foi interrompido em 1633, pois o Shogun ordenou que nenhum japonês poderia sair do país a partir daquela data. A partir de 1640, nenhum estrangeiro poderia entrar no Japão.
   O período de isolamento:
Entre 1640 e 1792, o Japão ficou totalmente isolado do restante do mundo, nenhum Japonês saiu do país e nenhum estrangeiro entrou. A religião oficial do arquipélago se tornou o Confucionismo e em cima dele foram desenvolvidos os preceitos básicos de que os Shoguns necessitavam tanto para controlar o país, quanto para justificarem esse controle. Dentro desses preceitos pode-se incluir o Bushido (Bushi + Do, ou seja, o Caminho do Guerreiro), a filosofia de combate que passou a reger a vida dos samurais. Segundo essa filosofia, os samurais deveriam ir para a batalha buscando a morte, sem ter nada a temer.

Entre 1792 e 1804, e depois também em 1808, os russos e os ingleses enviam missões ao Japão para exigirem a abertura do país ao comércio europeu. Os enviados não foram recebidos pelo Shogun. O Japão, para impedir novas tentativas, investiu na proteção de sua costa, ameaçando todos aqueles que se aproximassem com ataques a seus navios. Por mais 45 anos o Japão se mantém em total isolamento, até que os Estados Unidos, em 1853, enviarem uma missão diplomática - a primeira missão estrangeira recebida pelo Shogun desde 1640. Chefiada pelo comodoro Perry, a missão tinha o objetivo de estabelecer um contato entre os EUA. e o Japão. Desse encontro começaram a aparecer pressões sutis sobre o Shogun para que o país fosse reaberto ao comércio estrangeiro. 
Com o longo governo dos Tokugawa, seu poder já estava um tanto desgastado, e os americanos, percebendo isto, começaram a incentivar um fortalecimento do Shogunato como forma de conseguirem apoio e assim a abertura do Japão.
No entanto, os Shoguns não se deixaram impressionar com tal postura. Assim, apesar de o porto de Yokohama ter sido aberto para o comércio com os EUA, França, Inglaterra, Rússia e Holanda, as pressões mudam no sentido de fazer com que os samurais (revoltados com os desmandos Shogunais) acreditem que o imperador é a única saída para o país. O Shogun começou a sofrer diversas derrotas dos exércitos de samurais leais ao Imperador, até que no final de 1867 ele entrega seus poderes ao jovem imperador Meiji, Matsu-Hito. Depois da restauração, que se concretiza simbolicamente no dia primeiro de janeiro de 1868, o Imperador se esforça para consolidar seu poder, decretando a separação entre budismo e xintoísmo e substituindo o Buddha como principal figura religiosa pela sua própria pessoa. Ou seja, o imperador volta a ser o centro do culto popular Japonês. Em troca do apoio que recebeu dos países europeus e dos E.U.A., Matsu-Hito abre os portos dos país ao comércio exterior. A partir dessa época, o Japão entra na sua Idade Moderna. No entanto, sua Idade Contemporânea só chegará quando as pretensões de cunho fascista de Hirohito caem por terra com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.




  
  Fonte:http://www.klepsidra.net/klepsidra4/japao3.html

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